OLÁ, INTERNET BRASILEIRA. Se você conhece o blog há mais de um ano, já sabe, depois do Mês Literário vem o Agosto Aleatório. Este ano eu fiz a proposta solene de ser o mais aleatória possível - e é quase possível dizer que existe um tema no mês: O ódio. Eu nem ia escrever esse post hoje - e olha que eu estou adiando ele desde terça-feira. O motivo? Eu estou estressada em um nível cavalar, vendo estrelas diante dos meus olhos e chorando de ódio quando penso em trabalhar. E é justamente por isso que eu estou escrevendo este post hoje. O que é o brasileiro sem a força do ódio? O que sou eu, sem a força do ódio? Isso mesmo. Nada.
Até pouquíssimo tempo atrás eu não falava palavrão em português. Em inglês eu sou boca suja há anos (mais sobre isso mais pra frente), mas eu sempre fui um anjinho inocente na minha língua materna, reagindo com "droga" e "porcaria" nos piores momentos da minha vida. Aí a vida adulta aconteceu. Existem pessoas que conseguem passar pela vida adulta sem falar palavrão? Porque de onde eu estou, ou eu xingo muito no Twitter, ou eu mato alguém, e apenas a segunda coisa é crime. Antes de eu falar sobre o que me levou a falar palavrão, eu preciso contextuar vocês historicamente a respeito do motivo de eu não falar palavrão desde bebê.

Eu consigo ouvir esse suspiro
Vocês sabem que minha família é conservadora, cristã e blá blá blá e eu cresci sendo ensinada que deveria manter uma imagem de pureza bem difícil de manter. Não é que minha família não fale palavrão, eles falam, mas existia uma filosofia nos ensinamentos que me foram passados durante toda a minha infância, de que falar palavrão era algo muito sujo. Não era uma crença consciente, mas estava lá e eu sempre achei tão estranho e absurdo quando alguém da minha família crente falava palavrão e tão pecaminoso quando minha família não-crente falava palavrão. Até os 9 anos de idade, eu achava que o único palavrão em existência era "porra" (eu não planejava falar palavrão nesse post, mas pelo visto será impossível) e eu soltei um "foda", sem saber o significado, erro que me foi explicado, questionado e zoado e até muito recentemente eu ainda me sentia culpada por isso. Vocês podem me conhecer como uma adulta cética e desesperançosa, mas eu era uma criança inocente, impressionável e manipulável - o que é parte do motivo de eu ter crescido sem esperança. As pessoas são um lixo.
Em algum momento, eu deixei "Não falar palavrão" se tornar uma espécie de característica minha. Esses dias apareceu para mim a lembrança da postagem que eu fiz no Facebook no dia em que um entregador da JadLog (porque aqui a gente dá nome aos bois) fuçou meus dados para me mandar mensagem no WhatsApp e eu fiquei pensando no quanto eu queria ter falado palavrão naquele dia e em como eu não fiz isso simplesmente porque não era "quem eu era". Eu era uma pessoa que não falava palavrão. As pessoas me elogiavam pelo meu autocontrole e eu só dava de ombros porque nunca tinha tido o costume, então não fazia diferença. Claro que essa regra só valia em português.
Desde que o mundo é mundo, as pessoas falam palavrão em outra língua como uma forma de aliviar o efeito do palavrão. Carajo é tão mais leve que caralho, gente. Na dúvida, cê manda um Neymar: "Don't touch me, hijo de puta, vai tomar no cu". Eu sempre fui uma grande fã de músicas explicitas (apesar de que por um tempo eu cantava algumas músicas, como S&M da Rihanna, de dedos cruzados para dizer A DEUS que eu não estava falando sério) e como eu só ouço música em inglês, era quase impossível que eu não começasse a falar palavrão em inglês. Então era uma válvula de escape. E a melhor parte é as pessoas só acharem que fuck e shit são palavrões em inglês, porque eu sou muito mais boca suja em inglês do que vocês pensam. É tudo uma questão de vocabulário.

