Eu não sei como isso aconteceu, mas aparentemente as pessoas têm medo de mim. Não medo do tipo "ela parece perigosa", mas medo do tipo "ela tem uma mente muito muito obscura". Não tipo "Meu Deus, ela vai me matar", mas tipo "Ela poderia fazer isso se quisesse". É inacreditável, você passa por uma fase obsessiva com horror gótico, outra fase obsessiva com assassinatos familiares, escreve uma história de terror envolvendo o Inferno e se denomina uma bruxa várias vezes e as pessoas já ficam NOSSAAAAAAAAAAAAAAAAA.
Eu achar que tem um fantasma na minha casa e estar tranquila sobre isso não ajuda muito o meu caso, mas eu preciso compartilhar essa história: Tudo começou algumas semanas atrás quando eu vi um vulto laranja na escada e fiz uma piadinha sobre estar vendo um FANTAsma. Depois disso, eu fico o tempo todo com a sensação de que estou sendo observada, eu sempre ouço barulhos estranhos de madrugada e no começo da semana meu gato ouviu um som no corredor e correu para o outro lado da casa, chorando. Outro acontecimento inusitado é que nos últimos dias eu tenho acordado exatamente 4h30 da manhã sem motivo aparente e com dificuldade para voltar a dormir. Quando eu me levanto para beber água, encontro meu gato parado na janela da sala, olhando para baixo. Meu gato fica no meu quarto a noite inteira, então isso me assusta. Eu vou até onde ele está e olho para onde ele está olhando e vejo apenas carros parados, prédios com luzes apagadas e a luz da entrada do prédio acesa e amarelada como sempre. Normalmente, é logo depois que eu olho pela janela e descubro que não existe um motivo para meu gato estar encarando o lado de fora que... Não acontece absolutamente nada. É como se eu estivesse vivendo em um dos filmes da franquia de Atividade Paranormal.
Existe um monte de explicações plausíveis para o que anda acontecendo comigo - a maior delas sendo paranoia desenvolvida pelo tanto de terror que eu tenho consumido ultimamente -, mas eu prefiro acreditar que é um fantasma ou vários fantasmas. Por que? Porque parece plausível. Ninguém vive a vida que eu estou vivendo há 19 anos e não atrai fantasmas eventualmente. É a ordem natural das coisas. E eu prefiro que seja um fantasma a um sádico qualquer prestes a invadir minha casa e me matar enquanto eu durmo. Com fantasmas eu pelo menos tenho uma chance de piedade.
Agora falando sério, eu passei 19 anos criando minha reputação de inassustável e não foi fácil. Vocês têm noção de em quantas brigas eu já me meti porque eu disse que tinha odiado um filme de terror ou achado ele muito fraco?  Amantes de filmes de terror levam seus filmes muito a sério e eu só sei ficar rindo porque eu sempre espero por mais do que o que acontece. Minha mente é completamente degenerada e a única pessoa que eu encontrei que descobriu quão longe ela pode ir e realmente me assustou foi Anne Rice. Os outros autores continuam falhando miseravelmente nessa tarefa (especialmente Stephen King. Eu reconheço a genialidade dele no gênero, é óbvio, mas eu sou insensível a coisas normalmente assustadoras. Você precisa ir mais longe que isso se quiser me abalar.).
Juntando isso tudo, as pessoas desacreditam a minha humanidade e a minha capacidade de ser assustada. E é por isso que eu resolvi escrever este post, para provar que eu sou, sim, humana e que algumas coisas me assustam. Elas só não têm nada de normal e pouquíssimas são lógicas. Bem-vindos ao especial de Halloween deste ano também conhecido como: LISTA DE COISAS DAS QUAIS EU TENHO MEDO

Eu odeio esse filme. COME AT ME.

