"Existem muitas e muitas coisas para se ter medo neste mundo. A estratégia mais segura é temer todas."
- Desventuras em Série (2017)
Eu poderia pensar em mil formas de descrever o caminho até Salvador e todo primeiro dia na cidade, mas mesmo tentando fazer isso com muita vontade eu não conseguiria deixar de falar sobre meu estado de saúde. E já que eu quero ser sincera sobre isso sempre, eu preciso falar. Minha ansiedade e minha depressão têm estado uma bagunça nos últimos mais ou menos 4 meses. Eu não me sinto confortável para falar sobre isso com quase ninguém, mas já que a arte mais uma vez se mostra a ferramenta perfeita para descrever minha vida, a melhor forma de explicar é com: Eu estou me tornando a Tia Josephine. Talvez não no exterior, mas na minha mente, é exatamente o que está acontecendo. (Ok, eu sei que nem todo mundo vai entender a referência, mas a Tia Josephine é a personagem de DES que disse a frase ali em cima). Qualquer coisa que eu faça me faz pensar no pior cenário possível (e como alguém que ama ler e escrever horror, meu cérebro é muito muito bom nisso) e qualquer dorzinha significa morte eminente. Isso dito, viajar com poucas horas de sono, criou o clima perfeito para que a minha ansiedade DESSE A LOUCA. Eu passei a viagem inteira nervosa, encarando a janela, pensando nas piores coisas. Tudo me deixava alarmada. Eu ficava pensando sobre como isso ia me fazer passar mal mais tarde, mas eu não conseguia me sentir mais calma. Pânico do tipo, é completamente irracional.
Na contramão, foi uma viagem bem tranquila. Nós paramos várias vezes para esticar as pernas, a estrada estava tranquila e nada de sobrenatural aconteceu. Nós chegamos a Salvador mais rápido do que eu esperava e só um engarrafamento fez com que a gente demorasse para chegar à casa da minha tia em Camaçari. Eu não exatamente tenho uma explicação sobre porque eu estava me sentindo daquela forma, exceto pelo fato de que tudo na minha cabeça está bem desregulado. E enquanto eu estou tentando me ajudar a melhorar e a não ficar tão paranoica, é complicado. Algumas coisas a gente não controla tão fácil. Ou de forma alguma.

"E eu acho que é porque minha vida é entediante." Yep. Arte explicando tudo. 
Uma das coisas que não saia da minha mente de forma alguma na viagem era como meu pai estava cansado, depois de trabalhar por dois dias e dirigir por quase oito horas. Aparentemente, eu era a única pensando nisso, talvez por tão cansada eu mesma estava. E durante a viagem mesmo, o homem não teve tempo de descansar um segundo. Quer dizer, nós chegamos, almoçamos e fomos para a piscina (depois de um tempinho, é claro), mas o tempo todo tinha gente falando que a gente precisava fazer isso e precisava fazer aquilo, transformando a viagem de 48 horas em uma maratona. Eu tenho culpa no cartório porque eu realmente queria ir para a praia depois de dois anos sem chegar nem perto e queria fazer de tudo para garantir que eu queria, mas ah, Deus, o pobre homem. Ao fim do primeiro dia, nós tínhamos passado o fim da tarde na piscina, o meio da noite em um outlet (onde eu ganhei um top da Calvin Klein e um tênis que são os novos amores da minha vida), dirigido de volta para Salvador para ir a um shopping e quase às 23h, meu pai ainda precisava voltar para Camaçari (eu e minha irmã mais nova ficaríamos na casa da nossa irmã mais velha) e ele parecia tão exausto que a boa e velha ansiedade atacou outra vez. Eu pedi para que ele me mandasse mensagem quando chegasse em casa, só para eu não surtar, mas ele nunca fez isso. Pela graça dos céus, já era a hora do meu remédio e depois de não conseguir comer nada e ficar enjoada só de sentir o cheiro da pizza que as outras pessoas estavam comendo, eu fui para a casa da minha irmã, e apaguei em um sono profundo. (O que eu imagino que também aconteceu ao meu pai).
Na manhã seguinte, eu estava na casa da minha irmã e precisava me preparar para ir no almoço que as irmãs e irmãos do meu pai estavam organizando. A ideia era ir cedo pra ir na praia de manhã, mas já que eu tinha passado mal no dia anterior, me deixaram dormir um pouco mais e me prometeram que a gente iria à tarde. O problema é que minutos depois de eu acordar, meu útero e meu endométrio resolveram que era a hora de dizer "OLAR". Muita cólica, outros remédios e vontade nenhuma de comer depois, eu só melhorei quando fiquei um tempo deitada vendo Nicky, Ricky, Dicky e Dawn (e eu posso ou não ter continuado deitada mesmo depois de melhorar, para assistir mais um episódio). Voltamos para Camaçari um pouco depois de 13h e depois de se empaturrar de feijoada e descansar um pouco, meu pai foi finalmente convencido a me levar e às minhas irmãs à praia. Claro que eu estava soltando sangue pelos fundos (e eu disse isso bastante, ao ponto de não ter mais graça), mas isso já era esperado e eu tinha ido na piscina no dia anterior, então eu não estava chateada. O que eu queria era apenas ver o mar, depois de dois anos longe dele. Eu nunca fui particularmente fã de praia, especialmente quando piscina era uma opção, mas 2016 foi um ano tão louco que eu senti vontade de tudo que nunca imaginaria em 2014. Eu passei muito tempo do ano passado desejando estar mais perto e me arrependendo de não ter ido mais à praia em 2010 (quando eu morei a 1km da praia). Queria de verdade poder passar um dia na praia como deveria ser, mas a viagem só duraria o sábado e o domingo, então eu nem podia me iludir a respeito. Fomos para a praia apenas para ver o mar e tirar fotinhos.

