Eu odeio preconceito literário. Me esforço ao máximo para não julgar o que uma pessoa gosta de ler, o que, na verdade, não é tão difícil já que eu tenho um gosto literário super exótico e não quero que ninguém me julgue por isso. Eu já tinha até dito que queria escrever um post sobre o assunto, mas na mesma semana blogs populares fizeram uma semana de posts sobre o assunto e eu fiquei com medo de acharem que eu tinha copiado. Eu cheguei até a ler um post de um dos blogs e fiquei super decepcionada pelo fato da autora, como forma de defesa para a crítica que havia recebido por não gostar de "livros adultos", criticar seu crítico de 16 anos por ler O Príncipe, livro que ela disse que não acrescenta nada em um garoto dessa idade (Bem, eu tenho 16 anos e quero ler O Príncipe, por causa de The Borgias. Algum problema com isso?). O fato é: todo mundo, mesmo quem odeia preconceito, tem um pouquinho de preconceito (Que de acordo com o dicionário, quer dizer, juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento sério.)
Porque eu to falando isso? Digamos que a minha reação diante do livro que minha psicóloga pediu para que eu lesse, que dizia em letras chamativas "Pare de se sabotar e dê a volta por cima", não foi 100% positiva. Existe uma cultura não dita que faz com que nós - e por "nós" eu quero dizer nós, adolescentes viciados em livros - nem cheguemos perto da prateleira de livros de autoajuda nas livrarias, ou nem olhemos duas vezes para as capas dos livros desse gênero expostos nas prateleiras das Lojas Americanas. O motivo não é exatamente o mais justo: a gente não quer ser o tipo de pessoa que gosta desse tipo de livro. Quer dizer, pense e diga: que "tipo de pessoa" você imagina lendo auto ajuda? O primeiro grupo que eu consigo pensar é o de ex-Big Brothers. E eu definitivamente não quero ter a minha imagem relacionada a esse programa de TV. E lá estava eu, entre o livro e o preconceito, sem nada novo pra ler além de um livro recomendado por uma das pessoas que eu mais admiro nesse mundo. Com mais prós do que contras (na verdade, sem nenhum contra lógico), eu comecei a ler o livro no dia seguinte indecisa sobre o que esperar.
É claro que meus PRÉ-conceitos eram PRÉ-cipitados. The Flip Side - o título original de Pare de se sabotar e dê a volta por cima - é sobre comportamentos destrutivos que nos impedem de conseguir alcançar seu potencial máximo na vida. É claro que falando assim o livro parece entediante e clichê, mas ele é tudo menos isso. Não estamos falando de "acredite em si mesmo", "seja positivo" esse tipo de blá, blá, blá. Estamos falando de "destruindo tudo que você acredita e recomeçando do zero".
De cara, ou melhor, de capa, o livro já me motivou a querer abrir uma editora no Brasil quando eu for uma escritora influente. Quer dizer, a tradução do título me provou que existe algo muito errado com o que quer que as editoras atuais estejam fazendo. (Sejamos lógicos, você iria preferir ler um livro que se chamasse Pare de Se Sabotar e Dê a Volta Por Cima ou algo que fosse como "O lado da virada" ou "O lado de dentro"?) Logo em seguida, o livro apresentou uma sequência de casos daqueles que te fazem se relacionar mesmo que sem querer. Páginas e mais páginas depois minhas crenças iniciais a respeito do livro e de mim mesma estavam des-trui-das. Definindo crenças iniciais: quando eu me dei conta de que o livro falava sobre coisas que você faz que te impedem de ser bem sucedido, eu pensei logo que ele não poderia me ajudar em nada porque eu achava que a única coisa que me impedia de ser bem sucedida era a preguiça. Eu não sabia de nada. 
O livro foi escrito após um estudo que envolveu pessoas bem sucedidas do mundo todo. Ele nos apresenta um novo conceito de auto sabotagem: as Limitações Pessoais. O livro não é sobre reconhecer que você é bom, é sobre reconhecer que você é imperfeito, que você tem defeitos. Explicar muito sobre elas seria dar spoiler do livro, mas para que meu ponto de vista seja colocado em exposição, eu vou adaptar a sinopse original do livro que peguei na Amazon.
