Por algum motivo que eu ainda não entendi (sério, sem falsa modéstia) o conto que eu fiz em parceria com algumas pessoas do Facebook fez bastante sucesso por aí e se tornou o post mais visto e comentado do blog (o que não é lá muita coisa, mas ok). E depois de muitos pedidos desesperados e com o CAPS LOOK LIGADO (aqui, no twitter, no facebook, etc), eu resolvi escrever a continuação do conto. Realmente deu muito trabalho. Eu ia postá-lo na quarta, mas contei por que não deu. Depois disso ainda levei três dias para conseguir terminá-lo, então eu realmente, realmente mesmo, espero que vocês gostem. E divulguem. Aqui vai:

"Elizabeth conheceu Amanda da forma mais clichê que se podia imaginar. Jardim de infância, ambas se sentiam excluídas e isso uniu as duas que são amigas desde então. Já Lucas, ela conheceu de uma forma mais longa e confusa: O filho de um amigo de um amigo da mãe dela apresentou os dois que no início não se gostavam muito, mas no final acabaram se apaixonando e já namoram há dois anos. Pensando bem, isso é clichê também. Mas a questão é, conhecendo os dois, Elizabeth não conseguia ver nenhuma forma de os dois serem irmãos. Aquilo era tão improvável quanto uma melancia lilás. E apesar disso, Lucas acreditou em tudo que Lise disse depois de ser atacada por aquela memória. Amanda, nem tanto.
Amanda não tinha nenhuma lembrança de quando era criança. Não se lembrava de nomes, datas, ocasiões, simplesmente nada. Seus pais adotivos tinham a encontrado toda suja de lama enrolada como uma bolinha, deitada sobre a neve e sob uma árvore em uma manhã de natal. Ela não lembrava nem do nome. O único motivo para se chamar Amanda, era porquê era a única palavra que sabia escrever na época, com apenas 5 anos. E apesar de seus pais adotivos também serem bruxos, Amanda acha que a magia é alguma espécie de maldição para ela. Por isso só usa a magia quando é extremamente necessário. Por isso que, agora, em seu quarto, junto a Lucas e Elizabeth que acabaram de contar "a notícia" para ela, ela recusa-se a admitir que é a bruxa mais poderosa do mundo, e recusa-se a fazer o único feitiço que provaria ser irmã de Lucas.
- Isso é ridículo, gente. - Ela diz, encarando os dois - Completamente ridículo.
- Não é não. Pra falar a verdade faz muito sentido, Amanda. - Elizabeth diz, acostumada a esse tipo de teimosia.
- Que parte?
- Vocês dois são adotados. Você não tem lembranças da sua infância e provavelmente tem algum trauma sobre magia. Sem falar que os olhos de vocês dois são exatamente iguais.
Eles se olham. Elizabeth está certa. Os olhos dos dois são do mesmo tom de castanho meio vermelho, insuportavelmente intenso.
- Ok. Talvez você tenha razão. - Amanda diz suspirando - Mas para e pensa, quais são as chances de isso ser verdade?
- Eu sei que as chances são pequenas. - Elizabeth diz - Mas podemos estar falando de algo mais sobrenatural.
- Sobrenatural? Você quer dizer como forças malignas, profecias e tudo mais? Você acredita mesmo nesse tipo de coisa, Lise.
- Nós somos bruxas! Como você pode não acreditar em qualquer coisa?
Amanda dá de ombros.
- Eu acredito em má sorte.
Elizabeth revira os olhos. Pela primeira vez Lucas entra na conversa:
- Amanda, eu também não acredito fácil nesse tipo de coisa, mas você não viu o que eu vi. Quando Elizabeth foi tomada era tão real, tão poderoso. Eu nunca a vi daquela forma. Se você visse acreditaria que é verdade...
Amanda suspira.
- Que pena que eu não vi então..
- Ah, quer saber? Acredite no que quiser, quando isso prejudicar você depois, não diga que eu não avisei. - Elizabeth diz, batendo o pé com força ao sair do quarto.
Lucas suspira e a segue. Amanda revira os olhos e se joga na cama.

Está extremamente escuro. Elizabeth mal consegue ver as próprias mãos. Ela não sabe onde está e nem como foi parar aí. Até que um grito agudo corta o ar e ela olha na direção do grito. Em seguida um barulho insistente, como uma especie de estática, daquelas que a gente ouve quando a TV ou o rádio ficam fora do ar. Lise não consegue enxergar nada, mas distingue uma voz no meio do barulho:
- Então, Amanda. Você realmente achou que eu nunca mais fosse encontrar você?