Fotinha da Praia de Jauá em Camaçari. Mais fotos no Instagram.
Eu queria poder dizer que rever o mar evocou toda inspiração que eu precisava para um projetinho que se passa na praia, mas isso foi um efeito futuro. Voltar a ver o mar sempre tem algo de meio louco, como a sensação da primeira vez outra vez. E ele estava tão quentinho e chamativo. Eu queria ter ficado mais tempo, entrado na água. Ter outro momento com a Giulia criança que passava 7 dias com areia na cabeça depois de ir na praia por 2 horinhas. Mas não foi dessa vez e eu saberia disso, se eu não tivesse me iludido sobre como essa viagem seria. A ideia de ficar em um rancho com piscina a alguns quilômetros da praia me deu a impressão de que a viagem era para descansar, enquanto todo mundo queria fazer tudo ao mesmo tempo. E assim, a última coisa que eu fiz foi descansar. Talvez, como eu disse no último post, eu apenas não tenha mais idade para fazer tudo ao mesmo tempo em uma viagem de fim de semana. E é por isso que eu preciso planejar minha próxima viagem (que já é daqui a 4 semanas, O QUE EU TO FAZENDO?) nos últimos detalhes, agora mesmo, para não me enrolar toda no futuro.
Além de ter ficado surtando com tudo que queriam fazer ao mesmo tempo, não aconteceu nada que valha a pena ou que eu possa mencionar no resto da viagem. Ver a família do meu pai em grande quantidade e junta depois de mais de dois anos me deu a oportunidade de fazer uma coisa que eu fiz com a família da minha mãe no Natal: Descobrir com quem eu me pareço mais! Eu disse no Twitter que uma das coisas que eu mais fiz depois que cresci um pouco foi começar a me comparar com a minha família e descobrir de quem eu puxei cada característica. Com a família da minha mãe tem sido fácil, porque eu moro na mesma cidade que a maioria, mas com a família com meu pai, só em viagens assim. E eu fiquei surpresa com o quanto eu sou parecida com a família do meu pai. Surpresa no sentido assustada mesmo. Na verdade, percebi que eu estou lentamente me tornando meu pai. Isso não é necessariamente bom, mas também faz com que eu entenda ele um pouco melhor, o que ajuda bastante no nosso relacionamento. Mais ou menos.
A viagem de volta para Jequié para mim foi mais tranquila que a de ida, não porque eu estava menos ansiosa (meu pai estava mais cansado do que ele estava na ida. Te faz ficar pensando em que tipo de viagem foi essa.), mas porque ela aconteceu à noite e assim que eu tomei meu remédio, eu apaguei feito lâmpada. No dia seguinte, nós pegamos o ônibus de volta para Conquista e estamos aqui desde então. O que aconteceu em seguida foram quatro dias de descanso, uma reunião, um fim de semana inteiro de trabalho e mais visitas familiares. Mas é para isso que as próximas partes do DdB existem. Veremos se eu consigo parar de falar sobre janeiro ainda em janeiro.
G.

P.S.: Queria ter viajado para Araruama ao invés de Salvador, só para poder dizer "Na verdade, é apenas um lago grande". Assistam a série, é sério.