E aqui estamos. De volta à Cidade Maravilhosa. Não tão maravilhosa assim quando o assunto é clima: abafado pra caramba apesar das enormes nuvens que não necessariamente significam chuva (pois é, não sirvo pra meteorologista). É tão bom estar em casa. (Mesmo considerando o fato de que eu preciso pedir paciência a Deus a cada minuto para não voar no pescoço da minha avó - que, sim, chamou o blog de bestajada - que resolveu testar minha autoridade nessa casa. Sou eu que cozinho, arrumo e principalmente - levo isso muito a sério - lavo a roupa e não quero que ninguém mexa no jeito como faço isso. Não que eu goste de fazer, mas sou eu que faço. Sou eu a responsável por isso quando minha mãe não está em casa e ninguém pode mudar a forma como eu comando as coisas aqui. Eu só não gritei com ela por respeito e agora estou descontando a raiva no blog.).
Minha viagem foi longa. 20 horas em um ônibus. Só que foi um ônibus zicoidis da baladoidis (perdoem a minha mania de colocar ódis no fim das palavras. Meu cérebro ainda está se acostumando ao ar do Rio de Janeiro). Foi tudo muito do nada. Na sexta minha avó acordou a gente dizendo que tinha comprado as passagens pro sábado e já tinha acertado tudo com a minha mãe e com a empresa de ônibus (por que eu ia a minha irmã ainda estamos com catapora). O ônibus semi-leito para a melhor comodidade das doentes, saía da Rodoviária de Vitória da Conquista às 18h30 da tarde.
Mas na verdade ele chegou lá pras 19h30. Eu tinha passado a maior parte do dia no computador e só saí pra ver os três primeiros capítulos da segunda temporada de The Vampire Diaries com a minha tia (que eu transformei em fã da série) eu meio que troquei meus seguidores no twitter por VD em uma tela plana de 26 polegadas, sorry, mas vocês sabem que é meu vício nada secreto. Meus avós tinham saído de manhã para comprar biscoitos (Patrimônio municipal de Vitória da Conquista. Os melhores biscoitos do nordeste posso garantir) e farinha (desculpa, cariocas, mas a farinha da Bahia é a farinha da Bahia né?), tapioca e goma fresca pra fazer beiju.
Depois de ver TVD eu tomei um banho dei um jeitinho no meu cabelo - que não vê um condicionador há uma semana (culpa da catapora, eu fiquei cheia de bolhas no couro cabeludo e não posso passar Shampoo nem esfregar direito. Tá uma coisa maravilhosa. Quando as feridas terminarem de cicatrizar eu vou dar uma hidratação nele.). - escovei e me preparei pra viajar. Lemos a Bíblia, oramos, arrumamos a mala no carro, nos despedimos dos meus tios e fomos para a rodoviária. Lá, meu avô comprou suco pra a gente e minha avó comprou Halls para a minha irmã. Um ônibus chegou indo pro Rio também, mas era convencional e como "nóis num é probre pra í de convenssional aí nóis foi de çemi-leito".
