Aviso: Este post pode conter o que algumas pessoas considerariam spoilers. Não conto pedaços da história, apenas a sinopse, mas como eu ando muito sensível com o que as pessoas me contam sobre um livro, acho que nem eu ia gostar. Eu avisei.

É o fato sabido que eu - não só eu, mas a imensa maioria das pessoas que eu conheço que entrou na faculdade recentemente - tenho lido bem menos do que lia alguns anos atrás. Metade do ano já foi e eu tenho 10 livros lidos e várias lágrimas nos olhos. A coisa é, ler tem sido difícil. Não só porque a faculdade sobrecarrega, mas porque os vários outros problemas da vida tem me deixado com a cabeça tão pesada que até nos momentos livres que eu tenho eu prefiro viajar pensando em alguma coisa do que me deixar ser carregada para uma história (estranhamente, parece que criar meus próprios universos tem sido mais fácil do que entrar no dos outros, e escrever se tornou uma forma de relaxar mais profundamente do que ler). Além disso, depois de ter procurado os livros mais fáceis possível para ler no fim do ano passado, parece que eu fui carregada para uma infinidade de livros previsíveis ou muito parados - dos quais, se eu não deduzia o que estava para acontecer, exatamente nada acontecia. Livros bons até, mas sem aquela emoção maluca que uma pessoa cuja vontade de ler está prejudicada precisa. Qualquer tipo de expectativa que eu parecesse nutrir por um livro ia embora logo no começo. Logo, quando eu escolhi A menina que não sabia ler como leitura da vez eu preferi não ter expectativa nenhuma. Eu só queria um livro obscuro, algo intenso, tanto que até fiz uma enquete entre ele e A Filha do Louco. É claro que eu não estava esperando encontrar naquelas páginas a emoção que achei que não acharia mais.

Imagem inspirada na arte do livro e retirada do blog Key to my thoughts.
A menina que não sabia ler conta a história de Florence, que tem 12 anos e mora com o irmão mais novo e alguns criados em Blithe House, uma casa antiga no interior da Nova Inglaterra, Estados Unidos. Seu tio é seu guardião legal, já que ela perdeu a mãe no parto e o pai em um acidente de barco alguns anos depois, mas ele prefere ignorar a existência dos sobrinhos o máximo que puder. Florence tem muito tempo livre quando criança especialmente porque a opinião do seu tio sobre os educação de meninas é muito firme e completamente negativa. Isso não a impede, é claro, Florence acha formas próprias de aprender a ler depois de encontrar a biblioteca da casa, um lugar abandonado, mas barrotado de livros pelo qual ela se apaixona à primeira vista. Quando seu irmão entra em idade escolar as coisas começam a se tornar mais intensas para Florence, que depois de perdê-lo por alguns meses é forçada a conhecer suas perceptoras, mulheres que vão mudar a vida parada em Blithe para sempre.
Eu ganhei esse livro de presente de Natal da tatii, mas eu já tinha ele na lista de desejados há um tempinho. Não lembro como ele foi parar lá, mas só de ver os primeiros comentários sobre ele no Skoob já dá para entender o porquê: O livro foi inspirado por alguns dos mestres do gótico e é completamente gótico do início ao fim. Se o titulo traduzido do livro te faz pensar em "A menina que roubava livros" eu já aviso que apesar de parecer que essa foi a intenção da editora, um livro não tem nada a ver com o outro. Este livro - cujo título original é Florence and Giles - tem nada até mesmo com a ideia que o título em português traz. O livro é uma história de terror gótico em vários, te carregando por corredores escuros no meio da noite, com fantasmas caminhando por eles, te deixando sem saber o que pensar, sem saber como se sentir, sem saber em quem confiar. O falso analfabetismo de Florence é apenas parte da ideia que a própria protagonista narradora cria de si. Ela é uma órfã, ignorada pelo tutor, criada solitária em uma casa grande e vazia, quase sem amigos e ainda privada de edução. Ela é tudo que uma vítima gótica deveria ser... Exceto porque ela talvez não seja.
O livro é completamente insano e falando com pessoas que o abandonaram ou não gostaram dele eu me dei conta de que eu gostei dele justamente pelos motivos que as outras pessoas não gostaram. Tudo de uma narração não confiável, ao "isso realmente aconteceu ou foi imaginação dela?", até os mistérios e definitivamente o assassinato sem hesitação que eu precisei ler duas vezes porque nem tinha percebido que era um assassinato me deixou apaixonada pelo livro. Ele vence melhor livro de 2016 até agora e cria uma competição difícil para os próximos livros que eu ler este ano.
G.