Se um dia houve um título de post que é muito clickbait, é esse. Mais alguém sente que faz um ano que eu não atualizo o blog quando, na verdade, faz mais ou menos uma seis semanas?? Tanta coisa aconteceu e agora o mundo praticamente está entrando em colapso. Eu não sei como vocês estão se sentindo, mas por aqui, depois de uma semana me sentindo até feliz porque finalmente meus amigos tinham mais tempo para mim (eu sei, eu sou uma pessoa horrível, vocês não precisam me dizer), o desespero finalmente bateu e eu estou em um espiral de ansiedade e profundo desespero que me faz não dormir bem ou dormir demais, me entupir de cafeína e passar horas montando quebra cabeças na internet para simplesmente esvaziar minha cabeça de pensamentos.
O que causou essa mudança foi o fato de que os pais de uma amiga minha pegaram COVID-19 (mas não são casos oficialmente confirmados porque eles não conseguem encontrar testes). O ser humano é um bicho estranho. Eu tenho assistido todas as coletivas do Ministério da Saúde, ouvido sobre todos os detalhes do vírus desde o começo da pandemia, xingado gente que foi xenofóbica e brigando com anti-vacinas burros do caralho desde janeiro, mas foi só quando alguém que eu conheço, que eu abracei, com quem eu já conversei teve a doença que meu cérebro fez "Ah, isso é uma coisa real, que realmente está acontecendo". Não é o grande apocalipse zumbi e nem é uma coisa estúpida, é apenas algo real que pode acabar mal. E não há nada que possa ser feito sobre a realidade da coisa. Combinar isso com o fato de que o distanciamento social significa que eu não podia ajudar de uma forma prática, mas só oferecer apoio emocional, me deixou ansiosa cada segundo dos últimos dias. A boa notícia é que eles estão melhores e eu acho que finalmente posso parar de surtar, mas a verdade é que eu ainda vou surtar muito. E se mais alguém ficar doente, é provável que eu enlouqueça. Então se você está na minha vida e não está se cuidado, saia da minha vida, porque eu não quero sofrer quando você ficar doente.
O que me lembra: Se você tem a minha idade e não é profissional de saúde, você ainda não é elegível para a vacina da gripe, mas está no grupo que precisa se vacinar contra o sarampo. (Só não corre pro posto no meio da pandemia sem ligar antes pra perguntar se tem a vacina, pelo amor de DEUS. Alguns postos não estão vacinando contra o sarampo por causa da campanha de vacina contra a gripe e porque muita gente com COVID passa no posto antes, então liguem, confirmem e então vacinem. Vale a pena ligar para vários postos até encontrar, mas só visite o posto que tem, com todo o cuidado necessário). Caso você não saiba, o sarampo têm sintomas parecido com a COVID-19 como febre acompanhada de tosse e mal estar intenso, com complicações também parecidas com a da COVID-19 como por exemplo pneumonia viral e morte. E graças ao fato de que as pessoas resolveram que vacinação é opcional, o vírus voltou a circular no país, então se vacinar durante essa pandemia se você não tiver certeza de que é vacinado, é obrigação. Vacinação é tão opcional quanto isolamento social durante essa pandemia. Ao deixar de se vacinar, você coloca não só a si mesmo, mas as pessoas mais vulneráveis em risco e pode ser responsável pela morte delas. No caso do sarampo, uma pessoa infectada pode infectar outras 19 pessoas e o vírus fica no ar mesmo depois que você muda de ambiente. E ter sarampo durante uma crise dessas é perigoso e irresponsável, porque você pode ser tratado para a coisa errada (se você tiver sarampo, as pessoas podem achar que é COVID e se você tiver COVID sem a vacina de sarampo podem achar que é sarampo), você pode infectar pessoas já doentes e com imunidade baixa e você ainda pode tomar um leito de hospital de alguém com uma doença não prevenível. Quando você se vacina, você não se vacina só por você, mas por todas as pessoas que não podem se vacinar. E se isso não é o bastante para te convencer, lamento te informar que você é um grande merda. Mas a gente vive em um país onde grandes merdas se tornam presidentes, então ei! Bom pra você, acho.

