A essa altura vocês já sabem como funciona né? Este texto é de uma nova escritora que merece muito carinho, então comentem! Vou deixar ela se apresentar:

Meu nome é Andressa, tenho 19 anos e escrever para mim é exercer a minha liberdade, é quando deixo meus pensamentos ganharem vida e se materializar em forma de palavras, carregada com os meus sentimentos. Preciso escrever com a caneta no papel, preciso ver a tinta, a forma da minha letra e as vezes voltar e reler as minhas pequenas loucuras escritas em algum diário. Na minha escrivaninha cabe sempre livros e uma xícara de café e na minha vida sempre haverá espaço para sonhos, histórias e claro, folhas de papel em branco para continuar encontrando minha liberdade!



Serena acordou ás 05h30 da manhã, como nos velhos tempos em que acontecia o primeiro dia de aula depois das férias. Aquele era o seu momento! Não sentiu preguiça ao saltar da cama, fez yoga, tomou banho e foi para o espelho. Ansiosa, atônita, sorridente, mal conseguia conter a respiração. Estava ali de relance buscando entender aquele turbilhão de emoções e tentando compreender o próprio vulto refletido do outro lado do espelho.
Não sentia nem o frio causado pela temperatura que beirava os oito graus. Foi congelada pela emoção de estar indo para o seu primeiro dia de aula na universidade. Saiu da frente do espelho e colocou a melhor roupa que tinha, quer dizer, a única roupa que ela tinha para ir. Seu guarda-roupa quase não recebia peças novas. Colecionava apenas algumas calças surradas pelo dia a dia, umas blusas com furinhos e alguns casacos de frio que recebera de doação. Era um momento difícil para ela, mas a roupa não poderia lhe tirar o brilho nos olhos. Estava plena, flutuante.
Colocou uma calça jeans azul clara, um body com listras de zebra, um casaco de frio velho que ela esquecera de reparar na cor e, nos pés, uma sandália meio alta que ela ganhou da irmã. Esse era o look da mais nova estudante de Jornalismo. Outra vez olhou no espelho e se sentiu infinitamente grata por estar vivendo aquele momento. Decidiu levar uma bolsa, pois tinha certeza que haveria aula e o professor daria informações importantes que mereciam ser escritas. Colocou dentro dela um caderno velho do cursinho que havia feito e um estojo de canetas que tinha há dois anos, porque não tinha dinheiro para comprar um novo, afinal, para ela eram apenas canetas e talvez ninguém calcule o tempo em que estava usando elas.
Tomou café, deu um beijo na mãe e repetiu quase engasgando a frase “eu te amo” para ela. Sabia que estava ganhando o mundo. Seus pais estavam deixando ela partir. No trajeto até a universidade o pai lhe fez companhia. Levou ela em um carro gol de cor azul, ano 96, até o módulo de seu curso. Com todos os problemas e circunstâncias que os cercavam, aquele era um momento único para os dois. Ele parou o carro. Houve um silêncio e, por algum tempo, ambos compartilharam o mesmo sonho: ele, o pai, estava ali imaginando ver a filha na televisão daqui algum tempo; ela repetia para si “seja você mesma”, mas na verdade, sabia que estava perdida, que as coisas se tornariam difíceis, que apanharia da vida e estava com medo de encarar o mundo... Mas resistiu aos pensamentos ridículos, se despediu do pai com um leve abraço e desceu do carro. Eufórica, seu coração dizia que seu pai estava olhando do retrovisor se despedindo da criança que ele educou, embalou canções e fez ninar.... Sua garotinha estava ganhando o mundo e a confiança da vida.
Demorou alguns minutos até ela de fato resolver a burocracia da matrícula e ir para a sala. Para sua decepção, não teve aula. Conheceu professores, pessoas e escutou uma ou duas palestras. Não entendia a lógica, nem a linguagem do discurso. Passou quatro horas tentando se adaptar ao ambiente cheio de pessoas desconhecidas, com cheiros e atitudes diferentes. Ela suspeita de que nesse dia ouviu alguém perguntar: “O que você está fazendo aqui? ”. Distraída, não soube a resposta, mas sabia que naquele dia se deu a chance de encarar o desconhecido, sobreviver com os próprios medos e aceitar que a vida é mesmo fascinante e não corre em linha reta.
Às 11h45 saiu da universidade, entrou no ônibus amarelo B 45 e se sentou- na cadeira do lado da janela. Queria olhar para o céu e tentar compreender quem ela era e o que poderia se tornar depois daquele dia. Respirou fundo e disse para si mesma: “posso ser tudo”! Esperou um pouco até perceber que estava falando a frase em voz alta em um ônibus lotado de pessoas. Recostou a cabeça na janela e reafirmou a certeza de que seu pai ainda poderá vê-la na televisão. Fechou os olhos e cochilou profundo, sabendo que faria aquele trajeto pelos próximos quatros anos de sua vida. Serena estava aprendendo sobre a vida.