Um frio percorre sua espinha e é seguida por uma onda de culpa. Elizabeth conhece aquela voz. E é esperta o suficiente para saber que isso é um chamado de sonho (uma especie de feitiço de emergência que um bruxo usa pra chamar o outro). Amanda está em perigo. Lise deveria ter insistido mais.
Mas agora é tarde, ela se foca no sonho tentando entender de onde o chamado vem.
- Você, - César diz, devagar como que saboreando cada palavra - sempre foi uma garotinha perigosa, Mandy. - Amanda solta uma especie de rosnado. Ela odeia ser chamada assim - Sempre imprevisível, explosiva em vários aspectos, fujona. Ainda não entendo porque você fugiu de mim. Eu não queria mais matar você, lembra?
Outro grito agudo corta o ar e Elizabeth geme. Ela queria poder fazer alguma coisa, mas mesmo que conseguisse ver o que está acontecendo não conseguiria ajudar de dentro do sonho. Ela se concentra ainda mais, apesar do som insistente de estática deixá-la tonta.
- Porque você fugiu Amanda? E mais importante: Como você fugiu?
Amanda apenas geme, como uma cãozinho machucado.

E é nesse momento que Elizabeth acorda, suando frio. Isso acorda Lucas que dormia profundamente com o braço descansando na barriga da namorada (ele não quis desgrudar dela nem por meio instante depois do que ele chamou de "possessão" - o que sempre faz Elizabeth revirar os olhos - e a mãe de Elizabeth deixou ele dormir na casa delas. Desde que com a porta aberta).
- O que aconteceu? - Ele diz sonolento.
- Sua irmã. - Elizabeth diz entredentes. - Acabou de me mandar um chamado de sonho. Ela foi capturada novamente. Se ela não fosse tão teimosa..
- Lise! Não foi culpa dela! - Lucas diz agora completamente acordado.
- Eu sei. - Ela diz ainda brava. Ela não consegue evitar. As vezes parece que tudo que ela sente é filtrado e transformado em raiva.
- Onde ela está?
- Não sei.. havia uma espécie de estática no fundo e estava muito escuro no lugar.
- Estática? Deve ser um lugar selado. Amanda deve ter precisado de muita força pra fazer esse feitiço.
Isso deixa Elizabeth culpada outra vez, mas não por muito tempo. Ela suspira.
- E agora? O que vamos fazer?
- Eu diria um feitiço de localização pra achá-la, mas ela está em um local selado então...
Eles suspiram juntos.
- Quer bancar o detetive? - Ela pergunta depois de alguns segundos de silêncio pensativo.
- Claro. Por onde começamos?
- Pelo começo...

São quase cinco da manhã quando eles chegam a casa de Amanda. Ainda está escuro e Lucas e Elizabeth acharam melhor entrar pela janela a chamar os pais de Amanda, o que na verdade acaba sendo bem mais fácil do que eles acharam que seria. Eles sobrem pela janela e aterrissam no quarto de Amanda e começam a procurar alguma coisa que leve a algum lugar.
O quarto parece intocado. Nada está fora do lugar, bagunçado nem nada do tipo. Está tudo na perfeita ordem como Amanda sempre deixa. Você nunca acreditaria que isso é um quarto de adolescente. Amanda é exageradamente metódica. Lucas e Elizabeth procuram papéis jogamos, sapatos espalhados ou qualquer coisa que possa provar o rapto de Amanda. Mas não acha nada. Está tudo tão perfeito que chega a ser assustador. Elizabeth suspira.
- Não tem nada de errado. Está tudo perfeito!
Lucas fica em silêncio, pensativo. Então de repente sente alguma coisa.
- Talvez seja exatamente isso..
Lise ergue uma sobrancelha.
- Como assim?
- Talvez seja exatamente por estar tudo perfeito que deveríamos estar preocupados.
Ela aperta os olhos.
- O que você quer dizer?
- Que talvez ao invés de procurarmos algo que esteja fora do lugar ou faltando, deveríamos procurar aquilo que está sobrando.
- Isso não faz muito sentido.
- Talvez devêssemos pensar em algo que Amanda nunca tira de perto dela. Algo que ela levaria pra qualquer lugar, mas que ela deixou aqui.
Elizabeth cruza os braços.
- E o que seria isso?
- Você é a melhor amiga dela...
Elizabeth suspira e pensa. Algo que sempre está por perto de Amanda? Além da teimosia, da raiva e e do pessimismo, ela não conseguia pensar em muito. Então ela se lembra de algo.