O ônibus semi-leito era mesmo muito bom. No inicio pra entrar já deu confusão por que a ideia da minha avó de comodidade e praticidade é meio deturpada. Ela colocou os biscoitos mais delicados do nos bolsos dos lados da mala que estava com os presentes e com os materiais escolares da minha irmã, então ela queria que a mala - note que eu disse mala e não bolsa, então é grande - fosse em cima, junto com as outras sacolas, pacotes, bolsa térmica, berimbau... (longa história. Uma colega da minha mãe pediu que já que a gente tava na Bahia comprasse um berimbau pra ela. Eu, como portadora da mensagem, tive que carregar o berimbau pra tudo quanto é lado, tocar ele com os dedos tipo violão de uma corda só, e nós viramos amigos. Eu tava pensando não sei que milagre não coloquei um nome nele.).. acontece que óbvio o motorista não deixou a mala grande ir em cima. O que causou uma confusãozinha quando junta ao fato de que a minha avó (pra vocês verem o que eu passo. Mas eu não estou falando mal dela. Ela é a minha avó e se tem uma mania que eu odeio em algumas pessoas da família é a mania de falar mal dos outros.) queria ficar com nossas carteiras de identidade até o último minuto acreditando que não ia precisar. Acontece que a Itapemirim (empresa do ônibus que a gente pegou) é uma empresa muito responsável e queria conferir nossas identidades antes de nos deixar embarcar. E lá fomos nós pegar as carteiras dentro da bolsa da minha avó que segurava duas sacolas, e que, se não fosse uma surpresa pra grande parte das pessoas a necessidade do RG, atrasaria a fila toda. Junte isso com a confusão das malas e descubra que no fim das contas eu quase esqueci o canhoto da passagem (que acabou de cair no chão e está bem na minha frente agora) lá em baixo. Na verdade eu achei que minha irmã tivesse pego e ela não pegou e o motorista foi forçado a levar a passagem até a poltrona 42.
E então começou a saga das vinte horas no ônibus. Se você conhece um pouquinho sobre ônibus quando leu Poltrona 42 sabe que isso significa fundão. A ideia foi da minha avó pra evitar retaliações (tenho probleminhas com essa palavra) por causa da catapora. Acreditem quando a minha avó falou "últimos bancos" eu pensei mais em "privacidade" e menos em "privada". Mas as poltronas 41 e 42 e o banheiro gostam de manter um diálogo constante e até se tocarem de vez em quando. Sem rodeios eu quero dizer: Banheiro + ar condicionado (ou seja, sem janelas) + uma porta que podia bater na cara da pessoa na poltrona 42 (uma linda garota de 13 anos, que eu chamo de EU) se ela se virasse um pouco = Uma maravilhosa viagem de vinte horas, com o máximo de sarcasmo que essa frase possa aguentar. (É isso foi cheio de rodeios. Desculpem-me por isso. É inevitável).
Acreditem, meu jeito conformista e positivista de ser acaba me fazendo concordar com a frase "Pelo menos agora você tem histórias pra contar." mas na hora eu estava.. sabe? nem consigo explicar. Eu realmente achei que a minha experiência, "semi-leito" seria melhor que minha experiência "Webjet". Eu ainda estava meio encantada com a viagem de volta de Itapetinga que foi incrível *-* (parte 10). Mas relaxem, como diria minha mãe, é muito fácil me agradar e a viagem ainda terá seus bons momentos.
O ônibus - que vinha de Salvador - saiu quase 19h30. Eu liguei pra minha mãe para mantê-la informada sobre a viagem. 10 minutos depois o ônibus fez sua primeira parada em ponto de apoio em Vitória da Conquista mesmo no hotel flecha. Lavaram o banheiro, colocaram mais copos de água no freezer, trocaram a sacola do lixo, abasteceram ônibus. E mais ou menos quarenta minutos depois o motorista anunciou que tinham mais 8h40 antes da próxima parada em Governador Valadares, Minas Gerais. O ônibus voltou a BR 116 com toda graça.
Eu estava disposta a não ouvir música a viagem toda apesar de querer muito fazer isso por que a bateria do meu MP4 chinês que eu amo não dura 20 horas direto. Mas minha mente estava vagando e indo direção a áreas perigosas (medo). Então esse é meu agradecimento formal sobre a ideia da empresa. Eles colocaram um filme pra passar nas três TVs espalhadas pelo corredor. O filme escolhido foi Dr. Dolittle 4 que obviamente eu já tinha visto duas vezes. Mas tudo para passar o tempo, então eu desembalei o cobertor que a empresa nos deu - semi-leito bêbê - e fui ver o filme, enquanto frequentemente pessoas entravam e saiam do banheiro. No início deu rolo, ficou em inglês, quando concertaram, um buraco na pista fez com que o DVD saísse do lugar e o filme parasse. Logo que voltou o filme começou a travar. No fim deu pra ver o filme e esses contra-tempos fizeram com que mais tempo passasse.
