Quando fez exatamente meia hora que eu encarava a tela, Melissa bateu a porta suavemente e em seguida entrou. Ela estava carregando a pilha de livros que tinha pegado emprestado da última vez que me visitou.
- Oi El, fazendo o quê? – Antes que eu pudesse responder ela continuou – Pergunta idiota, eu sei. Você vive para a revista agora.
Eu suspirei e desliguei o computador.
- Nesse caso, preciso escrever meu testamento porque eu nunca vou conseguir escrever uma história de sete mil palavras até amanhã ao meio dia e isso significa demissão.
- Bloqueio criativo ainda?
Eu me joguei na cama, coloquei um travesseiro sobre o rosto e grunhi.
- Qual é o sentido de ter conseguido esse emprego se eu não puder mantê-lo? As pessoas estavam certas, isso nunca vai dar certo. É melhor eu desistir e esperar o fim da faculdade.
- Ah, nem vem com essa, Elise. O que eu já disse sobre levar o que as pessoas dizem a sério? E, além disso, o fato de um dos seus textos ter chegado milagrosamente à redação da revista em que você sempre sonhou trabalhar é a minha prova de que todos os sonhos se realizam, e você não quer destruir minha fé e impedir de realizar meus sonhos, quer?
Eu tirei o travesseiro de cima da cabeça.
- Eu já disse que apelar pro meu lado empático é covardia.
Ela deu de ombros.
- Você é tão teimosa que às vezes é a única coisa que funciona.
- O que você sugere pra que eu possa salvar meu emprego?
- Vejamos, deixe-me avaliar seus métodos.
Ela colocou os livros – que ainda carregava desde que entrou – em cima da mesinha do computador e se sentou na poltrona do outro lado do quarto.
- Quais têm sido seus métodos para escrever? – Ela disse com ar de pensativa.
- Os mesmos de sempre.
- Onde você tem buscado inspiração?
- Nas mesmas coisas de sempre.
- Nossa Elise, você é a rainha das respostas vagas. Ainda bem que eu te conheço e tenho talento nato para psicologia. – Eu revirei os olhos – O problema é exatamente esse.
- Esse qual?
- O fato de você se focar nas mesmas coisas de sempre. Você costumava escrever sobre seus sonhos, El. Sobre o emprego dos seus sonhos, sobre o relacionamento dos seus sonhos, sobre a vida dos seus sonhos. Acontece que agora você tem o emprego dos seus sonhos, o namorado dos seus sonhos e bem, está morando em Orange County agora depois de ter passado toda a sua vida em uma cidadezinha cinzenta, e eu chamaria isso de a vida dos sonhos. Seus sonhos se realizaram, logo sua criatividade pra escrever sobre eles acabou.
Aquilo fazia tanto sentido que me deixou com medo. Melissa não é a pessoa que mais faz sentido no mundo.
- Ok, você encontrou o problema, agora diga a solução.
- Simples, ao invés de escrever sobre experiências que você quer ter, escreva sobre experiências teve.
- Se eu tivesse vivido algo de interessante pra escrever nos últimos dias, eu já tinha escrito e é impossível eu viver uma experiência interessante em... – Olhei para o relógio – 20 horas.
- Você não ouviu nada do que eu disse? Você mora em O.C., tem um emprego em uma das revistas mais badaladas do mundo, e um namorado completamente incrível, NADA É IMPOSSÍVEL, ELISE! NADA!
- Certo. O que você quer que eu faça então?
- Fique pronta as oito. Eu e você vamos sair por aí aproveitando o melhor que a cidade tem a oferecer.
Eu fiquei boquiaberta.
- Então tudo isso é pra que eu saísse com você pra que você não ficasse entediada?
- Claro que não! Eu apenas uni o útil ao agradável, como sempre. Além disso, eu vou começar a colocar minha nova filosofia de vida.
- Que filosofia?
- Agora eu só vou dizer “não”.
- Você quis dizer “sim”?
- Não, eu quis dizer exatamente o que eu disse. As pessoas supervalorizam o “sim”. Existem filmes, músicas, livros, matérias de jornais, colunas de revistas, episódios de séries, tudo sobre experiências de dizer “sim” para tudo. Mas e o “não”? Porque ninguém nunca tentou dizer “não”?
- Melissa... dizer “sim” para tudo está relacionado a ser uma pessoa mais positiva. O que de acordo com as pessoas que já fizeram essas experiências, traz mais felicidade.
- Ou mais expectativas e decepção. Eu sei o que eu estou fazendo, a partir de agora, eu sou a garota do “não”. E preciso que você me ajude.
- Ajudar?
- Claro! Você acha que eu vou enfrentar essa história de dizer “não” sozinha? Você é minha melhor amiga, tem que ajudar com isso.
Eu suspirei.
- Você está certa. Isso pode ser uma experiência interessante o suficiente para virar uma história.
- Viu? Eu disse. – Ela se levantou e andou em direção a porta – Não se esqueça de detalhar essa conversa e escrever sobre mim na história, ou pagar os direitos autorais da minha ideia.