"Acho que estou indo bem, se eu não pensar no fato de que o mundo está pegando fogo"

Originalmente, esse post era um post da coluna "É só uma fase" onde eu ia falar sobre algumas coisas que fiz para me sentir melhor comigo mesma este ano, como por exemplo me inscrever para fazer parte do tribunal do júri da comarca da minha cidade, me cadastrar no banco de doadores de medula óssea e tentar me tornar uma doula voluntária certificada a partir de um curso oferecido pela prefeitura daqui. Mas o Tribunal de Justiça da Bahia suspendeu sessões de júri, o INCA (Instituto Nacional do Câncer) não respondeu meu e-mail sobre meu cadastro no REDOME (Registro de Doadores de Medula Óssea) provavelmente porque estamos no meio de uma pandemia e é bem improvável que a próxima turma do curso de doulas aconteça antes de setembro ou até mesmo este ano. Falar de qualquer uma dessas coisas parece surreal enquanto o mundo pega fogo. Eu ia falar disso porque antes da pandemia se generalizar, eu estava chegando a um momento da terapia em que eu falava sobre minha infância pré-depressão e o que significa para mim ser uma boa pessoa e a motivação por trás das coisas que eu faço e dos meus interesses nessa vida. Mas aí a pandemia foi oficialmente decretada e agora é tipo: O que sequer significa ser uma boa pessoa no meio desse caos? O que é ser uma pessoa no meio desse caos?
Eu tenho visto muitas ordens circulando pela internet. "Eis a forma certa de trabalhar home office", "Como ser produtivo durante a quarentena", "Coisas para fazer para ocupar o tempo até você poder sair de casa", "Erros que todo mundo comete no home office" etc, etc, etc. E claro, existe um público para isso. Mas aqui, eu estou assumindo que esse não é o meu público. Pelo que eu sei, a maioria das pessoas que lê esse blog normalmente passa muito tempo em casa, mas agora com a proibição de sair de casa, tem sentido vontade de sair mais do que qualquer outra coisa. E a pior parte também é que a maioria das pessoas tem ansiedade e/ou depressão e acabou perdendo muitas das formas que a gente tem de lidar com isso. Fazer exercício é difícil sem uma rotina e um compromisso externo estabelecido, pelo menos para mim. Sair da cama quando o universo todo te manda ficar no lugar é mais díficil. Comer direito é mais díficil para mim quando eu estou preocupada que não tenha comida o suficiente até o fim da quarentena e eu sei que para outras pessoas é mais difícil controlar o impulso de comer tudo. Eu cheguei a ver gente falando qual tipo de arte deveria ser feita durante esse período e como tinha que ser mais distrativa e esperançosa do que caótica e catártica —  o que eu discordo, porque existe público para tudo. A parte mais louca é que eu recebi mensagens de pessoas dizendo que queriam ser como eu e serem tão produtivas quanto eu nessa quarentena, o que é completa loucura porque eu tenho surtado e tomado café o dia inteiro. Mas já que vocês querem saber o que eu faço, cheguei aqui para contar meu grande segredo.

Imagem: The School of Life

Você não precisa ser uma pessoa funcional no momento. Eu juro por Deus. Na imagem acima está a Pirâmide de Maslow — uma das poucas coisas que eu absolvi do ensino médio que eu nem sei e nem quero saber se ainda é válida porque eu uso ela para lidar com o mundo. Existe a hierarquia das necessidades de um ser humano. Na base estão as necessidades fisiológicas: comer, beber água, dormir, cagar, fazer xixi. Acima está a segurança: segurança pública, de emprego, de habitação, de saúde, etc. Depois relacionamentos: família, amizade, conexão com o mundo. Acima disso, o status: reconhecimento, autoestima, se sentir bem na própria pele e logo no topo realizações pessoais. Você não consegue alcançar as necessidades de cima se não tiver as necessidades da base. Ou consegue, mas elas ficam desequilibradas e fáceis de desmoronar. Quantas dessas necessidades têm sido negadas a você no momento? Falando por mim, eu não me sinto segura. Eu posso adoecer, se eu adoecer eu não sei o que acontece. Mesmo um resfriado ou um corte no pé parece arriscado demais no momento. Eu não estou empregada e com a economia despencando ainda mais, eu não vejo a possibilidade de conseguir um emprego. Meus planos profissionais foram jogados para o ar e eu não sei se vou e não acho que vá conseguir juntar todo dinheiro da campanha de Vozes. E se você se sente como eu, eu tenho novidades: Você não precisa se sentir assim e ainda assim conseguir manter a produtividade ativa, a casa organizada, contato constante com os amigos. Você não tem como alcançar suas necessidades psicológicas completamente se não tiver o básico de necessidade básica. Minha pirâmide no momento parece mais o que aconteceria se você tentasse apoiar uma panela de pressão em cima de um pires. Você pode até conseguir que ela não caia pro lado, mas o que sustenta ela não é a força do pires, é o equilíbrio entre os lados da panela de pressão. (Pra quem não entendeu a metáfora: O pires é a necessidade de segurança e panela de pressão é a necessidade de pertencimento e amor. O pires é bem fraco, mas como a panela de pressão  meus amigos  está bem no centro, a coisa toda não desaba).
O que eu quero dizer basicamente é que no momento você precisa sustentar a base. Foca em coisas simples como comer quando sentir fome, beber dois litros de água por dia, dormir quantas horas conseguir, se proteger do frio ou se refrescar do calor, fazer cocô todo dia e etc. Se você ainda estiver trabalhando dentro ou fora de casa, faça o que precisa para trabalhar com segurança, lembrando que sua saúde também está na base, como necessidade biológica. E isso inclui a saúde mental, na verdade. Saúde mental não entra na segunda parte da pirâmide, até porque não sei como é pra vocês, mas a minha saúde mental afeta minha saúde física diretamente, com enjoos, falta de vontade de comer, insônia e etc. Foque no que você precisa fazer para se manter bem. Se ver as notícias é um mecanismo de defesa para você, veja as notícias. Se é algo que te faz mal, não veja as notícias. Se você não consegue trabalhar e ser produtivo, se manter conectado com seus amigos, pergunte a si mesmo: Qual necessidade básica eu estou deixando de suprir? Lembre-se que isso não é uma situação comum. A maioria de nós nunca iria imaginar passar por isso. Eu já tinha desistido do mundo desde 2016 e ainda assim eu estou assustada e desesperada porque eu pensei que o fim do mundo fosse ao menos ser rápido e ao invés disso ele tem sido dolorosamente lento e desesperador. Seus sentimentos são válidos, mesmo que você sinta que está exagerando porque tem sido mais difícil para outras pessoas. Você também está passando por isso e se manter bem é mais do que simplesmente se manter sem o vírus.