Quando o filme acabou eu esperei um pouco por mais mas já eram mais de dez horas. O sono chegou aos pouquinhos me deixando bem mole. Eu não tinha dormido nada na noite anterior, com a ansiedade de finalmente voltar pra casa e com dois mosquitos que me perseguiram enquanto eu dava voltas na cama tentando achar algum lugar onde eles não viessem atras de mim. Eu me ajeitei no banco e tirei um longo cochilo.
Acordei mais ou menos meia-noite com a movimentação na área do banheiro e da água (conhecida como bem do meu lado). Minha irmã estava dormindo, mas minha avó estava acordada e me ofereceu barrinhas de cereal. Eu aceitei afinal meu organismo tava meio estranho em relação ao sono e eu não tinha dormido quase nada mas estava sem sono. Ou pelo menos parecia. Assim que eu comi eu caí no sono por mais duas horas dessa vez. O sono teve interrupções porque o fundão balança mais e qualquer coisinha me acordava e me deixava assustada.
Acordei novamente as 4h18 quando paramos em Governador Valadares. Na hora em que minha irmã se levantou para pegar pão de queijo eu achei que a minha avó (que estava sentada bem na minha frente) estava sentada com a coberta na cabeça dormindo. Mas depois descobri quando levantei que ela tinha decido do ônibus no ponto para esticar as pernas. Eu fiquei comendo pão de queijo e pensei em alguma coisa como "comendo pão de queijo em Minas" ou algo assim... nem sei porque tô falando isso.
O ônibus ficou mais de uma hora parado nesse ponto enquanto fazia a manutenção. Depois disso voltamos a estrada. Eu cochilei mais não consegui achar uma posição confortável para dormir. Aí pedi pra minha irmã pra trocar de lugar comigo só um pouco e se a minha poltrona ficasse ruim pra ela, a gente destrocaria.
No momento em que eu me sentei na poltrona ao lado da janela eu não consegui mais dormir. Eram cinco e meia da manhã. Passamos por fazendas com as luzes já acessas. Eu vi pessoas com lanternas passeando. Atravessamos uma cidade sem ver uma viva alma no trajeto. Você podia achar que a paisagem cheia de sombras dava medo, mas não eu gostei. Na verdade eu gostei muito. Eu posso ser meio boba em relação a paisagens, mas a verdade é: Eu sou escritora e tenho talento pra fotografia. Além do mais eu gosto quando me foco em algo e deixo a minha mente vagar ao mesmo tempo. É algo inexplicável. É relaxante. Quase melhor que dormir.
Antes que eu conseguisse pegar no sono, minha irmã pediu pra voltar pra poltrona dela. Eu fiquei pouco tempo e podia ter reclamado, mas minha irmã estava doente e não era muito justo. Voltei pro meu lugar e por volta de 6h da manhã, peguei no sono de novo.
O sono foi interrompido dezenas de vezes mas eu só acordei de vez mais ou menos dez horas, quase chorando e pedindo pra minha irmã pra voltar pra a poltrona dela por que minhas costas estavam me matando (pra quem não sabe eu tenho escoliose. Minhas coluna é na forma de um S de Selena - eu sempre explico assim). Ela deixou e assim que eu fui pra poltrona caí no sono outra vez. Só acordei em Além Paraíba na terceira e última parada de pontos de apoio do ônibus. Dessa vez foi para os passageiros almoçarem. Mas eu não estava com vontade de almoçar e fiquei no ônibus. Durante um tempo fiquei sozinha no ônibus e não conseguia dormir. Então fui no banheiro me olhar no espelho e quase morri do coração. As feridas da catapora já estavam bem melhores, mas tinha uma espinha bem em cima do meu lábio. A vontade de espremer a vadia chegou na mesma hora, mas eu me controlei. Afinal ninguém iria ligar se uma garota com catapora tivesse uma espinha. Eles pensam mais "ah tadinha" e menos "credo". Ou pelo menos eu acho isso.