Passando para avisar que esse neném aparece no quarto episódio da nova série da Netflix, All About The Washingtons. Era só isso mesmo.
Já que a gente falou da Kira e palavrões em inglês, nessa segunda eu estava assistindo o podcast (sim, assistindo o podcast porque é em vídeo) dela com outras pessoas que não é necessário mencionar para a compreensão do argumento e ela estava contando sobre como sempre falou muito palavrão, mas agora que ela está livre da Nickelodeon, ela tem perdido o controle. O pai dela inclusive disse que ela tem usado "fuck" como se fosse "like" (tipo). Isso me fez pensar sobre como eu falar palavrão também tem um pouco a ver com liberdade. Liberdade de não deixar essas coisas, como minha criação e meus traumas emocionais, me definirem. Também tem a ver com a perda da minha inocência, mas como eu disse, as pessoas são um lixo e não perder a inocência é quase impossível.
Eu me sinto tão culpada porque hoje em dia eu sou a pessoa que ensina as crianças a xingar. Não, gente, eu LITERALMENTE ensino as crianças a xingar. A coisa toda com a Kira trouxe um monte de crianças para a minha lista de seguidores e pelo menos duas com quem eu mais convivo têm 12 anos, não têm inglês como a primeira língua, e pegaram a mania de usar "fuck" como se fosse vírgula da minha pessoa. Sem contar que por causa de todo mundo agir como se só fuck e shit fossem palavrão eu esqueço que bitch é xingamento, goddamn é blasfêmia, dickhead é obscenidade - e solto palavrão como se fosse bom dia. Mas fechando o momento Kira, eu gostaria de repetir o que ela disse quando foi perguntada sobre porque ela fala palavrão agora: "Eu sou uma mulher de quase 21 anos [faltam 6 meses pra mim ainda, mas vocês pegaram a ideia] e existem coisas piores na internet."

Mais um para efeito de quebra. Eu amo essa sequencia de gifs porque a reação da Sophie é exatamente a minha reação a macho fazendo merda. Inclusive, se você não sabe de onde vieram esses gifs PARA TUDO QUE VOCÊ TÁ FAZENDO E VAI LER MINHA RESENHA DE LOVE DAILY.
Eu comecei a falar palavrão em português no ano passado. Mesmo ano em que eu comecei a beber. Coincidência? Claro que não. Os motivos foram os mesmos. O trabalho me deixou maluca. Eu comecei falando palavrão apenas depois de reuniões de trabalho. Eu tinha duas opções: Ou eu me trancava no banheiro e gritava CARALHOOOOOOOOOOOOOOOO ou eu dava um soco na cara da minha chefe toda vez que ela abrisse a boca para dizer algo preconceituoso. De novo, apenas uma dessas coisas é crime. Eu cheguei a níveis de estresse nunca antes vistos durante aqueles 11 meses e falar palavrão era o mínimo.
Não foi sem culpa. Eu me sentia extremamente culpada como se fosse coisa de outro mundo soltar um palavrão, mesmo que todo mundo ao meu redor falasse palavrão. Depois que eu saí do estágio, eu resisti por alguns meses, mas mesmo que o estresse do trabalho tenha ido embora, o estresse da vida adulta não foi. O mundo continua um lixo. E eu sei que eu passo dos limites, porque no fundo no fundo eu tenho 12 anos e acabei de ser entregue a liberdade de xingar, mas o que eu posso fazer? Vocês assistiram o debate dos presidenciáveis ontem? Quem assiste ao debate de presidenciáveis em 2018 e não fala palavrão? Sem contar que mais cedo ontem eu fui a uma reunião que discutiu denúncias de assédio na faculdade (tema complicado que eu vou tratar no meu livro-reportagem de TCC por motivos de: O PODER DO ÓDIO ME AJUDARÁ A ME FORMAR #JornalismoPorÓdio), e de novo, era dizer "filho da puta" entredentes ou descer a porrada em todos os machos presentes.
Não é que eu ache que falar palavrão é empoderador. O que é empoderador é o que eu disse antes: Saber que falar palavrão não faz de mim suja e pecaminosa. Eu faço coisas mais sujas e pecaminosas do que falar palavrão. (Seria eu a única promiscua BV do mundo?). Além disso me ver livre das amarras do conservadorismo que me prenderam por tanto tempo. Beleza, talvez eu só esteja dizendo isso porque eu ouvi muitos episódios de The Chick Show (o podcast da Kira), mas o que eu posso dizer? Eu ainda sou um pouquinho manipulável.
G.