Pra fechar, eu separei alguns conteúdos extras só se vocês quiserem fazer algo ou estiverem sentido falta dos meus posts. A playlist acima, que será atualizada, é uma delas. Apesar de estar meio afastada do Quebrei a máquina de escrever porque eu sinto que os posts daqui precisam ser mais longos e isso acaba me atrasando, eu lancei no dia 29 o Set List, minha página do Patreon exclusivamente para artigos sobre música, em inglês. Eu sei que o dólar está caro e pagar IOF todo mês é um cu, mas pra quem quiser apoiar, é a partir de um dólar por mês e você tem acesso a todos os posts e playlists. Me ajudaria demais, especialmente durante essa pandemia do demônio onde conseguir freelas está virtualmente impossível. Além do Set, e da mudança do nome do meu blog em inglês para Queer and other theories, eu postei a continuação de Desacelere, Curinga, no Wattpad hoje à tarde e lá vocês vão saber mais sobre a Elena e podem se preparar para o lançamento de Aqueles Seis Meses, quando eu terminar de escrever o dito cujo. Eu também vou participar do Camp NaNoWriMo a partir de quarta-feira da semana que vem, para tentar terminar de escrever Flor-de-Maio e eu espero conseguir atualizar vocês aqui sobre a história e se não der, vocês sempre podem me ver surtando no Twitter e no Instagram (onde eu posto a maior parte dos anúncios e das novidades). Não esqueçam, por favor, de apoiar e divulgar a campanha de Vozes, que ganhou mais 15 dias corridos no Catarse. Eu postei um vídeo no YouTube semana passada explicando o que acontece se a gente não atingir a meta e eu queria muito ao menos chegar a 2 mil reais (menos de 100 apoiadores!!!) até o fim da campanha. Cada compartilhamento de link ajuda muito!!
Finalmente, eu quero ouvir de vocês: Eu pensei em escrever sobre minha viagem para Los Angeles por agora (sim, sete meses depois), mas senti que seria um pouco fora da curva fazer isso. Ninguém sabe quando vai poder viajar. Por outro lado, escrever sobre isso vai me fazer me sentir melhor, e eu vou poder fazer alguns posts promovidos e talvez conseguir juntar mais um dinheiro. Vocês querem ouvir sobre a minha viagem e talvez começar a planejar as suas?? Também quero ouvir sobre como vocês estão se sentindo no momento. Podem desabafar, sem medo. Aqui é um espaço sem julgamentos e talvez o que você tenha a dizer seja tudo que outra pessoa precisa ouvir. Os comentários aqui do blog também podem ser feitos anonimamente, e eu estou avisando isso mesmo sabendo que tem grande chance de pessoas usarem o anonimato para me xingar. Aproveitem!
Eu devo voltar assim que colocar algumas coisas no lugar, quando quer que isso seja. Fiquem bem e cuidem dos outros!
G.