- Bem, tem esse pingente, com uma turquesa. Minha mãe fez uma pulseira e deu para ela de presente quando ela fez 16 anos. A turquesa é relacionada a cura. Você sabe que Amanda não acredita nesse tipo de coisa mas por algum motivo ela usa essa pulseira o tempo todo. Mesmo assim não acho que isso possa significar muito.
Lucas une as sobrancelhas.
- Espera. Você quer dizer.. um pingente de turquesa... - Ele puxa a corrente onde fica o pingente em forma de rosa, de traz deste, ele tira um pingente com uma pedra roxa - Como esse? Sua mãe me deu ele no meu aniversário de 16 anos.
Elizabeth suspira.
- Ok. Então talvez signifique alguma coisa.
- Sim. Talvez. - Ele suspira - Como sua mãe sente esse tipo de coisa?
- Se eu disser que talvez seja apenas uma questão de acreditar soaria muito "Disney" pra você?
Ele sorri.
- Não...
Ela sorri de volta.
- Então tá.. a gente tem que procurar essa pulseira por aqui?
Ele balança a cabeça. Eles começam a procurar movendo as coisas de lugar com cuidado para não fazer barulho. Não leva muito tempo até que Lucas ache o pequeno amuleto em baixo do travesseiro de Amanda.
- Ela provavelmente deixa aqui enquanto dorme. - Ele diz suspirando enquanto brinca com a pulseira nas mãos.
- O mais surpreendente é o fato de ela usar isso geralmente.. - Lise diz encarando o pingente.
Ele dá de ombos.
- Talvez ela ache que precisa de cura.. Ou, já que agora eu estou me tornando uma versão masculina adolescente da sua mãe eu acho que alguma força mística poderosa a convenceu subconscientemente a usar o amuleto o tempo todo para que um dia ele servisse para salvá-la de um mal misterioso.
Elizabeth fecha os olhos.
- Essas coisas tem que parar de fazer sentido.
Ele ri e então para.
- O que nós vamos fazer agora?
- O que você acha que devemos fazer?
- Não faço a mínima ideia.
Ela suspira.
- Hmm, talvez devêssemos tentar aquele feitiço de busca..
- Mas ela está em um local selado..
- E nós temos o irmão dela, que ironicamente é o bruxo mais poderoso do mundo e ainda temos um amuleto que ela usava o tempo todo. Você tem uma ideia melhor?
Ele suspira.
- É só que, isso pode ser perigoso pra ela.
- Eu sei, mas o que mais podemos fazer?
Ele apenas suspira outra vez e concorda com a cabeça.

- ELIZABETH! - O grito era cortante, frio, doloroso tanto pra quem ouvia quanto pra quem gritava.
Elizabeth estava correndo, e Amanda estava bem ao seu lado. Pensando em retrospectiva ela não conseguia se lembrar de como as coisas tinham passado de estranhas a perigosas no espaço de 1 semana. Desde aquela tarde em que fora visitar Lucas, tudo mudou. Mas ela estava cansada de todos os "e se.."s que correram pela cabeça dela, quando finalmente conseguiu localizar a amiga - bem no fim da rua, num porão de uma casa abandonada (tão óbvio que deixa de ser óbvio?) - e quebrar o maldito feitiço que selava o local, o que não seria possível não fosse pelo bruxo mais poderoso do mundo. Mas foi aí, que as coisas começaram a desandar.
Quando um bruxo, especialmente um bruxo poderoso como César, sela um lugar ele naturalmente sente quando o feitiço de selagem é quebrado. E também tem plena consciência de tudo o que acontece no lugar que havia selado. Lucas e Elizabeth sabiam disso. Mas mesmo assim, esperavam não ter que encontrar com o bruxo no caminho para salvar Amanda. No início realmente parecia que ia dar tudo certo. Eles caminharam devagar e em silêncio procurando por qualquer som, até encontrar a entrada para o porão no fundo da cozinha. A casa estava completamente silenciosa enquanto eles abriam a porta do porão. E então no segundo seguinte, César estava lá, rindo malignamente.
- Vocês não vão consegui entrar. - Ele disse, dando de ombros de forma irônica - Tem outro selo aí.
Por meio segundo, Elizabeth ficou paralisada. Aquela voz fria era muito mais aterrorizadora do que em todas as visões e sonhos que ela teve. O rouco naquela voz soava muito mais agudo do que poderia parecer. Os ouvidos de Elizabeth doíam ao ouvir a voz. Ela perdeu a coragem de se mover. Lucas, por outro lado permanecia parado, não por medo, mas por surpresa. Ele não conseguiu de deixar de notar os olhos, o formato do rosto, a semelhança..