E é isso, eu resolvi entregar meu emprego e minha primeira história na revista nas mãos da minha louca melhor amiga e escrever sobre as experiências que vivemos quando resolvemos dizer “não” a tudo.
Eu conheci Melissa, quando me mudei para Orange County, Califórina (eu nasci em Blair, Nebraska e o porquê de eu ter saído de lá é uma longa história), há dois anos. Ela era o tipo mais improvável de garota mais popular da escola. Mas ainda assim, era. Ela não era líder de torcida, não era rica, não namorava o líder do time de futebol... Quando eu percebi que a escola girava em torno do que Melissa dizia, eu achei que tudo que sabia sobre o ensino médio nos Estados Unidos estava completamente errado. Ela fez questão de me mostrar a escola no primeiro dia, e dizer os lugares que eu deveria conhecer na Califórnia, mas não de um jeito tipo “eu-conheço-tudo-aqui-e-você-não-então-eu-vou-te-ensinar” e mais de um jeito “é-isso-que-as-pessoas-fazem-quando-gente-nova-vem-pra-cidade-e-como-eu-não-sei-o-que-mais-fazer-eu-vou-fazer-isso”. Melissa sabe atrair pessoas e quando nós nos tornamos próximas o suficiente para que eu perguntasse para ela o porquê de ela ser tão popular ela disse que: “Em um mundo onde as pessoas seguem padrões, fugir dos padrões faz com que você se destaque eu meio ao resto. E é disso que o mundo precisa de pessoas que se destacam em meio ao resto e comandam a maioria com punhos de ferro.” E em seguida completou com: “Além disso, quando você fala demais e sem fazer sentido, as pessoas ficam curiosas e tentam descobrir que diabos você está dizendo”. E é por isso que somos melhores amigas.
Melissa é do tipo que socializa com todo mundo. Que não tem opiniões ruins sobre ninguém. Uma vez ela me disse que acredita que “as pessoas têm exatamente a mesma capacidade para fazer tudo, e, como as pessoas são diferentes, elas se dedicam a coisas diferentes, de formas diferentes e existe o livre arbítrio para que elas possam fazer isso, então não faz sentido reclamar das escolhas de outras pessoas que tem tanto direito de escolha quanto nós. Existe conhecimento do que é certo e o que errado, e se as pessoas preferem fazer o que é errado elas vão sofrer as consequências, e não somos ninguém pra julgar”. Uma vez a professora de sociologia passou um trabalho para escrevermos sobre pessoas que em nossa opinião, mudarão o mundo. Cinco pessoas escreveram sobre Melissa.
Mas o verdadeiro motivo de eu ter resolvido ajudar Melissa nessa nova experiência de dizer “não” para tudo é o fato de que nada nunca dá errado pra ela. Sempre que ela está perto de se meter em encrenca, ela arregala os já grandes olhos castanhos, que de alguma forma conseguem ficar mais escuros quando ela faz isso, e todo mundo a perdoa ou deixa a situação passar e como Melissa é do tipo que convence qualquer um de qualquer coisa, e nunca repete o mesmo erro duas vezes, ela nunca é punida. Não importa a loucura que ela faça.
Depois de escrever a introdução da história, eu fui me arrumar para a festa. O verão é sem dúvida a época das melhores baladas em toda Califórnia. Mas é no inverno que os moradores locais podem aproveitar as festas de verdade, sem todos aqueles adolescentes ricos cujos pais têm casas de verão em toda a Europa e mandam os filhos para Orange County para se livrarem deles durante o verão, lotando as casas de festas, barzinhos e irmandades do condado. É no inverno que uma nova moradora do condado pode conhecê-lo do jeito que os antigos moradores conhecem. Ou pelo foi isso que Melissa disse quando esse inverno começou.
Quando fiquei pronta eu me sentei na poltrona e fiquei esperando até oito horas para sair com Melissa. Eu fiquei lendo uma revista, com consciência das horas que passavam, diminuindo o tempo até o prazo máximo de entrega do texto. Depois de um tempo eu joguei a revista de lado, liguei o notebook outra vez e tentei escrever uma história, mas um dia me disseram que nenhuma história que comece com “Era uma vez uma garotinha...” tem um bom final. Então eu deixei pra lá. O tempo passava de uma forma estranha. Devagar, mas ao mesmo tempo me avisando que cada segundo era menos tempo até a entrega da história. Como eu não tinha nada pra fazer, eu fiquei encarando o relógio como se estivesse numa briga com ele.
Quando o celular tocou, eu quase caí da cadeira. Foi só um bip rápido, o toque de recebimento de mensagem, mas ainda assim me fez dar um salto. Eu fui até a mesa do computador e peguei o celular. A mensagem era de Melissa:

