Então eu estou postando tão cedo porque eu escrevo de um quarto de hotel em Porto Seguro, começando 04h05 da madrugada, enquanto via A Vida Moderna de Rocko na NickNite (programação especial noturna da Nickelodeon que só passa programas que já acabaram), revisava MUV e lia dois dos meus blogs preferidos. Mas isso está totalmente OK porque eu resolvi há algumas horas que não vou dormir essa noite para a) não perder a hora de manhã e b) dormir no ônibus ao invés de ter uma crise de pânico por pura paranoia e vomitar no motorista, o que poderia acontecer totalmente. Como eu to morta de sono, isso também significa que eu já mandei três latas de refrigerante pra dentro e to cheia de azia até porque não só comi muito pouco hoje como faz muito tempo que comi alguma coisa que não fosse chocolate. É, qualquer um dos meus médicos vai me passar sermão se ler esse post.... Que aliás, é sobre o quê mesmo?
Comecemos do início: como eu fui parar em Porto Seguro pela primeira vez na vida. Vocês já sabiam que eu fui no Rio fazer a prova do vestibular da UERJ no domingo (E ao que tudo indica eu volto em Setembro. Consegui conceito C - 56% da prova - quando me disseram que para jornalismo só se passa com A - 70% da prova. Mas talvez não seja verdade, minha ex-professora de português era realmente o tipo de pessoa que gosta de destruir o sonho dos outros só porque os dela não se realizaram) e estaria voltando ontem, dia 9, para Vitória da Conquista onde resido no momento. Para essa viagem eu sempre pego a conexão da Azul que junta todo mundo em Belo Horizonte antes de nos dirigir para o destino final. 
O primeiro voo foi normal, tirando a parte em que a comissária de bordo ficou revoltada por eu ter pedido 3 Mixes de Castanha, Amendoim e Amêndoas e 3 Pacotes de Bala de Goma (eu paguei pela comida minha filha, e foi praticamente a única coisa que eu comi o dia todo já que eu acordei quase na hora de sair de casa pro aeroporto) e também foi totalmente grossa com o cara ao meu lado que era nada mais nada menos que um juiz de futebol da Costa Rica (raxitég Imagina Na Copa). Então eu pousei em Confins, fui recebida por um monte de repórteres (dizem que eles estavam ali pelas seleções do Uruguai e Argentina, but I know the truth) comprei um livro novo (O Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo) e esperei o segundo voo.
Esse aí até que foi beleza, tirando a parte em que eu não comi o suficiente, porque não pedi tudo que eu queria (acho que a aeromoça me traumatizou de alguma forma) e que quando a gente ia pousar o avião voltou a subir TOTALMENTE DO NADA. Eu tenho pânico de altura o que significa que mesmo que eu adore andar de avião se qualquer coisa der errado, eu surto. Quando o avião voltou a subir eu fiquei tão nervosa que entrei em negação. O treco tinha inclinado 75º e eu disse pra mim mesma que ele ainda tava descendo que a sensação do avião subindo era coisa da minha cabeça. Até o comandante dizer que ia dar a volta na cidade e entrar no aeroporto pelo outro lado porque tinha visibilidade melhor.
Quando o avião parou de subir eu olhei lá pra fora e tava tudo escuro, o que não faria diferença SE EU NÃO ESTIVESSE A SEI LÁ QUANTOS MIL PÉS DE ALTURA EM UM AVIÃO QUE SIMPLESMENTE NÃO QUERIA POUSAR! O piloto avisou que iria tentar pousar novamente e o avião se reclinou pra baixo. Quando as luzes laranja da cidade apareceram eu colei o rosto na janela e comecei a ofegar simplesmente porque eu tenho essa mania de ficar fascinada com coisas que eu já vi um milhão de vezes, como se fosse a primeira vez. O avião continuou a descida aumentando a velocidade. Eu vi o hotel enorme que fica na Juraci Magalhães e uma boate com luzes piscando, então vinha a Lagoa das Bateias, o aeroporto se aproximava cada vez mais... até o avião voltar a subir em um voo rasante e assustador.