Elizabeth suspirou fundo, tensa. Então ela se lembrou do que a mãe de Lucas disse naquela visão. Ela saberia o que fazer. Então deixou as coisas rolarem.
Cesar ri e suspira.
- É realmente a cara de Susan deixas as responsabilidades para crianças. Simplesmente não conseguiu me vencer e transfere a responsabilidade pra única pessoa que poderia. Mas a questão é, essa pessoa quer? Você quer, Lise?
- NÃO A CHAME DE LISE! - O grito veio involuntariamente, do fundo na garganta de Lucas. Com tanta força que Elizabeth sentiu toda casa tremer. Ele não pode evitar, estava chocado com a verdade surgindo na frente dele.
Os olhos de Cesar flamejaram. Mas ele não saiu do lugar.
- Eu chamo minha filha do que quiser, rapaz.
Elizabeth prendeu a respiração.
- Sua o quê?
Ele apenas sorriu.
Por meio minuto tudo parecia explodir em volta de Lucas. Ninguém melhor do que ele conhecia a profunda fraqueza de Lise. Ele foi o único que viu as lágrimas nos olhos dela após todos os sonhos que ela teve com o pai. Ele foi o único que conversou com ela sobre a falta que sentia do pai e do que faria para que ele estivesse lá.
- Se você parar pra pensar faz muito sentido. - Cesar começa a dizer, andando pelo pequeno espaço da cozinha - Meu nome é Cesar Bulevard. Eu conheci sua mãe em 1973. Ela era incrível. Forte, poderosa. Exatamente o tipo de mulher que eu queria pra ter um filho meu e dar prosseguimento a minha linhagem. Mas eu não quis criar raízes. E graças a Deus, nem ela. - Ele sorri - De qualquer força, eu fui embora logo antes de começar minha implacável perseguição aos gêmeos. Claro que foi muito difícil graças a Susan, mas no fim das contas.. - Ele dá de ombos.
- Não pode ser.. - Lise diz, atônita.
- Claro que pode, querida.
Isso a deixa irada.
- NÃO ME CHAME DE QUERIDA. E eu não acredito em uma palavra do que você disse. Minha mãe teria me dito.
Cesar deixa o queixo cair. Em seguida recupera-se do choque.
- Cee-eerto... - Ele diz alongando a palavra - Eu realmente esperava mais da minha própria filha, Lise. Então eu espero que a decepção termine por aqui. Você realmente acreditou que tudo que a sua mãe incentivou você a fazer era puramente por intuição e misticismo? Ah querida, há muito sobre a vida que você precisa saber.
Lucas sentiu toda a raiva que já guardou na vida vir a tona com aquelas palavras. Ele podia sentir o coração de Elizabeth ruir aos poucos enquanto ela ouvia coisas que por mais que ela odiasse admitir faziam todo sentido.
- Não pode ser verdade... minha mãe, não.. - Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.
E menos de meio segundo depois da primeira lágrima rolar, Lucy Ward estava lá. Ela permaneceu com os olhos verdes fixos no da filha que se enchiam de uma raiva incontrolável. Cesar sorriu a cena e abriu a porta do porão.
- Amanda! Suba por favor!
A respiração de Elizabeth falhou. Amanda apareceu subindo as escadas com os olhos mais vermelhos que nunca. Ela correu na direção de Lucas que a abraçou com força. Apesar de sentir Lucas ao seu lado e saber que ele se preocupava com ela acima de tudo, Elizabeth nunca se sentiu tão sozinha quanto naquele momento. E nem com tanta raiva.
- Toda sua vida preparou você pra este momento Elizabeth. E antes de escolher seu lado você precisa saber a história toda. - Ele abriu um sorriso - Dramático, não? - E em seguida riu da própria piada sem graça - A bruxaria é algo que surgiu com a criação do mundo. Apenas uma família foi agraciada com poderes. Conforme os anos passavam eles permaneciam puros, os únicos no mundo com o poder no sangue. Séculos se passaram antes que o primeiro bastardo nascesse. Ele era filho de um bruxo muito poderoso, com um parente distante, mas sem poderes. Mas apesar disso, o bebê nasceu poderoso. Com isso surgiu a segunda família com poderes, e a segunda mais poderosa. Nossa família. - Ele disse gesticulando - Depois disso só foi necessário tempo para mais bastardos e mais famílias surgirem. Foi o que destruiu o mundo da bruxaria, com certeza. A família principal nunca perdoou o homem que criou a segunda família e nem a segunda família. O desejo de vingança foi passando de geração por geração, mas nunca pode ser concretizado.