Já tá pronta?

Eu suspirei, voltei para a poltrona e respondi:

Sim. Há quase “olhei o relógio. Fiquei incrédula. Parecia que tinham se passado horas” 5 minutos. E você?

Depois de mandar. Eu fiquei encarando o relógio. Nunca soube que um minuto era tão longo. Então a resposta de Melissa chegou. E era um simples:

Estou. Quer que eu vá buscar você logo?

Sim, por favor.

A resposta levou quase 5 minutos para chegar.

RESPOSTA ERRADA!
Eu revirei os olhos.

Resposta sincera.

Mas não a resposta certa. Você não está no espirito da coisa, Elise.

Ok. Então não venha me buscar.

Já estou indo.

Eu resolvi não responder nada a isso. Enquanto esperava Melissa eu fiquei andando pela casa. Eu divido um apartamento com a filha da filha de uma amiga da minha avó, mas é quase como morar sozinha. Ela não faz bagunça, passa o dia trabalhando e o fim de semana estudando na casa de amigos (ou pelo menos é isso que ela diz) e então quase nunca nos vemos. Geralmente só nos feriados. E eu ainda pago só a metade do aluguel então pra mim é lucro.
Depois de um tempo eu sai de casa e fui observar as luzes da vizinhança começarem a surgir enquanto as últimas luzes do sol desapareciam. É muito calmo na cidade nesse horário e me faz lembrar a minha cidade. Não que eu sinta falta de lá. Mas eu ainda sou uma garota do interior, afinal.
Melissa chegou quase uma hora após a última mensagem. Eu estava na calçada observando as crianças vizinhas chegarem em casa de bicicleta quando o carro dela entrou correndo na rua e parou na minha frente. Tão perto que quase passou por meu joelho.
- MELISSA! – Eu gritei me levantando e limpando a calça jeans – Você não tem cérebro?
Ela sorriu.
- Acho que a resposta seria não.
Eu balancei a cabeça. Não dá pra ficar com raiva dela por muito tempo.
- Idiota.
Ela riu e abriu a porta do carro pra mim. Eu entrei e me sentei ao lado dela e ela saiu da rua, mais devagar porque sabe que eu odeio que ela corra comigo no carro.
- Onde vamos primeiro? – Perguntei.
- Onde a diversão sempre começa... Uma boate.
- Que boate?
- A primeira que não tiver cara de pub irlandês que aparecer na nossa frente.
- Você lembra que só tem 17 anos, certo?
Ela dobrou em uma esquina.
- Hmm.. Não. E para de fazer pergunta cuja resposta você sabe antes que eu gaste todos os meus “nãos” com você.
- Falando nisso, existe alguma regra pra essa filosofia de só dizer “não”?
- Não.
- Não mesmo ou só “não”? – Eu perguntei desenhando aspas no ar.
Ela virou o rosto devagar, ignorando o transito. Depois de passar cinco segundos me encarando, ela simplesmente disse:
- Não.
- Ceerto. Então não tem regras. Desculpa.
Ela suspirou e voltou a olhar o transito. Depois de dois minutos de um silencio estranho, nós passamos por uma boate tranquila, mas ainda assim para maiores de 21 anos. E apesar disso, Melissa parou.
- E essa é nossa primeira parada. – Ela disse e soltando o cinto de segurança.
- Melissa, o que você tá pensando em fazer?
- Aproveitar uma noite tranquila de inverno com minha melhor amiga, não posso?
- Não em uma boate como essa. Não nos próximos quatro anos pelo menos.
Ela ergueu a sobrancelha e disse:
- Agora você diz “não”? - Eu dei de ombros – Ok. Relaxa. Você quer ou não quer viver uma aventura digna de uma história que valha a pena publicar na revista?
- Quero.
- Então calma. Eu estou no controle de tudo.
- “Nada nunca dá errado pra Melissa”.
Ela sorriu outra vez.
- Exatamente. Nada. Nunca. Pronta?
Eu respondi sinceramente.
- Não.
- Agora você está no espirito.
Ela riu e saiu do carro, e eu a segui. Quando fomos tentar entrar na boate, fomos barradas por um segurança enorme do tipo “super-musculoso saído de filmes de comédia”.
- Trouxeram as carteiras senhoritas? – Ele disse com um olhar tão frio e a voz tão grossa que eu senti minhas pernas virarem gelatina na hora.
Melissa nem piscou.
- Não.
Eu tive que me controlar pra não ficar boquiaberta. Encarei Melissa por quase um minuto. Até o próprio segurança ficou meio em choque. Mas o dele durou menos tempo que o meu.
- Nesse caso, se puderem me dar licença... – Ele disse.
- Não. – Ela repetiu, com firmeza.
- O que você disse?
- Que não.
- Não o que?
- Não podemos dar licença.
Eu estava começando a ficar com medo.
- As regras são claras, mocinha. Eu preciso ver sua carteira, ter certeza de que você tem 21 anos, e aí deixar você entrar.
- Primeiro, você quer mesmo me fazer acreditar que só tem gente maior de 21 aí dentro? E segundo, se nós não tivéssemos 21 anos você acha mesmo que estaria negando a minha carteira tão veementemente sabendo que isso faria com que você não me deixasse entrar?
- O que? – Perguntamos ao mesmo tempo.
Ela cruzou os braços e bateu os pés.
- A gente pode entrar ou não? Aonde está o “O cliente tem sempre razão” desse lugar?
- Melissa, do que você tá falando? – Eu sussurrei sem entender mais nada daquilo, mas ao mesmo tempo o segurança disse:
- Entrem. E que eu não perca meu emprego com isso.
Ela só sorriu e disse:
- Não, nunca. – E me puxou pelo braço.
O lugar não me surpreendeu. Era como todas as boates em O.C, ou talvez isso se devesse ao fato de eu estar chocada demais pra prestar atenção em tudo. Melissa continuava me puxando pelo braço através da pista de dança.
- Como você fez isso? - perguntei sobre a nossa entrada nada convencional.
Ela sabia sobre o que eu estava falando.
- Isso aqui é Orange County, minha cara Elise. E é inverno. As boates estão tão vazias que todas as que não ficam nos bairros mais populares, fazem vista grossa as carteiras de identidade falsas mal feitas, dos adolescentes em ferias de inverno que não podem ir pra lugares com neve e depois de cansarem das festas de fim de ano com seus parentes chatos, querem uma noite que bebedeira em uma boate qualquer.
Ela estava fazendo aquilo de falar demais de novo. Mas eu sou como o Pequeno Príncipe quando se trata de perguntas.
- Mas você não mostrou carteira de identidade nenhuma.