1) Inteligência artificial
Esse medo é completamente compreensível se você parar para pensar que se robôs ficarem inteligentes o suficiente eles podem decidir que são melhores que os humanos e destruir toda a humanidade, que já está completamente dependente deles. Além de um possível apocalipse tecnológico, meu medo real é de que criações humanas desenvolvam sentimentos. Sério, se eu fosse confrontada pelo monstro de Frankenstein, ao invés de ter medo dele por ele ser um monstro, eu teria medo de desenvolver apego emocional por ele. Tipo, eu não tenho de que meu computador desenvolva a habilidade de me matar, eu tenho medo de que ele desenvolva a capacidade de criar um vínculo emocional comigo e eu me torne dependente dele emocionalmente. Como vocês devem imaginar, eu nunca consegui assistir Her - cara, eu nunca consegui assistir Eu sou Franky, a novela da Nickelodeon sobre uma android que desenvolve sentimentos, se apaixona por um humano e  (spoiler alert) tem uma filha com ele (eu sei disso tudo graças aos comerciais incessantes).
Eu posso ficar bem em uma sociedade em que minha televisão tenta me escravizar, se ela não tiver sentimentos e eu poder matá-la sem remorsos, mas eu definitivamente não quero viver em um mundo em que robôs dizem coisas como "eu espero que um dia eu possa aprender mais, para me comunicar melhor, isso me faria feliz". AQUILO É ASSUSTADOR. (Não que ninguém queira saber, mas apesar de ter um relacionamento tranquilo com a Siri, da Apple, eu nunca teria um Amazon Echo controlando minhas coisas em casa. Mas isso é porque eu não confio em ninguém chamada Alexa).

2) Altura/profundidade
Esse é um medo racional e possível de enfrentar. Eu tenho medo de cair. Acontece.

3) Seres humanos
E eu nem estou falando das ações destrutivas que os seres humanos tomam diariamente - se você não tem medo disso, provavelmente é um dos monstros. Estou falando diretamente do medo de ser morta ou extremamente violentada por um dos meus iguais. Eu fico confusa quando eu encontro alguém que tem mais medo de demônios do que de um ser humano encontrando uma forma de invadir sua casa. Entendo que a ideia de encontrar com algo tão mais forte que você que você acaba se vendo indefensável é assustadora, mas a ideia de que um ser humano pode fazer comigo as coisas assustadoras que eu às vezes coloco meus personagens para fazer me assusta muito mais (SURPRESA: Eu assusto a mim mesma) do que a ideia de que tem um monstro embaixo da minha cama.
Quando eu assisti It - A Coisa no cinema, eu e uma amiga ficamos falando sobre como, ao encontrar um monstro de filme de terror, a gente não lutaria. O motivo é: Não faz sentido. Se você encontra um ser superior a você que se alimenta do seu medo até te matar pela exaustão, a coisa mais lógica a fazer é desistir. Se é para eu morrer, não vou passar meus últimos momentos exausta. (Uau, eu sinto que essa postagem vai resultar em várias pessoas preocupadas comigo). De outra forma, se um ser humano tenta fazer algo contra você, correr ou lutar é a reação normal.
Então, eu tenho muito mais medo da ideia de que alguém pode encontrar uma forma de destrancar minha porta da frente e me matar com uma tesoura de cozinha do que a ideia de que o Pennywise vai sair do ralo do meu banheiro. E enquanto eu fiquei obcecada por true crime este ano, eu adoro histórias fechadas e antigas que podem ser observadas com a distância que se tem quando se consome ficção. Histórias atuais e com reviravoltas me deixam enjoada. E paranoica, muito paranoica. Então: Eu não tenho medo do escuro, nem vou correndo até minha cama me proteger dos demônios embaixo da coberta, mas eu checo a fechadura da porta pelo menos três vezes antes de dormir.

4) Coisas que me matariam sem que eu percebesse
Vazamento de gás inodoro, doenças silenciosas, balas perdidas tão quentes que assim que elas entrassem no meu corpo, o ferimento se fecharia e hipotermia estão entre algumas das coisas dessa lista. Eu fico em um estado constante de paranoia de que essas coisas estão acontecendo sem que eu perceba e de que eu vou morrer a qualquer minuto.

