Considerando o fato de que meus professores são mais indecisos que geminianos com ascendente em libra (OOh, eu já comecei o especial falando em signo. Isso será interessante), eu me declarei de férias e aqui estou, pelo quinto ano consecutivo com o especial que tem a fama de ser o mais popular do blog: o Diário de Bordo. Para os leitores novos que não conhecem: o DdB é o especial (coluna?) de férias do blog que começou em 2011 quando eu viajei para a cidade onde eu nasci (que depois de muitas tretas é onde eu moro agora) e quis falar sobre detalhes da viagem. Nos anos seguintes, o especialvoltou para falar sobre o que eu ando fazendo nas férias, quer eu viaje, quer não. Possivelmente porque todo mundo está de férias e online, o Diário de Bordo normalmente é o especial mais lido do blog, mas recentemente tem sido alcançado pelo Mês Literário. O desempate definitivo acontece nesta edição.
Mas chega de falar sobre o especial e vamos ao especial. Para dar início ao fim do ano e tudo que vem junto com ele vamos começar colocando para fora algo que eu guardei durante 2015: minha amargura em relação à faculdade. O último post do Diário de Bordo 4 foi sobre minha primeira semana de aulas e era uma lista de "Coisas que ninguém te contou (e que, na verdade, você não queria saber) sobre a universidade", depois disso eu escrevi 4 outros posts sobre a faculdade: Não sei, sou de Humanas (o post mais lido do ano, a menos que um milagre aconteça até dia 31), Porque eu não sinto falta (nenhuma) do ensino médio, Aqui jaz o primeiro período e "Deu tudo certo", afirma paciente de clínica psiquiátrica (que combinava a primeira semana do segundo período da faculdade com a primeira semana de NaNoWriMo). Todos esses posts são sinceros, mas tem um tom animado e positivista que deixa 50% da realidade de fora.
Sim, eu ainda amo ser universitária (não a universidade em si, o ser universitária) e continuo sem sentir falta nenhuma do ensino médio (porque só gente louca sente falta do ensino médio), mas eu preciso ser completamente sincera com vocês e mostrar as partes completamente frustrantes e extremamente enervantes da universidade. Tradução: Meu fim de ano letivo foi tão horrivelmente irritante que mesmo que faça 15 dias que eu não tenho aula, eu preciso descontar essa raiva e vocês vão ter que me engolir. Se você veio para um post feliz e contente, eu sinto muito. Preciso avisar antes que eu nunca fui tão agressiva em um texto em toda a minha vida. Sem mais delongas, comecemos o Diário de Bordo 5 com uma nova a lista:

Coisas que você precisa deixar para trás por definitivo quando entra na universidade*

*Guia direcionado para alunos de universidades públicas. Vocês das particulares gastam uns 30 mil por ano, mas não passam pela maior parte das frustrações que eu vou listar. Sortudos malditos.

1. Planos a longo prazo
Todos nós sabemos que eu só usei esse gif porque Toby Regbo com cara de bebê.
Me chamem de maluca, mas por ter pulado o primeiro ano do ensino fundamental, eu tinha essa ideia completamente louca de que terminaria a faculdade antes dos 21. Pelos meus cálculos, seria no fim de 2018, quando eu teria 20 aninhos. Isso combinava com a minha ideia de procurar um emprego lá fora em 2019 e me mudar para New York antes de 2021. Além disso, eu e uma amiga tínhamos um combinado: 2 anos depois do nosso primeiro dia na faculdade nós iríamos viajar para qualquer lugar e fazer tipo um mochilão. Então acontece que justo no meu primeiro semestre de jornalismo eu pego uma greve de 3 meses.
Agora eu estou estimando minha formatura para 2020. 2021 se eu reprovar em alguma matéria que seja pré-requisito. Se a segunda greve sobre a qual corre um rumor acontecer no ano que vem, eu me agarro a 10% de esperança de conseguir me formar antes dos meus netos. E como a faculdade da minha amiga também teve greve em datas diferentes das da minha, os calendários estão completamente fora de sincronia. (E a realidade bateu: aluno universitário fazendo mochilão no meio do curso? AHAM, ATÉ PARECE QUE DÁ). 
Basicamente, não planeje nada pelos próximos... 10 anos. No mínimo. Você, sua vida e seus calendários pertencem à faculdade. Você não tem como saber quando vai ter aula, se vai ter aula, como vai ter aula, onde vai ter aula, nada do tipo. Então apenas reserve sua vida para a faculdade e quando não tiver aula, durma. É o único conselho que eu posso dar a todos vocês.
Obs.: O primeiro que vier comentar que não passou por greve durante a faculdade, morre. :)