- Porque seria perda de tempo e de dinheiro. E eu não tenho um de dois. Agora, a gente pode andar ou você quer continuar parada aqui fazendo perguntas?
Eu nem tinha percebido que tinha parado no meio da pista de dança. Olhei em volta: estava bem vazio se comparado aos lugares que eu fui no verão. Só uma luz leve azul iluminava a pista. Eu gostei disso. Lugares lotados me deixam nervosa. E a leveza do lugar me deixou confiante.
Melissa já estava indo em direção a um bar, depois da pista. Eu a segui.
- Eu pedi dois refrigerantes. - Ela disse sentada em um banco no balcão quando eu cheguei. - E então, viu alguma coisa interessante pra fazer aqui?
Eu me sentei ao lado dela, mas antes que eu pudesse responder que não eu vi dois caras andando na nossa direção. Ok, eu provavelmente não estou sendo justa usando o termo "caras". Eu chamaria meu namorado, Ed, de "cara". A primeira impressão quando eu vi os dois indivíduos do sexo masculino que andavam na nossa direção foi de que eram dois garotos. Não usando garoto como termo depreciativo, mas é que apesar de parecerem duas pessoas de 16, eu não me surpreenderia se eles dissessem que tinham 11 anos. É complicado de explicar.
Como eu achava que responder sim era contra a nossa filosofia eu simplesmente apontei com a cabeça para eles. Melissa sorriu.
- Oi gatinhas. - eles disseram em uníssono quando chegaram. E isso soou tanto como algo do tipo "comedia em que dois garotos impopulares que estão em uma festa pela primeira vez na sua vida e se apresentam pra duas garotas populares e mais velhas, que pretendeu beijar, mas vão acabar levando um fora típico" que eu tive uma crise de risos.
- Eu tenho namorado. - eu disse quando a risada passou. Ou quase passou.
- Mas eu não. - Melissa disse enquanto pegávamos o refrigerante que tinham acabado de entregar.
Os meninos sorriram como se tivessem ganhado o dia. Melissa tem esse poder. Eu só queria saber o que ela estava fazendo.
- Melissa. - Ela disse estendendo a mão.
- Eric. - Disse um deles com um sorriso tímido.
- Bob. - Disse o outro dando um beijo molhado na mão de Melissa.
Mas ao contrario do que a maioria das pessoas faria, o sorriso de Melissa se tornou ainda mais radiante.
- Essa é Elise.
Eu sorri, mordendo o canudo, mas não ousei estender a mão.
- Onde vocês estudam? - Ela perguntou realmente interessada.
Eles disseram o nome de uma escola estilo reformatório fora da cidade. Não me surpreendeu.
- E vocês? - Bob, que parecia ser o líder/sabe-tudo da dupla, disse.
Melissa respondeu e Eric arregalou os olhos.
- O que foi? - Eu perguntei gentilmente.
- A ex-namorada dele estuda com vocês.. - Bob interrompeu.
Não parecia ser verdade, mas Melissa não quis dar continuidade ao assunto e chamou a atenção para ela outra vez:
- Vocês são daqui mesmo?
- Eu sim. - Bob respondeu, mas qual a surpresa não é? - Eric é de Gloucester em New Hampshire.
- A Elise é de Blair, Nebraska.
- Eu conheço Blair. - Disse Eric, sorrindo.
- E eu tenho uma prima em New Hampshire. Não sei em que cidade.
- Legal, vocês tem alguma coisa em comum.. – Melissa disse.
- Não temos não. – Eu disse encarando ela.
Ela só sorriu e tomou um gole do refrigerante. Eu sentia que Melissa tinha uma ideia mirabolante sobre o destino daquele papo. E eu não fazia ideia de qual era.
- Então... – Bob disse sorrindo – O que vocês vieram fazer aqui essa noite?
- Tentar viver uma aventura pra que Elise possa escrever sobre ela para a revista que trabalha. E vocês?
- Nós viemos para uma aventura também. – Ele respondeu e se virou pra mim – Você é escritora?
Eu respondi com um aceno de cabeça.
- Eu acho que nós somos os caras que podemos fazer vocês viverem uma aventura.
A crise de riso voltou e dessa vez mais intensa.
- Obrigada, mas não acho que...
Melissa me interrompeu:
- Digam o que vocês tem em mente.
- Melissa, eu... – Eu comecei a dizer, mas ela levantou um dedo.
Eles dois se encararam e olharam para trás. Eu acompanhei o olhar deles, mas não consegui perceber para onde estavam olhando.
- Então, tem essa boate. – Bob começou falando rápido, mas com pausas - É maior do que aqui. Está tendo uma festa de 16 anos de uma garota da nossa escola lá. Nós não fomos convidadas. Mas nós queremos invadir a segurança da festa. Vocês topam?
Respondemos juntas:
- Não.
Bob sorriu, mas Eric lançou outro olhar para trás. Dessa vez eu consegui ver pra onde ele olhava. Para um grupo de garotos no fundo do salão. Então eles não estavam sozinhos?
- O que foi? Estão com medo? – Bob disse e realmente acreditando que aquilo nos incitaria a aceitar.
- Não. Eu fiz isso na sexta série. – Melissa disse devagar.
- A emoção disso é algo que só se sente uma vez?
- Não. Mas eu realmente não estou com vontade de ir a festa assim.
- Vai ser divertido.
A ansiedade com que ele disse isso me fez olhar para o grupo de garotos outra vez. Então eu fui direta.
- O que vocês estão tentando fazer?
Eric quase deu um salto.
- O que você quer dizer?
- Os garotos lá atrás... – Eu apontei - Vocês realmente acharam que a gente não ia perceber?
Eric olhou pra Bob que respirou fundo.
- Ok. Certo, foi uma aposta.
De novo, a ideia de filme me fez rir. Aquilo era tão bobo. Mas eu estava me divertindo.
- O que vocês apostaram? – Perguntei.
- Que conseguiríamos levar duas garotas mais velhas para a festa. – Disse Eric encarando o chão.
- Porque vocês não disseram antes? A gente pode ajudar nisso.
- Podemos? – Eu perguntei com medo da resposta.
- Não, mas conhecemos pessoas que podem.
- Conhecemos?
Melissa me lançou um olhar bravo, mas ela estava no comando.
- Não, mas queremos viver uma aventura, então vamos ajudar eles. – Ela ia parar por aí - E NÃO PERGUNTEM SE EU ESTOU FALANDO SÉRIO!
Os meninos deram pulinhos.
- Melissa, o que você vai...?
Ela levantou o dedo de novo.
- Você não vai dizer não pra mim e pra eles, vai?
Eu suspirei. A frase era um beco sem saída. Então eu revirei os olhos e disse:
- Não.