Depois de um tempo desci do ônibus porque minha mãe tinha pedido para que eu não passasse as 20 horas da viagem sentada e dormindo. Eu ainda não estava com fome porque tinha comido uma maçã, mas queria uma lata de Coca-Cola. Amo juntar Coca-Cola com maçã. Qualquer dia desses eu faço um buraco em uma maçã e coloco a Coca-cola lá dentro. E depois como ela. Ah, é.
Mas voltando a viagem. Eu fui para o restaurante, mas fiquei esperando minha avó e minha irmã terminarem o almoço, no balcão que separa o restaurante do resto do ponto de apoio. Enquanto eu esperava a moça que estava distribuindo as comandas me chamou. Ela perguntou se eu estava com catapora. Me chame da dramática, mas na hora eu achei que ela ia falar algo como pedindo pra eu sair do restaurante, mas quando eu disse que sim, ela só perguntou se eu já tinha usado Permanganato de Potássio. Tá de brincadeira né? Sou filha de enfermeira e já tinha ido ao médico. Sem falar que as minhas feridas já estavam quase secas. É claro que eu usei permanganato de potássio não é querida? Mas eu apenas sorri e disse tomei sim. (Se eu não der certo como jornalista e escritora eu provavelmente vou dar certo como vencedora. Eu sou uma santa. E se eu não levasse desaforo pra casa minha avó não tinha vindo comigo).
Minha avó deduziu que eu queria a Coca e já saiu do almoço com ela na mão. Enquanto ela pagava a conta, minha irmã brava veio me contar que minha avó tinha feito uma confusão por causa da comida que estava estragada. Tudo bem que se estava estragada ela tinha que reclamar, mas vocês não conhecem a avó que eu tenho.
Então voltamos pro ônibus que saiu um pouquito depois. A viagem de volta subindo e descendo a serra fluminense foi mais ou menos assim:

I Promisse You (Selena Gomez & The Scene) ao fundo. Eu sei porque tô viciada essa música e tinha colocado ela no repeat.

Foto da minha irmã. Olha a situação da estrada.

Dedo de Deus. Ponto turístico de Teresópolis.

Depois que descemos a serra foi rapidinho chegar à Cidade Maravilhosa. Se você tem noção geográfica sabe que não passamos pela ponte Rio-Niterói porque estávamos indo pelo outro lado. No caminho eu estava ouvindo música (Candice Accola pra ser mais exata LOL) e pensando em sei lá o quê, quando passei por um prédio enorme e dei um grito quando me dei conta: Era a redação do o jornal O Globo. Minha reação seria bem mais surtada se estivéssemos passado pela redação sei lá, da Seventeen - ah, sonho. Trabalhar na Seventeen -, mas me deem crédito tudo bem? Eu sou uma futura jornalista com sonhos. E se eu conseguisse, sei lá, um estágio no O Globo. Eu estaria bem feliz.
Depois disso, eu com um sorriso grande no rosto, comecei a adentrar a cidade do Rio de Janeiro. O nome desse post foi decidido há um tempão, mas a verdade é que se você está vindo de Minas pela BR 116, a sua primeira impressão do Rio de Janeiro não é cheia de encantos mil. Definitivamente.
Mas no fundo, a cidade parecia linda para mim. Aquela sensação clichê de lar apareceu. E era tão confortável. Eu estava começando a me sentir feliz. E você vai saber mais sobre essa alegria na próxima parte do Diário de Bordo. Aguarde..

Amo vocês,
Pucca.

P.S.: Deixem comentários, sugestões, e dicas. Espero que gostem.