Olá, e bem-vindo ao meu mais amargurado post da história da humanidade, no qual eu supostamente estou falando do Ano Novo. Isso foi surpreendentemente difícil de escrever. E toda vez que eu escrevia algo, fechava o post e não queria nem editar. Eu já estava me sentindo mal sobre os sentimentos que eu vou discutir aqui, quando na madrugada do dia 16 para o dia 17, eu tive um sonho cheio de drama sobre o assunto e fiquei bem pior. Depois disso, eu tive uma consulta com minha nova psicóloga (porque se 2018 é O Ano do Self Care, eu realmente precisava voltar para a terapia com vontade) (minha nova terapeuta é maravilhosa) e finalmente consegui organizar todos os meus sentimentos sobre o tema. Este post é sobre me sentir inadequada quando pressionada sobre temas que normalmente não são os que me causam mais dor de cabeça. Isso será divertido.
Deve ter ficado claro nos últimos dois posts que o fim do ano causou um desmembramento mental dos meus relacionamentos familiares em pequenas bolhas desformes. Basicamente, aconteceu muita coisa e eu pensei muito sobre todas elas. Então, na sessão de terapia da semana passada eu pude falar um pouco sobre elas e acabei falando muito sobre elas. Eu não entendia porque algumas coisas que não me afetam no meu relacionamento com todas as outras pessoas me afetam tão profundamente no meu relacionamento com a minha família. E enquanto eu falava, falava e falava eu me dei conta de que: Elas me afetam porque é eu quero ser querida e ali dentro, eu sinto que estou falhando e decepcionando minha família.

*voz dramática* "Eu falhei com a minha família."
Em celebração à estreia da 2ª temporada de One Day at a Time na sexta-feira, todos os gifs deste post serão de One Day at a Time. Assistam na Netflix, É A MELHOR SÉRIE DO MUNDO.
Vamos por partes: Dois tipos de comentário me deixaram chateada este ano. O número um foi sobre minha aparência. E o número dois, sobre minha vida amorosa. Eu nunca recebi comentários de "E os namoradinhos?" de verdade (e tinha certeza de que todo mundo já tinha desistido de mim), mas este ano eu sabia que seria inevitável porque seria o Natal em que minha irmã apresentaria o namorado para a família. Minha irmã mais nova. Todo mundo sempre soube que minha irmã começaria a namorar antes de mim, mas vocês precisam entender que não é só isso. É mais do que minha irmã mais nova estar namorando. Por ser a menina mais velha da nova geração, assim que pessoas mais novas que eu começam a namorar é como se as pessoas *percebessem* que eu *deveria* estar namorando também. E então veio de todo canto, como um tiroteio em câmera lenta.
Mesmo que você esteja feliz sozinha e satisfeita sozinha, quando você vê todo mundo absolutamente concentrado na inexistência da sua vida amorosa, eventualmente você começa a se perguntar se não tem nada de errado com você. Eu sei exatamente porque eu estou solteira (e um dos motivos é o mesmo pelo qual eu não mandei o pitch perfeito para o diretor de conteúdo da revista para a qual eu sonhava trabalhar aos 15 anos, mesmo que ele me siga no Twitter: porque eu sou cagona), e também sei exatamente porque, mesmo que eu estivesse namorando, as chances de eu optar por não dizer nada à minha família seriam gigantescas. Ainda assim, parte de mim se perguntava, sob as luzes de Natal, se havia algo de errado comigo.
Não é como se eu não falasse da minha vida amorosa, porque eu falo. Pra cacete. Claro que não com a minha família, mas não é como se eu escondesse o blog e eu literalmente expliquei o processo de me apaixonar no ano passado. Eu falei sobre ter me apaixonado e eu me apaixonei, violentamente, por duas pessoas. Uma que eu conheço bastante e uma que eu me recuso a conhecer melhor, mesmo que me aproxime um pouco sempre que consigo, por causa do efeito rejuvenescedoramente destruidor que essa pessoa tem sobre mim. Seguindo minha filosofia de vida em 2017, eu pensei bastante sobre tudo, mas me recusei a tentar não-sentir algo. Eu tinha sentimentos por duas pessoas. Caramba, por um período de tempo, eu pensei que fossem três. São sentimentos completamente diferentes - um com um sentimento de conexão inegável e o outro uma atração inconsequente que se tornou mais sério depois que uma coisinha aconteceu - e eu quero sentir os dois. Eu senti muito ano passado. Foi doloroso, perturbador, agonizante, entre várias outras coisas, mas também foi criativamente produtivo. E é por gostar tanto de me sentir como eu me sinto que eu sei com toda plenitude que EU NÃO ESTOU PRONTA PARA UM RELACIONAMENTO. Disse em caps para as pessoas do fundo, mas eu posso repetir pausadamente: EU!!!! NÃO!!! ESTOU!!! PRONTA!!!! PARA!!!! UM!!!! RELACIONAMENTO!!!!! E mesmo que eu tenha prometido a mim mesma que vou ser sincera sobre meus sentimentos com uma das vítimas deles, eu só vou fazer isso porque sei que a pessoa em questão entende esse caos.