2. Auto-respeito
Ainda me restam mais de 6 semestres de faculdade e eu já fiz muita coisa da qual não me orgulho. Eu dormi em lugares, eu estudei em lugares, eu sofri em lugares que vocês nem poderiam imaginar. Sorri quando eu queria socar a professora no meio da cara. Engoli em seco, quando não queria ir contra o que todo mundo pensava. Sorri amarelo ao ouvir a frase "Aah, mas estudante de universidade pública tem que saber aguentar isso mesmo" porque não quis arrancar os dentes de quem me dizia aquilo. Fiquei calada quando sentia que expressar minha opinião não valia a pena... Mas eu posso expressar ela aqui.
Todo mundo é tããão revolucionário, mas ninguém quer mesmo mudar a situação atual e fazer com que "uma greve por ano" deixe de ser "o normal". Eu sempre achei que o fato de o Brasil ter um ensino de qualidade em universidades públicas (ou seja, estar no sentido contrário de países cujo ensino superior é caríssimo) fosse algo que nós pudéssemos nos orgulhar, mas claramente não é, porque aparentemente a única forma de conseguirmos o que precisamos é ninguém ir para a faculdade por 3 meses - algo que vem dado tão certo durante todos estes anos, que precisa acontecer o tempo todo! Mas claro que eu não devo ter uma opinião sobre isso porque eu nunca fui a nenhuma assembléia, já que a maioria termina depois das 18h e eu moro outro lado da cidade, em um bairro perigoso e tenho responsáveis legais rígidos. LOGO, eu engulo minhas opiniões, sorrio amarelo e vivo mais um dia de aula - se é que vai ter aula mesmo.

3. Expectativas a respeito de melhoras no relacionamento com o corpo docente*
*Nossa, o nome de esse item ficou grande.
E como é que você quer que eu deduza exatamente o que você quer??
Eu já tive até agora 10 professores, dos quais eu só tive aulas mesmo de 9 e só 4 corresponderam às minhas expectativas sobre o que é um professor universitário. Eu esperava pelos professores "leia isso, fiche isso, faça um seminário sobre isso", mas se eu quisesse professores que estão lá apenas para fazer pressão psicológica e depois não se dar ao trabalho de prestar atenção no que foi produzido por mim e por meus colegas de turma EU CONTINUAVA NO ENSINO MÉDIO. Mesma coisa para os professores que tem a incrível capacidade de ser mais desorganizados que eu. (Gente, não é fácil. Eu arrumo meu guarda-roupa de 3 em 3 meses. Eu estudo para a prova no ônibus. Eu trabalho com deadlines fazendo o trabalho de 2 meses em 6 horas e ainda assim tenho professores que conseguem ser mais desorganizados que eu!) E notas padronizadas para a turma inteira, vocês estão brincando né? Eu prefiro reprovar na matéria 4 vezes porque não fui boa o suficiente em um trabalho do que tirar 8 porque a professora ficou com preguiça e deu 8 para todo mundo. Não é mais o ensino médio onde a gente aprendia coisas que só vai usar no vestibular! É a universidade! Vocês estão formando profissionais que precisam de orientação!! Não adianta passar a aula reclamando da mídia, se a sua chance de mudá-la no futuro, formando melhores profissionais está sendo jogada pela janela com o seu completo descaso.
Além disso, eu conheço gente que cursa jornalismo em universidades particulares e públicas espalhadas pelo Brasil. Todas as vezes que eu vejo essas pessoas falando sobre o curso e sobre o que aprenderam, eu sinto um déficit absurdo no meu aprendizado. E eu não posso fazer nada a respeito, porque isso não parece ser algo que mobilize muita gente a lutar. Ou que depois de 30 anos a universidade vá querer mudar.

