Bem-vindos a um outro post sem meu bizarro senso de humor. Outra vez este é um post que está com uma semana de atraso, mas eu estava com tanta coisa para fazer e os posts do "Coisas sobre as quais nunca falamos" são tão difíceis de escrever que eu realmente espero que vocês me perdoem. Como eu disse da última vez, se você quiser um post normal do blog, tem sempre a semana que vem. Eu pensei muito a esse respeito e precisava escrever sobre isso agora. Antes de começar eu tenho dois avisos: este post não busca ajudar pessoas passando por esta situação, é apenas um relato da minha história, sem aquele clichê de que "tudo fica melhor", mesmo que no fim, tudo fique melhor. O segundo aviso, na verdade, é um pedido - e não é a primeira vez que eu peço isso: apesar de estar super animada com a ideia de receber comentários compartilhando histórias e dizendo o que acharam do post, eu realmente peço que ninguém me envie mensagens do tipo conselho ou consolo. Isso não é um pedido de ajuda e eu estou indo muito bem, eu só quero mostrar uma outra parte da minha alma que eu nem sempre mostro.
Apesar de meu eu de 14 anos não considerar isso nunca, hoje em dia eu não me importo muito em falar sobre depressão. Falo até com pessoas que mal me conhecem. Várias pessoas nem acreditam em mim quando eu digo que tenho, o que é até fácil tendo me conhecido recentemente. Um pouquinho mais difícil se você me conheceu ou até mesmo começou a ler o blog dois ou três anos atrás. Eu só fui diagnosticada aos 14 anos e não posso ter certeza, mas que eu me lembre os primeiros sintomas da depressão surgiram aos 9 anos. Quando eles surgem, geralmente a gente associa a outras coisas: existe sempre uma ou outra situação que possa explicar a tristeza profunda, ou uma ou outra doença que pode ser culpada pelas crises de pânico que levam a enjoo. Quando se torna muito frequente, porém, se qualquer pessoa estiver prestando atenção nota que tem algo errado e que não é de origem orgânica.
Essa história de "origem orgânica" foi algo que eu ouvi muito nas 5 vezes que eu fui internada em 2012. Entrava com desidratação, enjoando e sem comer há mais de 12 horas, fazia um exame de sangue e ouvia de volta: "Você não tem nada de origem orgânica". Era um código para com certeza é algo de origem psicológica. Se você bate o olho em uma garota de 14 anos, 1,65 metro e 42 quilos com sintomas de problemas psicológicos, a primeira coisa que você pensa é: anorexia. Mas eu não tinha nenhuma distorção na forma como via o meu corpo, nem provocava vômito, nem queria emagrecer, pelo contrário, ser tão magra me irritava e eu queria ganhar peso e odiava não conseguir terminar uma refeição simples. Por outro lado, eu tinha crises de pânico longas que me faziam vomitar por horas consecutivas e até só ter saliva pra pôr para fora e isso me levava a evitar comer muito, então minha relação com a comida passava longe de ser saudável. Por isso hoje em dia eu levo comida e meu corpo tão a sério. Também é por isso que eu odeio que qualquer pessoa venha dar suas opiniões sobre o assunto. Se você não está na minha pele e nem é um especialista que eu consultei pessoalmente, não é da sua conta.


No último semestre de 2012, minhas crises de pânico começaram a ficar mais frequentes. As crises de choro também. Eu fiz todo tipo de exame possível e impossível. Nenhum dava nada. Mesmo muito abaixo do peso, eu não cheguei a ter nem anemia. Os exames psiquiátricos, por outro lado, eram adiados. Eu me recusava a acreditar que tinha depressão, porque para mim isso significava ser fraca. Graças a Deus, minha resistência foi quebrada aos poucos: eu queria tentar qualquer coisa que me impedisse de ir ao hospital fazer exames de sangue que não dariam em nada todo mês. Os motivos para que me sentisse fraca por ter depressão desapareceram na primeira sessão de terapia. Muito do que eu sentia e do que acontecia comigo há muito tempo começou a fazer sentido e eu pude corrigir muita coisa. Fui encaminhada a um psiquiatria e comecei o tratamento com antidepressivos logo depois.