Meia hora depois, eu estava no carro de Melissa com Bob, Eric e os dois garotos - Lucas e Arthur - que estavam com eles. Melissa não ia me dizer pra onde estávamos indo, graças ao fato de eu ter feito a pergunta de uma forma errada ("Você vai me dizer pra onde estamos ido?") e ela "ter sido forçada" a dizer não. Eu olhava pra trás a cada quinze segundos encarando tensa os garotos, que conversavam animadamente. Eu estava começando a ter medo do destino daquela noite. Pouco tempo depois de termos saído, Melissa parou. Estávamos em frente a casa dela. Eu lancei um olhar surpreso para ela. Ela sorriu.
- Que foi? Eles precisam de uma atualização de estilo, se querem mesmo encontrar alguém pra sair com eles, não concorda? Não responde.
Eu apenas ri e todos saímos do carro. Os meninos andavam meio suspeitos.
- Não tem ninguém aí? - Lucas perguntou meio hesitante. Perto dele, Bob não parecia mais "o líder".
- Não - Melissa disse sorrindo - Meus pais foram pra Cancun. E meu irmão vai dormir na casa da namorada. O que significa que nos podemos pear umas roupas dele emprestadas.
- E ele não vai reclamar?
Eu não tinha certeza disso, conhecendo o humor do irmão dela (Ele é só o maior lutador de luta greco-romana da historia da nossa escola) mas eu sabia o que ela ia responder.
- Não. - Então ela abriu a porta da frente e entramos na casa.
Ela foi direto pro quarto do irmão dela, apenas me dizendo pra levar os meninos para um tour pela casa e saindo antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Andamos devagar, comigo dizendo em que cômodo estávamos e eles observando tudo como se estivessem em outro mundo. E talvez se sentissem assim mesmo. Quando chegamos a cozinha eu fui fazer sanduíches para eles enquanto eles cochichavam sobre o lugar. 
Enquanto eu fazia a comida, ouvimos um barulho alto que fez os garotos se assuntarem. Eu achei que fosse Melissa, mas em seguida ela gritou. Corremos em direção ao quarto, os meninos na minha frente, apesar de eu não ter mostrado esse lado da casa para eles. Quando eu cheguei lá, tudo aconteceu muito rápido. Num segundo uma sombra estava imobilizando Melissa e no segundo seguinte, a sombra foi derrubada por um dos garotos. Eu fui até Melissa, ver se estava tudo bem enquanto a briga acontecia no chão, mas ela apenas encarava as duas pessoas se engalfinhando totalmente chocada. Quando eu olhei para os garotos eu entendi o porque: quem estava no chão brigando com quem quer que tivesse invadido a casa era Eric. Aquele garoto magricela e tímido que eu tinha acabado de conhecer, mas que já tinha julgado bastante (Melissa vai ficar decepcionada comigo quando ler tudo isso), estava simplesmente destruindo a pessoa com quem estava lutando. Mas ainda assim, a pessoa conseguiu fugir dele e sair pela janela aberta do quarto. Eric correria atrás dele, más Melissa o impediu ficando na frente da janela.
- Ele não vai voltar, Eric.
Eric apenas respirou fundo e esfregou o nariz daquele jeito que as pessoas fazem quando saem de uma luta. Eu andei até Melissa.
- Você esta bem? - Perguntei realmente preocupada. Ela balançou a cabeça - O que aconteceu?
- Eu estava procurando roupas quando esse cara entrou e pediu que eu o levasse até as jóias.
Eu esperei que ela continuasse, mas percebi que ela esperava uma reação. Então eu me dei conta.
- E VOCÊ DISSE NÃO SUA MALUCA? - Explodi.
- Eu levo minhas filosofias de vida a serio, Elise. - Ela respondeu simplesmente, se virando em direção a cama onde uma pilha de roupas estavam.
- MAS ELE PODIA ESTAR ARMADO!
- Eu sabia que ele não estava.
- MAS ELE AINDA PODIA TER MACHUCADO VOCÊ!
- Duvido muito. Ele ficou totalmente atônito com meu "não" e com meu grito em seguida. Foi quase engraçado. - Ela pegou a pilha de roupas - E além disso não era uma aventura que a gente queria viver com esses nãos? - Ela entregou as roupas para os meninos e apontou para o banheiro - Vistam-se. - Disse para eles.
Eu ainda estava gritando:
- UMA AVENTURA, SIM. ALGO QUE TE COLOCASSE EM RISCO DE VIDA, NÃO!
- As melhores aventuras nos colocam em risco de vida. E isso não foi nada demais. - Ela se sentou na cama - Não seja paranóica.
Eu suspirei de frustração, mas não fazia sentido ficar brava com Melissa, por que a) ela sempre faz o que quer e o que acha melhor e b) ela é Melissa. Mas a verdade é que meu maior medo é perde-la - não sei mais como seria minha vida sem Mel - e situações que podem causar isso me deixam fora de mim. Mas no fim das contas, eu apenas me sentei do lado dela na cama e ela encostou a cabeça no meu ombro.
- Nada nunca da errado para Melissa. - ela sussurrou.
Eu suspirei.
- No dia que isso deixar de ser verdade, eu te tranco em uma torre e você só vai poder se comunicar com o resto do mundo por SMS.
- Hmm tudo bem, mas eu quero um bom plano de torpedos.
- Idiota. - Eu disse já rindo.
Ela se sentou direito e mudou de assunto.
- Ei, o que você achou desse ataque de Eric ao invasor?
- Nem sei o que pensar. E você?
- Bem, ele viu uma dama em perigo e tentou ajudar. Mas eu não esperava que ele fosse tão forte e tão bom de briga, apesar de ter a impressão de que ele é mais do que aparentava porque a maioria das pessoas tímidas é assim.