4. A vontade de ler

Ok, eu posso estar exagerando, minha vontade de ler não foi COMPLETAMENTE assassinada pela faculdade, mas ela foi bastante agredida e se encontra na UTI não passando nada bem. Eu posso contar nos dedos o número de apostilas que eu realmente li este ano e todas elas foram apenas por causa de seminários. Como depois tudo vira debate, eu acabo conseguindo acompanhar o assunto e aprender na sala de aula, como acontecia nas aulas das matérias de Ciências Humanas no ensino médio. Eu realmente seria capaz de produzir textos melhores em artigos e avaliações se eu lesse as apostilas, mas eu simplesmente não consigo. A ideia de ler as apostilas até o final me causa uma agonia profunda. Não, não é sono, é agonia. É como se eu fosse ficar trancada em uma sala vazia com apenas uma voz irritante repetindo a mesma coisa por horas.
E é exatamente assim que eu me sinto: a maioria dos textos teóricos são 200 páginas, sendo que as últimas 195 repetem de forma mais longa o que já foi dito nas primeiras 5. E é claro que eu sei que o teórico está tentando expor sua ideia e demonstrar como está certo através de diversas provas e referências a pensadores que vieram antes deles, mas pelo amor de tudo que há de mais sagrado CALA A BOCA. Eu já entendi e já tive como saber se concordo contigo ou não na página 5. Os maravilhosos teóricos também tem a capacidade de transformar uma frase pequena em 20 linhas. Foi algo que eu notei fazendo os slides do meu primeiro seminário no começo do ano: tudo que o cara dizia em 3 parágrafos podia ser resumido em um tópico e entendido perfeitamente bem. ENTÃO PORQUEEEEEEEEEEEE LEVAR TANTA LINHA PARA DIZER ALGO CURTO? Vocês parecem escritores desesperados no meio do NaNoWriMo. E até nós escritores de NaNoWriMo editamos e cortamos as partes desnecessárias. (O que me lembra: acho que vou tirar um novembro para escrever meu TCC - que se tudo der certo, será um livro-reportagem. Mas eu posso mudar de ideia, eu só estou no segundo semestre).
E é claro que isso afetou minha vontade de ler livros que eu realmente quero ler. Principalmente porque, presa com um livro teórico por 5 meses, eu não tenho como começar os livros que eu tenho na lista de leitura. Além disso, meu cérebro está começando a associar a ideia de ler com cansaço e agonia. Eu vou acabar 2015 tendo lido menos da metade dos livros que eu li em 2014, não porque eu estudei mais (eu tive 4 meses a menos de aulas em 2015 do que em 2014), mas porque fiquei presa com livros por meses, já que eu tenho essa regra de ler o livro que eu estou em mãos até o final. Eu sei que um monte de gente adora livros acadêmicos, amam a forma de aprender e que precisam das repetições e dos detalhes para aprender a teoria. Tenho amigos que querem seguir a carreira acadêmica e superaprovo, porque nós precisamos de professores e teóricos, mas sinceramente, no momento, minha ideia de inferno é eu, uma sala vazia e um livro teórico de mais de 50 páginas.

E esse foi de longe, o post mais sarcástico e amargo que eu já escrevi em toda a minha vida. Um pouco infantil, também, minha professora de Gêneros Jornalísticos ficaria envergonhada. Mas eu nunca me senti tão aliviada de ter posto isso tudo pra fora. Desculpas para quem está acostumado comigo sendo feliz. E esse post não deveria ter saído agora, mas sim no começo do mês, e é por isso que eu acho (eu ACHO, vai saber se vai dar certo) que teremos 3 posts esta semana. A partir da meia noite é oficialmente semana de Natal e eu estarei em modo comemorativo, já que quero fazer desse Natal um dos melhores de todos. Mas falarei disso em outros posts do Diário de Bordo.
G.