'Até você nascer. Seus poderes surpreenderam a todos desde o dia em que você nasceu, minha querida. Não sei dizer o motivo, mas os seus poderes' Ele suspirou 'Ah, os seus poderes. Eu sempre soube que seria sua responsabilidade definir quem seria o bruxo mas poderoso do mundo. Não do destino, mas seu. O da minha filha. Sangue do meu sangue.'
Aquilo foi covardia. Para bruxos, os laços de sangue são uma das coisas mais importantes para eles. Todos os bruxos estão ligados por sangue, mas os mais próximos, eram sempre prioridade. Se falar que no fundo, bem lá no fundo, Elizabeth era apenas uma garotinha que sentia falta do pai e tinha medo do que estava acontecendo. Mas sua raiva vencia qualquer coisa.
- O que eu preciso fazer? - Elizabeth disse entredentes.
- Sangue do meu sangue. - Ele disse outra vez - Direto ao ponto. Aprecio isso. Essa casa está programada com um feitiço. Apenas 3 bruxos podem sair. E desses 3 um perderá seus poderes. Mas para isso você terá que quebrar outro feitiço de selo. Você, mais ninguém. Assim que os três primeiros bruxos saírem, a casa explode destruindo os outros dois. A escolha é sua.
Toda a vida de Elizabeth passou diante de seus olhos. Todos os momentos doces em que sua mãe cuidou dela, todos os momentos em que ela aguentou sua rebeldia, os momentos em que ela fez o máximo para suprir a falta de Elizabeth sentia do pai. Ah, a falta que ela sentia do pai. Durante todos os anos, Elizabeth sentiu muita falta do pai. Os laços de sangue são muito fortes para os bruxos e aquele laço quebrado fez muita diferença na vida dela. Ela imaginou o que teria acontecido se o pai fizesse parte da vida dela, desde que ela nasceu. A escolha seria mais fácil...
Por outro lado, existiam Lucas e Amanda. Seu amor verdadeiro e sua melhor amiga. Entre eles não haviam mais mentiras, segredos, nem decisões perigosas. Lá no fundo ela sabia que deveria escolher eles, seu coração dizia isso. Por mais que uma parte dela ridicularizasse sua intuição, outra parte estava gritando para segui-la. Mas e se ela só se sentisse assim por causa das visões? Visões enviadas pela mãe de Lucas e Amanda!
Mas ainda assim, se sua mãe contasse pra ela a verdade sobre seu pai...
E além disso outra coisa estava em jogo. Se ela saísse com Lucas e Amanda poderia perder os poderes. Ela estava disposta a perder os poderes por eles? Estava. Ela sabia isso no fundo da sua alma. Ela morreria por Lucas assim como morreria por ela. E Amanda.. ela podia ser teimosa e mandona, mas era sincera e estava lá pra tudo, sempre. Elizabeth sabia que ela faria qualquer coisa pela amiga.
E seu pai.. Ela não queria chamá-lo de seu pai, mas ela sabia. Seu sangue sabia. Ela deveria defende-lo como qualquer bruxo faria. Mas suas razões de sobrevivência eram malvadas. Ele matara Susan e tentara matar Amanda. Ele machucou uma garotinha. Por mais que Elizabeth soubesse o que qualquer um faria, ela não era qualquer um. Ela nunca teve um pai de verdade. E ela não queria fazer parte daquilo. Não queria se vingar. Por mais que sentimentos obscuros a guiassem as vezes, eles não eram ela. Eram apenas uma parte distante. "Você saberá o que fazer". E ela sabia. E só precisou de um olhar rápido para Lucas para que ele soubesse sua decisão..
E agora lá estavam elas, Amanda e Elizabeth correndo e sendo seguidas por Lucas, enquanto o grito de Lucy ecoava pela casa vazia e Elizabeth recitava as palavras que livrariam a casa do feitiço. E quando o feitiço é quebrado ela abre a porta e sem olhar pra trás sai da casa.
E quando a casa abandonada explode em uma chama roxa silenciosa. Elizabeth não chora. Apenas encara o fogo destruir tudo em silêncio. Amanda a abraça com força e quando se afasta está sorrindo. Seus olhos agradecem silenciosamente, sem aquele brilho vermelho que viu mais cedo. E Elizabeth sorri quando percebe que tudo deu certo. Sua amiga se livrou de sua maldição."