Eu realmente queria poder dizer que o tratamento deu certo e eu deixei tudo para trás em 2012, mas não foi tão fácil assim. Eu fiz quase 6 meses de terapia e 4 de tratamento com remédio, mas não saí disso de forma correta. O psiquiatra acabou saindo caro demais para o orçamento da família e depois que a psicóloga me deu alta rápido demais, eu acabei parando de tomar os dois remédios que tomava abruptamente. Eu realmente acreditava que estava bem e não tinha motivos para voltar lá. Apesar de ter gostado muito da minha primeira psicóloga, hoje em dia eu fico chateada em pensar em como ela foi irresponsável. Ela me deu alta simplesmente porque "se eu não tinha tempo para a terapia, não era mais prioridade, então eu estava bem", nas palavras da própria.


A princípio parecia tudo normal, mas depois de um tempo eu voltei a ficar profundamente triste com frequência. Meus pensamentos também estavam meio fora de controle. Eu sempre digo que chorei durante o 2º ano do ensino médio inteiro e é uma verdade muito mais verdadeira do que qualquer pessoa acredita. Foram raros os dias letivos do 2º ano em que eu não chorei durante boa parte da aula, apesar de só me lembrar de alguém na sala ter percebido isso duas vezes (as vantagens [???] de ser a aluna quietinha da sala). A situação inteira era horrível e agravada por várias coisas, mas pelo menos eu não tive nenhuma crise de pânico séria (ou seja, a ponto de me levar ao hospital) em 2013, então parecia algum tipo de avanço.
Só que em janeiro de 2014, eu tive a pior das crises de pânico de todas. Fui ao hospital e não adiantou nada. Geralmente quando eu ia ao hospital vomitando me davam Bromoprida na veia, só que um dos efeitos colaterais da Bromoprida é deixar a pessoa que toma agitada, o que sempre deixava minha crise de pânico pior. Voltei pra casa e passei muito tempo na cama, com as mãos dormentes e o coração disparado. Eu ficava fazendo o exercício respiratório que me ensinaram (inspira, conta até três, respira), mas nem isso funcionava. Fiquei assim até a noite, e levei muito tempo para dormir. Passei cerca de 3 dias só comendo uvas, porque qualquer coisa maior me fazia enjoar e eu ficava morrendo de medo de vomitar tudo e ficar com a pressão baixa outra vez. Depois disso, a gente decidiu que eu precisava voltar ao psiquiatra imediatamente. Conseguimos achar só um coberto por nosso plano, bem longe de onde eu morava, mas fomos mesmo assim. Só fiz dois meses de tratamento com esse psiquiatra antes de me mudar de volta para a Bahia.
A última crise de pânico séria que eu tive foi no dia em que minha mãe morreu - depois disso, só algumas que conseguiram ser controladas com os exercícios respiratórios. Eu sinto que a morte dela foi o que me empurrou para sair da depressão de uma vez por todas - e parte muito meu coração que ela nunca tenha podido me ver bem outra vez. Quando eu me mudei para cá, eu acabei conhecendo as melhores psicóloga e psiquiatra do mundo. Elas são o lado bom da minha mudança pra cá, porque é tão difícil encontrar a equipe perfeita para te ajudar a melhorar de uma depressão. Estou em tratamento há um ano e meio e fazendo tudo direitinho dessa vez. Já comecei o descontinuamento do remédio, aos pouquinhos, como tem que ser, mas ainda não estou totalmente livre.
Eu ainda fico triste, mas não é nada que me domina e me tira a vontade de fazer qualquer coisa. Eu continuo me observando e lutando contra certos pensamentos ruins. Às vezes eu até tenho crises de pânico, quando confrontada com coisas que me deixam nervosa, mas elas são tão raras e fáceis de controlar que eu acho que pode-se dizer que não são muito importantes. O mesmo é válido para os dias ruins.
G.