5) Coisas que me matariam enquanto eu observo a morte chegar sem poder fazer nada
Sangrar até morrer deve ser meu maior medo neste universo e em outros. Morrer afogada também me causa pânico. Sentir veneno tomar conta do meu sistema enquanto minha nêmesis recita lentamente a lista de motivos pelo qual ela resolveu me matar... Eu posso falar para sempre a lista de coisas que me matariam enquanto eu sei que vou morrer. É um dos meus maiores medos, mesmo que seja o oposto do meu outro medo.

6) Jump scares
Toda criança dos anos 2000 tem medo de jump scares por motivos de: e-mails de corrente em que a menina do Exorcista aparecia na tela do computador no meio de vídeos puros e inocentes. Eis o paradoxo: Eu tenho medo de jump scares e tem sites que eu entro tirando o fone de ouvido e afastando o computador, mas quando os ditos cujos acontecem eles nunca são tão assustadores quando minha mente espera. É o que me frustra em filmes de terror, inclusive, eu fico morrendo de medo do que vai aparecer e quando vai aparecer aí acontece e eu olho para a tela tipo: Sério? Sério mesmo? Então o medo real é de sentir medo, mas nunca acontece. Frustrante.

7) Morrer & viver para sempre
A essa altura vocês já perceberam que todos os meus medos são paradoxais. O que eu posso dizer? Eu sou confusa. Medo de morrer é um medo normal e completamente aceitável, porque quem não tem medo de deixar de existir tem medo do que vem depois. Vocês achariam que a minha criação cristã fez com que esse medo fosse deixado de lado, mas aí vem o paradoxo: Quando minha síndrome do pânico deu as caras pela primeira vez, aos 9 anos, grande parte das minhas crises se envolvia em medo de ir para o céu. Eu tinha - ainda tenho - muito medo de morrer e ir para esse lugar pacífico onde eu vou ficar fazendo as mesmas coisas em um estado catártico de felicidade profunda constantemente e o tempo todo (redundância proposital). E eu sempre ouvia como a gente esquece tudo que aconteceu na Terra, incluindo nossa família, amigos e amores para viver em paz no céu. Eu não queria esquecer ninguém! Como você pode viver em felicidade sem saber o que é tristeza? Sem se lembrar dos sofrimentos da Terra? Então basicamente eu tinha medo de morrer, de deixar de existir para sempre, mas eu também tinha muito medo da eternidade como ela me foi prometida.
O que diminuiu as crises de pânico foi um livro que minha mãe leu que falava sobre como no céu a gente ainda vai ter uma rotina, uma casa para cuidar, amigos para visitar, lugares para conhecer, etc. A gente conversava muito sobre isso (minha mãe era 100% responsável por acalmar as crises de pânico que eu tive dos 9 aos 16 anos. Era ela ou vomitar tanto que eu ficava com sono). Hoje em dia os "pensamentos ruins", como a gente chamava ainda vêm, mas em menor quantidade. E eu ainda tenho medo de deixar de existir. E também ainda tenho medo de continuar existindo para sempre e sempre e sempre. Meu cérebro é esquisito.

Eu não vou mais longe que isso ou nós vamos entrar em um território realmente perigoso e tenso, mas uma pequena dica: Quer saber de que eu tenho medo? Concentre-se na ficção que eu escrevo. Está lá. Artistas encontram na arte formas de representar tudo que sentem: Amor, felicidade, depressão, raiva, traumas e especialmente o medo. O que quer dizer que eu escrever a Kat perdendo sangue até quase morrer em Wild Ones, não significa que eu não sinto medo disso - significa exatamente o oposto. E uma pessoa que foi abusada quando criança fazer um quadro representando o abuso não significa que ela apoia isso. Mas eu achei que adultos pensantes compreendessem essa parte.
G.