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Na última semana e meia, eu fui de animada para escrever este post para com medo de escrever este post, chegando à necessidade de escrever este post simplesmente porque eu preciso colocar esses pensamentos e sentimentos para fora agora. Para que eu possa aproveitar dia 18 da forma mais normal possível. Existe uma chance não-negativa de que eu acabe postando isso sem sequer editar, porque isso aqui será uma vomitada de palavras. Um pequeno alerta de conteúdo para profundo desespero existencial. Se não quiser uma crise, não leia.

Caso você tenha encontrado este post por acidente, porque está passando pelo mesmo momento da vida que eu, ou porque jogou sua crise existencial no Google, vou me apresentar. Oi, meu nome é Giulia! Desde o meu 14º aniversário, eu posto neste blog sobre como eu me sinto sobre a nova idade que eu estou completando. Eu faço 24 anos em 24 horas, o que marca 10 anos do começo desta coluna. E por mais que eu adore esse ritual e seja uma mulher de tradições pessoais e estranhamente específicas, envelhecer não significa a mesma coisa que significava quando eu era adolescente. E eu estou morrendo de medo.

O último ano foi um dos piores da minha vida. E por mais que eu já tenha falado sobre isso, eu me vejo contemplando isso novamente menos de dois meses depois enquanto embarco em uma nova idade. Ter vinte e poucos não é a mesma coisa de ser adolescente: enquanto dos 13 ao 19 eu sofria mudanças violentas em cada ano e não me reconhecia ao fim deles, dos 20 aos 23 eu me senti forçada a decidir quem eu queria ser para sempre. O motivo pelo qual 2018 não parece ter sido 4 anos atrás é que todos os dias dos últimos 4 anos estiveram suspensos além do tempo.

Se alguém me dissesse "Você morreu aos 20 e tem sido um fantasma vagando pelo mundo/purgatório/inferno há quase 4 anos." e eu diria "É, faz muito sentido". Minha psicóloga diz que eu preciso me conectar comigo mesma e com o mundo, mas eu não sei se ainda consigo encontrar a mim mesma ou ao mundo. Eu não me sinto velha, mas me sinto exausta. Como se o fim da minha vida estivesse chegando, mesmo sem ter vivido nada. E enquanto isso assusta meu lado mais supersticioso, eu sinto que tenho empurrado minha própria existência com a barriga pelos últimos dois anos. A culpa de sobrevivente é a companheira do café, almoço e jantar, mas a gente sub-vive, pelas pessoas que não puderam viver.

Eu estou suspensa em modo de sobrevivência... E sei que não sou a única a me sentir assim.

Ter 20 e poucos anos na década de 2020 é sobreviver pela força de pressões opostas: “Você tem que parecer feliz o tempo todo” mas “Felicidade é coisa de criança. Cresce". Você nunca será amada se não amar a si mesma” mas “Sem o amor, a admiração e a inveja dos outros não se consegue nada”. “Você precisa estudar pra ser alguém na vida” mas “Diploma sem experiência, a gente não quer no momento”. “Durma, descanse, cuide de si mesmo para ter uma longa vida” mas “Se não responder em 10 minutos é sinal de desinteresse e prova de que essa geração falhou”. “As pessoas precisam ser mais autênticas” mas “Não reaja com tanta efusividade. Controle-se”. “Só você pode salvar o mundo” mas “nem vale a pena tentar”.

A vida não faz o mínimo sentido e é difícil não ser pessimista quando você vive na realidade que os filmes de apocalipse te alertaram contra. Minha geração tem a sobrevivência como estilo de vida, nunca podendo viver as promessas que deixaram pra gente. Fomos criados por pais que só queriam “nos dar uma vida melhor que tiveram” e a certeza de que não poderemos fazer o mesmo pelos filhos que teríamos é a maior falta que poderíamos cometer. Como se estivéssemos falhando com alguém que nem existe.

E no meio de tudo, no mais profundo caos, nós encontramos sentido em um filme mal feito dos anos 2000, em um livro onde o casal fica junta no final, em cantar música sobre fazer 30 anos gritando em cima da cama apesar de só estar fazendo 24. O sentido em abraçar um gato ronronante, em criar teoria sobre série que ainda não saiu, em dancinhas do TikTok e em assistir gente rica sofrer em reality show. As risadas são rasas, mas a felicidade está enterrada profundamente no âmago do ser — uma sementinha buscando a luz do sol. Nós buscamos sentido porque fomos feitos pra lutar e sobreviver é a batalha mais intensa pela qual a gente passa.

23 foi difícil e eu não faço a mínima ideia de como 24 será. Eu costumava vir aqui e fazer uma previsão de como meu ano seria usando palavras simples. Este ano, eu estou aqui, completamente abismada — em frente ao abismo — sem saber como será o dia de amanhã. Ainda assim, faço planos pros 25. Coisas que quero fazer antes dos 25. Coisas que quero fazer depois que meu córtex pré-frontal tiver terminado de se desenvolver. Porque tudo que eu posso fazer é continuar sobrevivendo e buscando sentido no que eu conheço. Tudo que eu posso fazer é prometer amar e deixar a sementinha de felicidade dentro de mim germinar.

Feliz quase-meu-aniversário.
Até breve,
G.