"Você deve estar partindo o coração de todos os garotos"
Eu tinha 15 anos (e estava voltando para casa da escola sob o sol escaldante do Rio de Janeiro), quando me dei conta de que se eu tivesse que escolher entre ser feliz no amor ou ter uma carreira bem sucedida, eu escolheria a carreira sem piscar. Muito disso ainda é verdade. Não é como se eu gostasse de ser solteira o tempo todo, mas grande parte do tempo eu não estou nem aí. Eu gosto de mim o suficiente para gostar de estar comigo mesma. Eu estava gritando (mentalmente) comigo sobre isso, dizendo coisas como "O que tem te dado dor de cabeça ultimamente? O que tem te causando insônia? O que te embrulha o estômago? Hein? NÃO É SUA VIDA AMOROSA!! É A SUA CARREIRA!! Imbecil.". Isso é bem a verdade, por diversos fatores. Um deles é que eu estou no controle da minha carreira, mas não no controle da minha vida amorosa (mesmo que eu conte para as pessoas sobre o que eu sinto, eu ainda posso levar um não). Outro deles é que no que diz respeito a parte romântica de mim, eu ainda tenho muito o que descobrir.
Eu sou uma grande defensora de que a metade da laranja é uma invenção do capitalismo para destruir nossas vidas. Minha alma gêmea (e a pessoa do outro lado da minha linha vermelha do destino) é uma atriz da Nickelodeon, que nunca se casaria comigo (mas se ela quiser, eu quero). Quem quer que eu eventualmente acabe namorando, vai encontrar uma pessoa inteira, preenchida e que não precisa ficar com ela, mas quer ficar. Eu não estou buscando alguém, mas eu gosto da ideia de que na trajetória da vida a gente esbarra com pessoas e quer que elas nos acompanhem por um longo espaço de tempo. Eu não me sinto uma pessoa completa ainda - tem muita coisa que eu quero descobrir sobre mim mesma antes de embarcar de cabeça em algo sério. E mesmo que eu não seja completamente oposta à ideia de "só curtir", eu também tenho grandes expectativas e coisas que eu quero, e eu ainda não me sinto frustrada o suficiente para abrir mão do que eu necessito de alguém.

"Oi. As proporções do meu corpo não são representativas de uma garota típica da minha idade."
Agora vamos à segunda parte do post, o que mais me afetou: Os comentários sobre minha aparência. Para isso, eu preciso contar uma história: Eu comecei 2017 decidida a comprar batons. Os motivos eram vários, nenhum deles muito bom. Eu, por muito tempo, andei com pelo menos um gloss na bolsa - mamãe comprava brilho labial para mim o tempo inteiro porque minha boca era muito seca quando eu era criança, e eu costumava ter uma coleção guardada e usava um de cada vez, até acabar. Eventualmente, os glosses acabaram e eu nunca comprei mais. Eu perdi o costume de passar gloss todo dia antes da aula e minha boca ficou bem seca de novo. Outra razão era o fato de que eu ficava colocando batons escuros na minha personagem do Kim Kardashian Hollywood e ela ficava maravilhosa, então eu pensei que talvez eu também ficasse. Além disso, tem uma coisinha que eu estou chamando de Efeito Sartini-Kosarin (E não só porque esses sobrenomes ficam lindos com o hífen - Vocês já viram a Sidney e a Kira de batom vermelho? Elas são o motivo de eu não terminar essa frase). De qualquer forma, eu quis comprar batom e como uma criança de 12 anos com poder aquisitivo foi exatamente o que eu fiz.
