Ora ora, olá. Ok, eu sei que eu sou péssima. Este é um dos especiais mais importantes do ano no blog e eu fico constantemente mudando a agenda de postagens porque eu não tenho conseguido tempo para vir aqui. Minhas aulas nem voltaram de verdade e eu já perdi o equilibro perfeito de estágio-escrita que eu tinha conseguido manter nas quase quatro semanas de recesso. Eu vou voltar ao ritmo - eu preciso voltar ao ritmo -, mas eu também não tenho tentado não me cobrar demais porque eu estou equilibrando concursos literários e seleções de publicação (esse segredo está só mais ou menos liberado. Não quero azarar nada, mas vocês saberão de tudo quando for a hora certa), o fim de As Crônicas de Kat, a faculdade e o estágio e se tem uma coisa que minha saúde mental não está é estável o suficiente para se envolver com todas as coisas nas quais eu tenho me metido este ano. Então, eu preciso encontrar meu equilíbrio, mas eu vou falar mais sobre isso depois. Quando eu encontrar meu equilíbrio.
Por hoje, vocês ficam com um conto que eu mantive em relativo segredo por quatro anos. Eu o postei originalmente no Nyah! em 2013, mas acho que apenas duas pessoas o leram - ele se perdeu quando eu deletei minha conta no site. Dois anos depois, eu enviei ele por e-mail para umas oito amigas que pediram por ele (algumas das quais ainda não leram). Fiquei indecisa sobre postar ele aqui por um tempão, mas depois o mantive guardado para um momento em que eu não tivesse conto novo para postar aqui. E este momento chegou, já que eu definitivamente não tenho tempo para escrever conto novo para o Mês Literário. Como o tema deste mês do Desafio dos 12 contos do No plural é mais legal (expliquei ele no post de A primeira vez que vi o mar) é música e hoje é aniversário de Selena Gomez, nada melhor do que liberar um conto inspirado pela música Slow Down e cujo título original era Slow Down. Sem mais delongas, com vocês: Desacelere.


A música vibrava nos ossos. Não estava alta a ponto de impedir conversas, nem baixa a ponto de ser suprimida por elas. Apenas perfeita. Dezenas de corpos estavam tão próximos que era difícil saber onde começava um e terminava o outro. A respiração já era uma só seguindo, mesmo que inconscientemente, o ritmo da música. Era a festa mais maravilhosa de todos os tempos.
“Mas ainda falta algo” - foi o que a vaidade sussurrou para dois dos corpos em movimento naquele escarcéu. Elas precisavam ser vistas. Precisavam se destacar no meio de todo mundo. Precisavam que no fim da noite todos lembrassem apenas das duas. Não era um desejo consciente, apenas uma necessidade biológica. Logo estavam sobre a nova mesa de centro da anfitriã. Dançavam quase como em um sonho, mal tendo consciência da música ao fundo. Só sabiam que aquela era a melhor música que já ouviram em suas vidas.
Os olhos estavam presos uns nos outros, mas uma estava sempre consciente dos movimentos hipnóticos da outra. Ninguém seria capaz de explicar a conexão que tinham. O certo era que uma completava a outra de forma quase pecaminosa e naquele momento era difícil demais manter os corpos separados. De repente, a necessidade de público desapareceu.
- Terraço. – Sarah sussurrou, piscando os olhos azuis antes de saltar da mesa e sair do apartamento dançando.
Elena não pode evitar correr os olhos pelo corpo dela enquanto ela fazia isso. Da ponta do cabelo, até o fim das pernas claras. Por que ela tinha que ser assim? Sua mente gritava em agonia. O corpo desprezava as razões, colocando o desejo acima de tudo. A necessidade dela era grotesca, despertando os pensamentos mais indiscretos em momentos absurdos. Dois anos atrás, ela tinha uma amiga, uma confidente para todas as horas, alguém que conhecia de cabeça para baixo e de trás para frente. A proximidade levou a outras coisas e em uma tarde de inverno particularmente fria, ela se deu conta de que se sentia atraída pelo corpo que dormia perto demais do dela. Agora era como se não a conhecesse mais, como se nunca fosse a conhecer até poder tocá-la da forma como queria. Sabia que não era paixão. Era só desejo. Muito menos “morreria por você” e muito mais “vou morrer se não te beijar agora”. Se deu conta de repente de que seus pés tinham a levado ao terraço onde Sarah observava a estrelas.