Eu não tinha pensado assim. Talvez tudo na historia dos garotos estivesse sendo tão clichê que eu não esperava nada daquilo.
- Ele surpreendeu todo mundo, exceto Bob. - Comentei.
Melissa balançou a cabeça apenas, pensando em alguma coisa. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa os meninos saíram do banheiro.
Só tenho uma coisa a dizer sobre isso e o que eu tenho a dizer não é surpresa pra ninguém: Melissa estava certa. Total e completamente certa. E sobre tudo. Desde o fato de eles precisarem de uma roupa nova, até a escolha das roupas. Os quatro garotos que eu via a minha frente eram muito menos "ei, estou tentando me destacar, por isso me visto assim" e muito mais "eu sou autoconfiante e não to nem aí pro que vocês pensam sobre mim" o que não era verdade, já que tudo que eles fizeram aquela noite mostravam que se importavam com o que as pessoas pensavam, mas era definitivamente o visual largado que eles deviam tentar. É como Melissa disse uma vez: "Por mais que você se importe, as vezes fingir que não da importância é importante para que as pessoas se importem se você esta se importando e aí sim, se importar pode ter alguma importância" - eu só entendi essa frase depois de olhar para os garotos vestidos como estavam. Sem aquele esforço todo pra se destacar, eles pareciam mais interessantes. Muito mais. Eu admito que se não tivesse namorado, me aproximaria deles se eles estivessem vestidos assim desde o inicio.
Melissa sorria.
- O que vocês acharam?
- Parecem as roupas que eu uso em casa. - Lucas disse dando de ombros.
- É, eu deduzi isso. - Melissa disse prestando atenção em cada detalhe do visual deles - Vocês deviam se vestir assim na rua também. Se vocês de sentem confortáveis assim..
Eles balançaram a cabeça.
-...Então vamos para a festa.
Saímos da casa - não antes de Melissa conferir se todas as janelas estavam fechadas, enquanto os meninos comiam os sanduíches que eu preparei na cozinha - e fomos direto para a festa. Bob indicou o caminho, já que era o único que o conhecia, então eu me sentei no banco de trás com os garotos. Quando chegamos a boate em que a festa acontecia, eu esperava outra cena como aquela que aconteceu na boate anterior para que a gente pudesse entrar, mas nem isso aconteceu porque o segurança da noite, era o guarda costas do pai de Melissa, que estava em um "emprego de inverno". Então aqui vai o dialogo que aconteceu quando chegamos a porta de entrada.
- Oi Mel, não sabia que era convidada. - Rashid - o segurança árabe - disse.
- Oi Rashid.. é porque.. na verdade.. nós não fomos.
Ele ergueu a sobrancelha.
- Não?
- Não.
- Então o que faz aqui?
- Eu e Elise estávamos em uma boate, quando conhecemos esses garotos que conhecem a aniversariante e queriam vir para a festa, mas não foram convidados. Mas eles apostaram com os outros que conseguiam trazer duas garotas para a festa e aqui estamos.
- Mas se vocês não foram convidados, como pretendem entrar?
- Burlando a segurança, ué.
Se ele ficou surpreso, não demonstrou.
- Você sabe que não posso fazer isso. - disse da forma mais dura que conseguiu. O que não era muita coisa, já que ele é só um dos vários homens que não conseguem dizer não a Melissa.
- Eu sei que você não deve fazer isso. Mas eu também sei que tem dezenas de convidados aí, e que ninguém notaria se nós seis entrássemos.
- É Melissa, mas... - Ele já estava quase cedendo.
- Por favor? Nós fomos quase assaltados essa noite e se não fosse por Eric, eu podia estar seriamente machucada agora. Então se você não quiser fazer isso por mim, faça por meu salvador. Por favor.
Ele estava meio constrangido quase.
- Tudo bem. Mas tomem cuidado, por favor!
Melissa sorriu e beijou a bochecha dele.
- Claro! Muito obrigada Rashid, você é o melhor!
Quando entramos na festa, eu olhei pra trás e percebi que Rashid estava totalmente vermelho.
- Certo. - Melissa disse, já lá dentro, concentrada - Vocês dois. - Ela apontou para Lucas e Arthur - Podem aproveitar a festa, mas encontrem com a gente aqui, as 23h para o cumprimento da aposta, está bem? - eles concordaram e saíram - Agora, eu fico responsável por Bob e você por Eric e se precisar de alguma coisa, SMS, ok El?
Ela não esperou uma resposta e saiu. Eu quis ir atrás dela e dizer um não, mas o olhar ansioso de Eric me fez não ir. Eu devia isso a ele afinal.
- Siga-me. - Eu disse e me enfiei na aglomeração de pessoas, com Eric logo atrás de mim.
Aquele era exatamente o tipo de festa em que eu não queria estar. Muita gente, bebida e até drogas. Só um bando de adolescentes usando coisas para se sentirem bem, quando na verdade não é isso que acontece. Melissa concordava comigo nesse aspecto, mas como ela não julga as pessoas se sentia mais confortável que eu ali. Eu estava simplesmente com vontade de respirar.
Andei através da pista de dança até um palco, onde provavelmente deveria estar tendo um show ao vivo, mas não estava acontecendo. Me sentei e Eric se sentou ao meu lado.
- E então... Vê alguém interessante?
Ele olhou em volta um pouco tenso, e em seguida olhou pra mim por um tempo e então balançou a cabeça, negativamente.