E se, em vez de se concentrar nas coisas que você já faz bem, você sabia como identificar honestamente suas fraquezas? Esses comportamentos habituais que continuamente ficam no seu caminho e impedem você realmente de ter sucesso na forma como você sabe que você podia? São esses pontos fracos, suas "limitações pessoais," que são realmente que impedem o seu sucesso. Se você pudesse corrigir esses comportamentos, você veria um aumento dramático na produtividade e uma melhoria real em todos os aspectos de sua vida. Essa é a chave para o programa de Flip Flippen: ele ensina centenas de milhares de pessoas a cada ano como identificar os obstáculos pessoais e tomar as medidas necessárias para superá-los.
Falando da minha vida profissional, o que eu mantive na cabeça durante a leitura é o fato de fazer um ano e meio desde que meu livro terminou de ser escrito, e eu ainda não ter terminado o processo de revisão. O livro também levou 2,5 anos para ser escrito. Na minha cabeça, o motivo dessa demora era a preguiça. Depois de ler o livro eu descobri que o problema é que eu não consigo me concentrar. Você pode até pensar "dã", mas não é das tardes que eu passo sem conseguir escrever ou sem fazer o dever de casa porque minha cabeça está voando que eu estou falando. Eu digo me concentrar de uma forma completa, manter o foco em uma coisa de cada vez.
Eu tenho ideias malucas e as coloco em prática, mesmo sem terminar as ideias que já tinha começado, crendo que eu vou conseguir levar a diante, quando na verdade isso seria impossível. Eu fiz uma lista de projetos que eu comecei desde março de 2013 (quando o livro terminou de ser escrito) e setembro de 2014 e fiquei em choque com a minha capacidade de me enrolar e acabar destruindo tudo que eu queria. Só no momento, eu estou envolvida com o PDF de As Crônicas de Kat, escrever "Infelizmente, Rio, eu te amo", terminar de revisar MUV (cuja publicação parece cada dia mais distante) e a Lista de Inverno, sem contar escola e vestibular. Quem termina qualquer coisa desse jeito?
Eu sei que esse desastre pessoal parece totalmente óbvio para quem está observando de fora. Uma pessoa sã sabe que o que eu me forcei a fazer no Mês Literário, era inumano. Mas acreditem ou não, eu achava isso totalmente normal. Eu tenho essa mania de querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo e provar que eu estou em controle de tudo e que sou capaz de sobreviver a situações extremas e de lidar com a pressão. Mal percebia eu que era justamente essa mania que me fazia perder o controle de tudo e deixar de fazer as coisas que eu mais queria no universo. Não vou dizer que eu achava totalmente normal fazer tantas coisas, eu sabia que tinha algo errado, mas ao invés de pensar sobre auto controle, eu me odiava por não conseguir fazer tudo que eu inventava. Eu não percebia que era simplesmente impossível.
E é justamente nisso que o livro se foca, em mostrar como atitudes que todo mundo percebe que são danosas, passam despercebidas por nós mesmos. É perfeitamente normal terminar The Flip Side pensando "como eu fui tão cega em relação a isso?". Nesse post, eu me abri em relação a minha experiência com o livro porque eu sei que explicar é melhor do que simplesmente dizer que o livro é bom. Aliás, foi uma jogada de mestre da minha psicóloga me dar um livro desses para ler. Primeiro porque eu amo ler e livros tem mais efeitos sobre mim do que pouquíssimas coisas. Por outro lado, odeio conselhos e a menos que eu peça por eles, as chances de eu seguir um é praticamente nula. Mas claro, a coisa muda bastante de figura quando eu leio esse conselho em um livro. Livros são livros né. Por isso que agora eu virei uma pessoa pró-autoajuda. Não irei mais julgar ninguém por procurar ajuda em palavras... Afinal, não é o que todos nós leitores e escritores fazemos todos os dias?
G.