OLÁ, PESSOAS. Eu meio que flopei postando menos do que eu queria postar esta semana, mas hoje eu vim com post importantíssimo: a primeira participação especial do Mês Literário em 2016, da melhor pessoa para dividir momentos de fangirl e escrita, tatii alves. Não vou me prolongar muito antes de deixar vocês com o conto de hoje, mas eu não posso deixar de dizer o quanto eu estou feliz por poder trazer um texto da tatii para vocês e mais importante, ESTE CONTO. Caso vocês queiram continuar acompanhando ela, como eu sei que vão, eu vou lembrar que ela é dona do com a sua licença poética e uma das integrantes da Tertúlia. Agora vamos deixar ela introduzir o próprio conto:

Satélite é algo que pode ser natural ou artificial. A Lua, por exemplo, é um satélite natural da Terra. Satélites giram em torno da orbita de algo. Eu tenho a teoria de que algumas pessoas são satélites, querendo ou não, nós sempre vamos viver em torno de alguém ou algo. Algo que nos fascina tanto que somos sempre atraídos a ela; algo que fazemos força para ir embora, mas sempre estamos voltando; algo que não temos coragem que ir embora de tão belo que é.
Julho é o segundo mês da escrita - depois de novembro - e eu estou escrevendo o meu segundo romance, Kaia & Valentina. Eu decidi que o Quebrei a máquina de escrever seria o lugar perfeito para meu dar o primeiro sneak peak ever da minha história que eu aprendi a amar tanto. Então, com vocês: Satélites, um conto.


Ela era linda. Seu cabelo acobreado se movimentava ao redor do seu rosto, dançando junto com o vento – talvez ela não se entendesse muito bem como ele, pois sempre estava amarrando-o ou fazendo tranças. Eu era apaixonada pelo seu cabelo. E seus olhos. E o formato redondo de seu rosto. Ela era a pessoa mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida.
Já fazia um ano que eu prestava atenção nela; não que eu fosse uma stalker ou coisa assim, mas quando o destino te ajuda a observar alguém: você observa. Todos os dias, ela entrava na livraria e passava as tardes na sessão de livros contemporâneos, ela sempre ia sozinha e nunca parava um minuto para conversar com alguém no celular.
Todos os dias eu fazia a mesma promessa para a minha imagem no espelho:
- Hoje nós vamos falar com ela.
Todos os dias, eu respirava fundo quando ela entrava. Todos os dias, eu falhava e me escondia na sessão de clássicos. O meu coração palpitava como se quisesse correr para fora do meu corpo e para o mais longe possível daquela situação.
*
A primeira vez em que eu me apaixonei por alguém, eu tinha doze anos. Você pode achar que doze anos é cedo demais para saber o que é se apaixonar, mas eu sabia muito bem o que eu sentia. Seu nome era Molly e ela tinha o cabelo mais louro que eu havia visto que contratavam com seus olhos negros e grandes.
Eu não sabia se aquilo que eu sentia era correto, mas eu sabia o que eu sentia por Molly. Eu dava metade do meu sanduiche para ela no intervalo, eu esperava ela todos os dias na porta de sua sala, eu a acompanhava até a sua casa e fazíamos festas do pijama na casa da outra. Eu estava caidinha por Molly.
Até Molly ser a primeira menina do sétimo ano a ter um namorado.
*
Meu coração voltou a palpitar quando eu senti o seu perfume antes mesmo dela aparecer. O claro sinal que tudo aquilo já havia passado de todos os limites possível. Era o cheiro amadeirado com um toque suave.
Assim que o sino da porta da livraria anunciou a sua chegada, o meu corpo inteiro tremeu e as minhas mãos começaram a suar. Aqueles cinco segundos passaram na minha mente como cinco horas lentamente: ela entra e me vê, seus lábios se abrem em um sorriso gentil e ela segue lindamente para a sessão de contemporâneos. E o seu aroma permanece eternamente no meu coração.
Eu não me importava de não ter trocado nenhuma palavra com ela até o dia de hoje, eu só queria ser capaz de vê-la todos os dias. Eu queria ser capaz de imaginar um diálogo diferente entre nós todos os dias, onde eu faria alguma piada boa e ela iria gargalhar com vontade. Eu queria ser capaz de observar todos os livros que ela estiver lendo e procurar tudo sobre ele para eu poder montar os nossos diálogos na minha mente durante a noite.
Naquele dia, ela estava usando um macacão jeans com uma camiseta branca com mangas pretas e seu cabelo está preso com uma bandana. “Drive”, de Glades, começou a tocar suavemente nas caixas de sons espalhadas pela livraria e já era tarde demais quando eu percebi que ela estava vindo na minha direção.
Aquela era a hora.
- Ótima escolha – foi a primeira coisa que passou pela minha mente quando eu vi que ela havia se aventurado na sessão de clássicos.
- Obrigada – ela sorriu e o som da sua vez fez meus ouvidos se arrepiarem. Era exatamente como eu havia imaginado. Talvez eu estivesse encarando demais, pois ela corou e desviou o olhar mesmo sem tirar o sorriso. – Eu venho aqui quase todos os dias e como é a primeira vez que sou atendida por você?
Meu coração palpitou. Minhas mãos focadas em embrulhar tudo o mais rápido possível, mas minha mente estava gritando com todas as possibilidades que os meus diálogos mentais me proporcionavam naquele momento.
- Hoje é o meu primeiro dia trabalhando aqui – volto meus olhos para ela, sorrindo. – Eu ficava lá no mezanino com as obras de segunda mão e clássicos até que o dono me deu esse emprego para que talvez eu começasse a comprar os livros ao invés de apenas passar os dias lendo eles de graça na loja.
Ela riu e a sua risada me dava vontade de abraçá-la ali mesmo – ela jogava sua cabeça para trás levemente como se estivesse aproveitando o máximo aquela risada.
- E você vai usar o seu salário para comprar livros? – Ela perguntou ao mesmo tempo em que me entregou o dinheiro dos livros.
- Bom - eu entrego seu troco e a sacola, - eu gosto de pensar em que agora eu estou sendo paga para ler os livros.
Aquele momento se classificava como um dos melhores momentos da minha vida, eu pensava. Eu sentia o meu corpo todo entorpecido de ansiedade, excitação e medo ao mesmo tempo. Eu precisava saber mais sobre ela. Eu precisava conhecê-la.
- Eu sou Kaia.
Ela olha nos meus olhos e eles formam um sorriso junto com os seus lábios, como se ela tivesse acabado de descobrir um baú de tesouro.
- Valentina.