- Ok. – Eu disse suspirando. Eu também não via ninguém interessante ali. - Tá, talvez se eu te conhecesse melhor eu conseguiria ter uma ideia do tipo de garota que seria a certa pra você... – Ele ajeitou a postura e balançou a cabeça. Ele ia começar a dizer algo, mas eu interrompi – Porque você não começa falando sobre onde você aprendeu aquelas técnicas de luta que você usou contra aquele bandido.
Certo, isso mostrou desespero, mas a curiosidade já estava acabando comigo aquela altura. Ele riu.
- Ah, é a história de sempre. O garoto magrelo sofre bullying e começa a fazer aulas de luta. Só que no meu caso, funcionou.
- Ah... – Eu disse enquanto olhava bem pra ele.
Prestando bastante atenção, ele não era tão magrelo assim. E eu não tinha percebido que a voz dele era tão intensa. Ou que os olhos dele eram tão verdes. Mas eu só estava divagando.
- Esse é o tipo de talento que você devia exibir mais quando conhece as pessoas.
Ele sorriu apenas.
- Mas então, fale mais sobre você...
- Ah, eu sou só um garoto tímido que estuda em uma escola rígida e que está tentando aproveitar o inverno em Orange County.
- Não, você não é só isso. Melissa diz que pessoas tímidas são sempre muito mais do que aparentam ser. Eu concordo com ela no diz respeito a você. Conta sua história. Começa com o porque você de você ter New Hampshire.
- Meu pai foi transferido.
- E...?
- E a minha mãe nos deixou por não querer abandonar a cidade, então meu pai me colocou nessa escola e simplesmente desistiu de criar eu e a minha irmã mais velha.
- Ah, eu sinto muito...
- Não sinta. Eu tenho certeza de que você tem esse tipo de história... Todo mundo que vem parar em The OC tem.
- Você está certo. – Eu disse – Assim como a maioria das pessoas que vem do sul para Los Angeles está em busca de um sonho.
Ele riu.
- Exatamente.
- Mas enfim, fale mais sobre o seu dia-a-dia.
- Hmm, eu estudo. E quando estou em casa, eu passo o dia no computador.
- Não surpreende.
Ele riu e eu acompanhei a risada. Nesse momento Melissa surgiu vinda da pista de dança e se sentou ao meu lado.
- Ufa, foi difícil, mas eu consegui. – Ela disse respirando fundo.
- Achou uma garota para Bob? – Perguntei.
- Ah, sim. Aqui tem várias garotas com baixa autoestima suficiente pra sair com Bob, ou com qualquer outro garoto que possa aumentar sua autoestima.
- Não entendi. – Eric disse parecendo realmente confuso.
- Nem tente. – Eu disse.
- Eu quis dizer, - Melissa começou – Que quando duas pessoas cuja autoestima está um pouco desgastada saem juntas, elas podem perfeitamente ajudar uma a outra a recuperá-la.
- Ah, tá tudo explicado agora. – Eric disse quase irônico.
Melissa ignorou.
- Mas e vocês? Porque não estão procurando garotas? – Ela olhou pra mim – Vai dizer que... – E então ergueu a sobrancelha e deixou a insinuação flutuar pelo espaço.
Eu quase bati nela, mas controlei o instinto.
- Ah não... Só estávamos conversando pra que eu descubra que tipo de garoto ele é e descobrir a qual o tipo de garota pra ele.
- Isso é simples. Eric é o tipo de garoto que gosta de se manter fora do radar pra que ninguém perceba o cara que ele é, porque ele tem medo de se destacar. E é por isso que eu coloquei você pra procurar alguém pra ele. Você sabe como é isso...
- Ok, como você sabe tudo isso? – Eric perguntou a interrompendo.
- Eu prestei atenção. – Ela disse simplesmente. – Você não precisava fazer parte dos garotos excluídos. Você não precisava ter se envolvido em aposta nenhuma. Você não queria ter ido pra aquela boate. Você só fez porque fazer parte desse grupo de garotos é mais confortável pra você do que ser popular e ter todo mundo prestando atenção em você.
- Você podia ser psicóloga. – Ele disse surpreso.
- Tem muitas coisas que Melissa poderia ser. – Eu disse – Mas depois de tudo isso, o que você acha que Eric deveria fazer pra encontrar uma garota?
- Se é isso que ele quer mesmo, ele pode simplesmente entrar na pista de dança e puxar papo com qualquer garota desacompanhada.
- Não é isso que eu quero. – Ele disse depois de um tempo.
- E eu não queria estar aqui. – Eu disse olhando Melissa.
- Então vamos sair, ué. Ainda temos muito para fazer essa noite.
Nós três não dissemos mais nada e nos levantamos para sair. Foi difícil desviar de tanta gente sem nos perdemos, mas chegamos juntos à saída. Só que quando chegamos lá. Um casal estava se agarrando na frente da porta.
Se eu tivesse prestado atenção, eu perceberia que Melissa congelou atrás de mim. Se eu tivesse prestando atenção, eu perceberia que Eric segurou meu braço. Se eu tivesse prestado atenção, eu veria a tatuagem com a letra J – de Jamie, a mãe dele - no pescoço do cara que estava na porta. Mas tudo que eu queria era sair dali então eu simplesmente fui até o casal e disse:
- Com licença, por favor.
E então tudo aconteceu muito rápido: Primeiro, eu reconheci Ed, meu (EX) namorado, como o garoto do casal. Em seguida, Eric disse algo como “Alice!” e logo depois, eles estavam se socando e a festa inteira tinha parado para acompanhar isso. Melissa se colocou no meio.
- ERIC, NÃO!
Eric o segurou pelo pescoço.
- Elise, eu devo parar?
Melissa se afastou. Ela olhou pra mim, e sabia o que eu ia responder. E a resposta foi bem simples:
- Não.
E foi aí que a policia chegou.