Sarah se virou quando ouviu os passos e abriu um sorriso. Elena era tão linda que chegava a doer e a noite aumentava aquilo em um milhão de vezes. As sardas que salpicavam os ombros pareciam estrelas, os olhos verdes brilhavam, ora escuros, ora claros demais para ser tão intensos e o cabelo era da cor do vestido: negro. A maior decepção da família de ruivos, na humilde opinião de Sarah, deixava Elena ainda mais perfeita. Ela não sorria, parecia presa em um inferno particular. Era claro que Sarah sabia do que Elena sentia. Conhecia a garota bem demais para que algo tão óbvio passasse despercebido. Adorava ser desejada daquela forma, perdia o fôlego só de imaginar o que se passava pela cabeça dela, mas o motivo para não acabar simplesmente com aquilo era menos egoísta: tinha medo de decepcionar. Era claro que retribuía, talvez não com tanto ardor, por puro puritanismo, mas seria necessário ser uma porta para não se sentir atraída por Elena. Não via forma de ser boa o suficiente para aqueles um metro e sessenta e sete de perfeição.
Elena não fazia a mínima ideia do que se passava na cabeça da amiga naquele momento. Nem queria saber, para falar a verdade. Apertou os lábios esperando por algo. O simples movimento fez algo em Sarah se revirar. De um jeito bom. Conhecia aquela secura na boca, aquela vontade afundar os dedos no cabelo dela naquele mesmo momento. Aquilo vinha a perseguindo por semanas. Tinha até o nome, basorexia. Desejo incontrolável de beijar alguém.
- El... – As duas letras soaram como um pedido, uma súplica.
Elena piscou antes de se aproximar.
- Por que você quis vir para cá? – Disse, fazendo um esforço hercúleo para usar a boca para outra coisa que não fosse beijar aquele pescoço. – Logo vai estar cheio aqui em cima também.
- Não me importo com multidões. – Sarah respondeu com um sorriso. – Mas queria ter você só para mim por uns instantes.
E lá estava ela, dizendo aquelas coisas que provocavam Elena, deixando-a a beira de uma crise. Desconfiava do desejo de Sarah, mas o que poderia fazer? A menos que as coisas fossem ditas em voz alta, ela nunca poderia tê-la. Não sabia o que significavam as últimas semanas. O toque dela mais intenso, a mania de correr as unhas por sua pele, os comentários distraídos sobre seu corpo. Cada vez que ela tocava seu nariz com o dela, seu corpo inteiro vibrava. Adorava aquelas provocações, mesmo que multipicassem desejo, mas tinha medo que para a amiga aquilo não passasse de uma brincadeira e que quando algo se tornasse real, Sarah saísse correndo.
- Está carrancuda. – Sarah disse tocando o vão entre as sobrancelhas de Elena. Deslizou a unha pelo pescoço ao descer a mão, causando descargas elétricas em ambas.
- Só cansada... – Elena disse, tentando se livrar da frustração com um suspiro. Não deu muito certo. Provavelmente ao sair dali, iria ligar para um de seus ex e convidá-lo para uma das noites sem significado que Sarah tanto detestava. – Sabe quando fazemos algo realmente divertido e depois que acaba percebemos o quanto também foi cansativo?
- Então você não está se divertindo mais?
Elena deu de ombros e jogou o cabelo de um lado só.
- Não estamos fazendo nada agora.
- Desde quando precisamos fazer alguma coisa para nos divertirmos?
Desde que seus silêncios permitem a minha imaginação correr solta. Elena pensou, mas não disse.
- Por que você me quer aqui em cima? – Ela perguntou outra vez.
Sarah não sabia dizer com todas as letras, mas seu corpo sabia. Resolveu tirar as sandálias e correr pelo terraço seguindo as sombras dos prédios.
- Não tem graça, Sarah. – Elena disse, revirando os olhos.
- Quem disse que deveria ser engraçado?
 - Estou cansada demais para perseguir você agora.
- Não pedi que viesse atrás de mim.
A proximidade da voz assustou Elena. De alguma forma, Sarah tinha conseguido se pendurar no telhado da casa de ferramentas que ficava bem atrás de onde Elena estava. Quando ela se virou estava de frente à boca que mais desejara nos últimos meses.
- Sarah... – A dona do nome quase explodiu ao ouvir a mesma súplica que tinha feito há alguns minutos.
- Sim? – Ela não pode evitar, precisava ouvir.
Elena fez um esforço, simplesmente por saber dentro de si que teria o que queria naquele momento.
- Me diz que você quer isso tanto quanto eu.
Sarah sorriu, levando um pedacinho de Elena com aquele gesto suave. Saltou da casa de ferramentas e aproximou seu rosto do rosto de Elena.
Nunca seria possível dizer quem beijou quem.