Minha melhor amiga diz que eu sou muito exagerada e dramática. Outros dizem que eu transformo tudo em um livro. Ambas as afirmações estão certas.
Mas a verdade é que o mundo é muito mais do que a gente percebe quando olha de longe. Eu nem sempre transformo o mundo em um livro. Ele é por si mesmo. E para provar eu resolvi escrever esses dois contos curtos (ou será que são crônicas?) baseados em histórias que eu vi de pessoas que passaram por coisas que pareciam literárias. Pessoas que vocês até podem conhecer e nem sequer perceberam que elas estavam passando por isso. E talvez depois disso vocês comecem a ver o mundo do meu ponto de vista.

Os nomes obviamente foram omitidos ou mudados porque eu não posso correr esses riscos. E eu mudei até o gênero de alguns personagens em nome da ética profissional. E nota para os meus amigos: Não, nenhum dos textos abaixo é sobre vocês. Eu guardo segredos.

O maior medo.
Ela era provavelmente a pessoa mais desagradavelmente agradável da face da terra. Quando parava pra pensar sobre si própria, só achava críticas para se descrever. E ela sabia que muita gente pensava do mesmo jeito. Mesmo assim, e apesar de sua família não se importar tanto com ela, ela tinha muita gente que se importava com ela espalhada por aí. Literalmente espalhada por aí. No país todo. Gente perto e gente longe. Ela tinha muitos amigos. Mas isso não significava que ela não tivesse medo. De ficar sozinha. De ser abandonada. De que finalmente percebessem os defeitos dela e desistissem de passar tempo com ela. Mas mais importante, o mais inevitável medo e o medo pelo qual ela era mais provocada pelas pessoas conhecidas: ela tinha medo de se apaixonar.
Não era um medo bobo. Era um medo real, palpável. Ela era bem empática e conhecia muita gente que sofreu muito por amor, e sofreu junto com eles, por isso tanto medo. Ela gostava de se aproximar das pessoas, mas se apaixonar... a ideia era assustadora.
Mas um dia como todas as outras coisas, aconteceu. Ela se apaixonou. E foi de uma forma bem complicada.
Contando do inicio: existia um cara. E ela acabou se tornando bem próxima dele, a ponto do namoro dele entrar em crise por ciúmes. Mas ela não estava apaixonada por ele. Então quando o namoro dele voltou ao normal, ela conheceu a namorada dele. E elas acabaram se tornando bem amigas. E foi essa garota que apresentou a pessoa pela qual ela viria a se apaixonar pela primeira vez.
Eles se conheceram porque eram amigos em comum da garota. Eles tornaram amigos, e ela percebeu que aquilo evoluía pra algo que ela não esperava. Ela sabia que ele não retribuía, mas também que não doía tanto quanto ela achava que doeria. Ela apenas se sentia feliz por estar perto da pessoa que ela amava mesmo que aquilo nunca pudesse dar certos (por motivos que ninguém nunca saberá).
Um dia ela contou como se sentia a amiga que os apresentou. E a amiga disse pra ela que deveria simplesmente dizer isso pra ele e seguir em frente. Afinal ela precisava arriscar. Então ela fez.
Dizem que receber um "Você é fofa, mas não gosto de você desse jeito" machuca, mas depois de sentir tanto medo, não a afetou dessa forma. É verdade que o primeiro amor a gente nunca esquece, e esse a fez se sentir bem e aprender que sentir medo de sentir é bobo porque viver sem sentir é como viver sem respirar. Logo, ela sempre seria grata àquela pessoa que a ensinou a sentir. De verdade.

O cúmulo de namoro a distância.
- Ei, você tá aí?
Sinceramente? Luisa não estava apaixonada por Kyle. Isso era uma certeza absoluta. Mas ele era um de seus melhores amigos e uma daquelas pessoas para as quais dizer é impossível dizer não, por diversos motivos.
- Sim. - Foi a única coisa que ela respondeu considerando bem direto.
- Estava preocupado, não achei que fosse entrar essa noite...
- É, mas aqui eu estou.
A conversa acontecia em inglês em um daqueles sites que alguns adultos chatos e os jornais continuam a chamar de "site de relacionamento" mesmo que o resto do mundo chame de "rede social", mas ninguém nunca ficou sabendo em que site aconteceu. A questão é, ele morava em Vancouver no Canadá e ela morava em uma cidadezinha minúscula no interior do Rio Grande do Sul. Era uma amizade virtual, uma daquelas coisas que as pessoas que não vivem não entendem. Mas ela sabia lá dentro que ele queria que isso passasse de uma amizade mesmo com tudo que tornaria aquilo impossível. Por isso ela tinha agido estranho por semanas, ela sabia que ele estava apaixonado e não sabia como retribuir.
- Que bom. Nós precisamos conversar...
Ela ficou encarando as teclas por um tempão pensando no que dizer até que ele perguntou se ela ainda tava lá. Então ela simplesmente disse:
- Pode falar...
Então é claro, ele pediu ela em namoro. Disse muitas coisas. Disse que a distância não seria um problema, disse que um dia eles morariam na mesma cidade e continuou falando até que por fim ela - que estava chorando muito, e sem coragem de magoá-lo - disse sim, disse que aceitava namorar com ele.
Os dias seguintes, foram os piores. Ela não sabia como lidar com o relacionamento, ela se tornava cada vez mais distante e ele nem sequer percebia. E então piorou, os amigos dele começaram a aparecer mandando mensagens e dizendo para ela se afastar porque ela magoaria ele, e eles nunca poderiam se ver. E as pessoas não paravam de dizer que aquilo era errado. E ninguém percebia que aquilo quebrava ela cada vez mais.
E foi então que a coisa mais improvável aconteceu. Ela viu em uma rede social aberta, ele não só pedindo outra garota em namoro, como falando mal dela pra essa garota sem nem perceber que ela podia ler tudo. Levaram horas pra ficha cair. É claro que estava tudo terminado agora. Ele terminou da forma mais complicada.
Lição de moral? Não acho que tenha alguma, mas pelo menos agora as pessoas sabem como era estar naquele lugar.

G.
P.S.: Se alguma das histórias acima (que são inspiradas e não detalhadamente iguais as histórias reais) lembra alguma coisa que você já viveu, deixe um comentário, mesmo que seja em anonimo só pra eu ver uma coisa. Obrigada.