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"Não sai nada"
Todos os gifs deste post serão do Nick de New Girl pra ver se o Disney+ coloca a série lá logo.

O Mês Literário chegou e foi embora e sequer um dos posts que eu planejei conseguiram sair. Estamos no meio de agosto e tem tanto post atrasado, que as ideias que eu tive pra este mês também não funcionaram. Menos e menos textos escritos e publicados, menos e menos ideias concretizadas. Nessas horas imediatamente bate a síndrome de impostor: O que eu tô fazendo? Quem eu penso que sou pra me chamar de escritora? Para criar tanto conteúdo sobre escrita? Pior, para lançar uma mentoria de escrita?

Não existe clichê sobre a escrita que solucione o problema de um texto não escrito. Não existe podcast inspirador que cure um escritor que não escreve. E buscar ajuda também parece resultar em conselhos que vêm como um tapa na cara, mas como qualquer tipo de agressão, não trazem solução alguma. Você só ouve: "Quer escrever? Escreve", "A sua história nunca vai sair se você não escrever", "Ninguém quer ter que ouvir que precisa escrever, mas você precisa escrever". Isso pode até ser útil se o seu problema for falta de motivação, de vontade ou preguiça. Mas e se não for?

Cada pessoa é diferente. E a agressividade pode até funcionar para algumas pessoas, mas eu percebi que não funciona para mim. Ser agressivamente lembrada a cada 10 minutos que eu "deveria estar escrevendo", levar "tapas de amor" cada vez que eu falo sobre não conseguir escrever, leitores críticos que "te machucam para o seu bem". É como se a filosofia do "quem quer dá um jeito, quem não quer inventa uma desculpa" do empreendedorismo nacional tivesse se enfiado no universo literário, sem levar em consideração que cada escritor é uma pessoa e cada pessoa tem necessidades diferentes às quais se adaptar.

"Isso aqui tá bom."

Eu perdi a conta das vezes que eu chorei querendo ter alguém que cuidasse da minha carreira literária comigo. Alguém que me ajudasse a cuidar dos meus projetos, que fizesse uma publicação no Instagram quando eu não conseguisse, que respondesse meus e-mails. Mas que acima de tudo, me pegasse pela mão e me ajudasse a escrever quando eu sentisse que não valia à pena. Não alguém que agressivamente me dissesse "Você já escreveu hoje?" a cada turno do dia — alguém que me perguntasse a quantas anda meu livro porque realmente se importa e que fosse apaixonado por meus personagens tanto quanto eu sou. Alguém que me parabenizasse a cada capítulo fechado, não só a cada história concretizada. Pesquisei agentes e editores, mas sempre voltava para aquela sensação de que existia agressividade demais a cada etapa. E meus problemas de confiança me deixavam desconfortável para buscar essa pessoa em amigos.

Foram meses de terapia para que eu me desse conta de que eu não podia esperar isso de outra pessoa, quando eu não faço isso. Eu não pegava a mim mesma pela mão e me ajudava a escrever quando não conseguia —  eu me agredia, me violava por me sentir preguiçosa e inútil. Eu não conversava comigo mesma sobre o que estava me atrapalhando, com amor pela minha história — eu assumia que não dava certo porque eu sou preguiçosa e desmotivada. Eu não cuidava da minha própria rotina. Eu não me parabenizava por cada capítulo completo. Eu não cuidava com amor e carinho dos aspectos de mim que mais merecem amor.

Ser o tipo de pessoa que floresce com amor ao invés de agressividade, não te faz sem disciplina ou sem coragem. Disciplina é um ato de amor. Recentemente minha psicóloga me disse algo que me marcou: "Você não faz coisas que você não quer fazer pelos outros todos os dias? É hora de começar a fazer coisas que você não quer fazer por si mesma.". Fazer algo que você não quer, mas que vai te ajudar a se sentir melhor no futuro é um ato de amor. É dizer para si mesmo que você se respeita o suficiente para cumprir o que se promete.

Não tem nada a ver com "No pain, no gain", tem a ver com o fato de que você precisa fazer por si mesmo as coisas que faria pelos outros. Eu tenho tantas pessoas na minha vida a quem eu doaria um rim sem pensar duas vezes. Pensando assim, 15 minutos de exercício por mim mesma, para ajudar na ansiedade, diariamente é muito mais fácil do que uma cirurgia. É amor, mesmo que seja chato e cansativo.

"Eu sou escritor, Jess. Nós criamos vida."

Eu sei que pode estar parecendo que eu estou te mandando ter disciplina pra conseguir escrever, mas não. Estou te mandando ter paciência e compreensão. Você nunca chamaria alguém que você ama de preguiçoso, de folgado, de burro e nem nenhuma das coisas que chama a si mesmo quando não consegue fazer o que se propõe a fazer. (E se chama, você é um imbecil). Não tem porque se machucar dessa forma. E mesmo que você não queira ser gentil consigo mesmo, agora você vai ter que ser. Mesmo que você sinta que não merece, você também não é gentil com gente que não merece o tempo inteiro? Na rua, no trabalho e até em casa? A gente aprende a respeitar autoridade muito mais rápido do que aprende a respeitar a si mesmos, mas na nossa vida, a maior autoridade somos nós.

Então, se você estiver com dificuldade em escrever no momento, pare e respire fundo. Como você se sente? O que você faria ou o que você diria se um amigo se sentisse do mesmo jeito? Às vezes, não há nada a ser dito que possa ajudar, mas você se sente melhor com a cama arrumada, os livros no lugar, com um copo de chá na mão. Todos esses passos que você toma para se sentir melhor te ajudam a longo prazo. 

Converse consigo mesmo e observe a si mesmo. Você nunca vai conseguir superar seu bloqueio se não souber o que está causando ele. É medo? É ansiedade? É falta de tempo? É cansaço? Falta conhecer mais sobre seus personagens? Sobre o seu universo? Falta estudar mais? Você está incomodado com as suas habilidades de escrita? O que está te atrapalhando? O que você faria para ajudar alguém que está passando pela mesma coisa?

Não existe vergonha alguma em perceber que você precisa de mais tempo. Mês passado, quando eu planejei o Mês Literário e as aulas de lançamento da mentoria, eu não esperava que meu próprio corpo fosse me sabotar. Minha crise de depressão veio logo depois da aula experimental, simplesmente porque a parte traumatizada do meu cérebro foi para o modo auto sabotagem e não me deixou ficar feliz e ter reações saudáveis à aula, que foi exatamente do jeito que eu esperava. Eu imediatamente assumi que não merecia ter orgulho de mim mesma. Eu fui tão cruel comigo, tão violenta, que resultou em uma semana de depressão profunda que reabriu feridas que eu imaginava que tinham fechado há muito tempo. Foi na sessão de terapia no fim daquela semana que minha psicóloga disse o que eu citei anteriormente: Eu precisava ser gentil comigo mesma, mesmo quando eu sinto que não mereço.

Nas semanas seguintes, eu fui de "fazendo somente o que era absolutamente necessário", para "fazendo uma coisa de cada vez", para "respeitando a minha intuição sobre o que eu ia fazendo". Paciente e suavemente, eu fui me readaptando e ouvindo à minha própria intuição. Eventualmente, isso resultou neste post. E mesmo que eu não consiga voltar aqui na semana que vem, com outro post, esta semana eu consegui. E eu vou comemorar, com pão de queijo e chocolate.

Nos vemos assim que der,

G.

P.S.: Gostou da minha forma de ver o processo de escrita e quer que eu te ajude a terminar seu livro? Vem saber mais sobre "Quero terminar meu livro - a mentoria".