Pra ser sincera, alguma parte de mim achava que a noite ia terminar na delegacia de policia. Eles somente conversaram com a gente sobre ser errado invadir festas e blá, blá, blá, mas ainda assim ser levada até a delegacia era uma experiência memorável.
Quando eles terminaram de falar, Eric e Ed seriam buscados pelos responsáveis, mas o resto estava liberado. Mas eu ainda precisava falar com Eric então fiquei, enquanto Melissa me esperava do carro.
- Como você está? – Ele perguntou na entrada da delegacia tranquilamente.
- Bem. Graças ao seu ataque eu pulei a parte da raiva, e não estou triste. A questão é, porque você teve aquele ataque.
- Lembra quando vocês falaram sobre a escola e eu fiquei meio chocado? – Eu concordei com a cabeça. Tinha pensado naquilo – Bem, era a escola do namorado da minha irmã. E eu tinha ouvido ele falar no celular sobre sua namorada “Elise” mas como “Alice” é bem parecido eu achei que tivesse escutado errado, e de repente conhecer você me fez pensar que talvez você fosse a Elise a qual ele se referia. Então eu o ataquei.
Isso explicava tudo. E essa explicação feita, eu não tinha muito pra fazer ali, então eu disse:
- Nesse caso, obrigada por ter batido nele. Ele mereceu. – Eric sorriu – Agora eu tenho que ir. Foi bom ter conhecido você Eric.
- Eu digo o mesmo.
Eu me virei e estava indo, quando ele disse:
- Elise, a gente podia sair algum dia...
Eu sorri, girei os calcanhares e respondi:
- Eu sinto muito, mas vou ter que dizer que não.

- E então, o que você aprendeu essa noite? – Melissa disse brincando com as conchinhas.
Estávamos sentadas na praia, relaxando um pouco antes de voltar pra casa.
- Que garotos de Orange County são idiotas.
- Que mais?
- Nada.
- Eu esperava um: “Que dizer não pode nos dá oportunidades de descobrir mais sobre as pessoas. Obrigada, Melissa.”.
Eu ri.
- Você está certa.
Ela só sorriu e disse:
- Eu sempre estou.
E foi assim que eu escrevi meu primeiro texto sobre algo que eu vivi e não sobre algo que eu queria viver. Mas uma dica, se um dia uma amiga sua quiser viver uma aventura assim: diga não.

OBS.; O texto acabou saindo com mais de 7000 palavras, mas, foi divertido responder que não quando me perguntaram se eu tinha escrito um texto com 7000 palavras.