Vários suspiros de frustração foram ouvidos à minha volta, mas eu ainda estava com a cara na janela e vi o que aconteceu: não dava pra ver o muro do aeroporto e não tinha luzes na pista. Isso mesmo que vocês leram, um aeroporto de uma cidade que leva aviões com 60 passageiros, inclusive a  noite: não-tem-luzes-na-pista. O avião subiu de novo, e em meio ao chororô de uma criança de colo que levou alguns passageiros aos nervos (Alô, uma criança de 6 meses não tem consciência do que está acontecendo! Se o ouvido dela começa a entupir e desentupir com a pressão, ela chora) o piloto anuncia que a visibilidade no Aeroporto Pedro Otacílio de Figueredo (quem foi esse cara anyway?) está terriblê e que ele vai esperar melhorar antes de pousar. Eu estava lendo Divergente, por isso fiquei totalmente de boas com a situação ao contrário de meus colegas de voo.
Quinze minutos e outra tentativa de pouso depois, a notícia é que se nós continuarmos esperando a visibilidade melhorar o combustível vai acabar o avião vai despencar lá de cima e vai todo mundo morrer, então o jeito é ir pro aeroporto mais próximo, o de Porto Seguro. Eu ouvi chiados, mas comecei a sorrir. A simples ideia de vir pra Porto pela primeira vez por um simples erro de percurso me deixou muito muuuuuuito feliz. O que provavelmente reafirma minha posição de pessoa mais estranha desse planeta.
Já que minha história chegou no momento atual (tirando a parte em que eu não expliquei que a equipe da Azul Linhas Aéreas em Porto Seguro nos deu duas opções: vir para o hotel e resolver o que fazer de manhã ou passar a noite toda na estrada e eu - dã - escolhi a primeira) eu vou - finalmente - explicar porque eu sou a única criatura desse mundo que fica feliz quando um desastre do tipo o seu aeroporto de destino ser fechado acontece.
Mamãe costumava dizer (e eu quero deixar claro que apesar de hoje fazer dois meses que ela se foi eu ainda não me sinto confortável em falar sobre ela no passado) que ela tinha alma de cigana. O que o fato de eu ter morado em 17 casas e 5 cidades nos últimos 16 anos comprova totalmente. E eu herdei essa característica dela, mas de uma forma diferente: eu detesto me mudar, gosto da ideia de ter uma residencia fixa, um lugar onde guardar minhas coisas e para onde fugir quando quiser um lugar seguro, mas, porém, todavia, no entanto, ENTRETANTO, eu adoro viajar.
Eu já falei disso antes, e todo mundo fica meio chocado com meus planos malucos de viagem, mas a verdade é que eu levo eles muito a sério. Eu realmente pretendo "morar um ano em cada capital européia, fazer missões em países do terceiro mundo, conhecer todas as cidades históricas do Brasil, passar férias em todas as ilhas da América Central, aprender a me comunicar em alguma linguagem nativa africana direto da fonte e escrever um livro em cada um desses lugares". E mais do que o destino final, eu amo a viagem em si também.
Ao contrário da maioria das pessoas, desde que eu saiba com antecedência o tempo que vou passar viajando, nada me irrita ou me cansa em relação a viagens, inclusive - ou principalmente - viagens longas. Eu gosto de curtir a paisagem a minha volta, de ter um tempo livre para organizar meus pensamentos, de colar o rosto na janela e imaginar o que está acontecendo nas casas que eu consigo ver. Quando eu viajo em terra, ler me deixa enjoada, mas no avião eu consigo relaxar com um bom livro também.
Outra coisa que eu amo em viajar são as salas de embarque de aeroportos. Tem lugar mais perfeito pra uma mente criativa observar pessoas do que uma sala de embarque de aeroporto? Tem todo tipo de pessoa lá dentro. De trabalhadores estressados a pessoas felizes de férias, de pessoas realizando sonhos até pessoas se despedindo de pessoas que ama e até o Michel Teló (que eu vi no aeroporto de Confins no último sábado). Numa sala de embarque você tem um livro inteiro bem diante dos seus olhos, só precisa passá-lo para o papel.
Acho que era só isso mesmo que eu queria dizer, dividir com o mundo meus problemas e amores. No momento eu estou com a janela do quarto (que dá para uma varanda totalmente linda) aberta vendo o sol terminar de nascer e ouvindo os passarinhos estão cantando. Essa foi a primeira noite na minha vida que eu consegui virar and I regret nothing. Então o meu aeroporto de destino fechou, mas eu acabei vindo parar no lugar onde o Brasil foi descoberto e estou aproveitando cada segundo disso porque eu realmente adoro viajar. Aprendam, a vida é uma viagem e se você não aproveitar todo o caminho, vai acabar percebendo tarde demais que o destino final é lugar nenhum.
Sua escritora preferida que definitivamente precisa de muito café esta manhã, 
G.