Eu usei mais maquiagem em 2017 do que em todos os 19 anos anteriores, isso é certo. Eu nunca fui e nem nunca vou ser - outra coisa que eu falei na terapia semana passada - o tipo de pessoa que acorda mais cedo para fazer maquiagem ou que não sai de casa sem nem que seja o rímel. Mas eu gostei de me maquiar para eventos e tirar uma quantidade absurda de fotos parecendo linda demais para ser verdade. Gostei o suficiente para considerar necessário comprar maquiagem do meu tom de pele. Gostei o suficiente para ter usado maquiagem demais nas últimas semanas (e como eu não comprei o demaquilante, minha pele tá uma bosta). Mas este é o ponto da coisa toda: Eu gostei! Giulia de 19 anos gostou de usar maquiagem oca-sio-nal-fuck-ing-mente e a Giulia de 20 anos deve levar este costume à frente. Mas você não conseguiria levar a Giulia de 16 anos a usar maquiagem além do Natal e forçar isso só me deixava brava.
Haverá um post inteiro sobre minha imagem corporal (no qual eu estou trabalhando há mais de um ano), mas a questão é que entre a maquiagem e minha grande limpeza do guarda-roupa em 2016, que me levou à regra geral de só comprar roupas que me levem a dizer "Que vadia poderosa", eu tive tempo de perceber qual é meu estilo. E o meu estilo é O QUE ME DER VONTADE. Eu tava pensando nisso semana passada: Tem dias em que eu levo um tempo para encontrar uma blusa que eu quero usar e busco minha melhor calça e tem dias em que se eu me olhar no espelho e pensar "Tudo bem, isso parece humano", eu saio de casa do jeito que estiver.
Me sentir confortável nas minhas roupas e na minha pele é importante para cacete para mim, porque meu corpo é um filho da panqueca e muda o tempo inteiro. Se eu ganho peso, meus peitos crescem e todos os meus sutiãs ficam ruins. Se eu perco peso, minhas calças ficam folgados e eu tenho que passar o dia puxando a calça para cima. E se eu tenho um período muito ansioso, eu perco muito peso porque não como e tenho crises. Se eu passo por um período muito depressivo, eu ganho peso porque eu como besteira demais e nem quero sair de casa. Eu estou atualmente com o maior peso que eu já tive na vida e meus bons sutiãs me incomodam, enquanto absolutamente todas as minhas calças jeans estão ruins em algum sentido. Então sim, Brasil, eu vou sair com a minha blusa esquisita e larga demais. E eu vou continuar comprando brusinhas GG enquanto meu corpo é um M forma grande. SUPEREM.

Quando as pessoas realmente acham que você está e arrumando para homens, mas na verdade quando você usa maquiagem, vira a Elena dizendo "Todos esses meninos estavam falando comigo, o que é a última coisa que eu quero".
Eu não sou 100% com a minha aparência o tempo inteiro. Eu tenho dias ruins e dias péssimos, mas eu também sei que tem dias em que eu sou muito gata e, bicho, eu me namoraria pelos dias ruins e pelos dias maravilhosos. No dia em que eu machuquei o tornozelo graças a uma ave de Natal assassina, eu fiquei largada no sofá o dia inteiro parecendo um rato de ressaca. Mas no dia anterior eu tinha saído pela primeira vez desde que eu fizera minha tatuagem e MEU JESUS CRISTO, EU TAVA LINDA. Então eu fiquei fuçando minhas próprias fotos e me autoapreciando, porque se é para me comparar a alguém nos dias péssimos que seja a mim mesma. Meu ponto aqui é, eu não preciso ser linda, menininha e maquiada todos os dias. Eu preciso me sentir confortável (é uma palavra que eu tenho usado muito na terapia) (sim, eu vou falar muito sobre terapia. É efeito colateral de encontrar uma boa terapeuta, aceitem) comigo mesma. E o fato de que eu agora sei um pouco mais de maquiagem do que no ano de 2016 não quer dizer que eu me aperfeiçoei na arte de ser mulher, só que eu mudei um pouquinho.
Agora nós chegamos ao ponto onde eu queria chegar desde o princípio: Eu me senti sobrepujada nos dois eventos de fim de ano. Eu fui para o Natal uma deusa das ruas e para o Ano Novo uma princesa, isso é verdade, mas a forma efusiva como todo mundo focou nisso me deixou meio mal. Todo mundo tinha um comentário na ponta da língua sobre como agora eu uso maquiagem e eu me arrumo. Dava para ver nas entrelinhas o "você costumava ser tão largada". Sabe aquele episódio de One Day at a Time em que a Lydia tenta fazer a Elena usar maquiagem e diz que ela estava se tornando a neta que ela queria ter? (Se você não sabe, o que você está fazendo com a sua vida?) Foi basicamente isso. Eu não "comecei a usar maquiagem" para agradar ninguém. Nem a um garoto (eu não faço coisas para agradar homens, só para destruir a vida deles. Quer dizer, vocês me conhecem????????), nem a ninguém da minha família. Eu sei o quanto algumas mulheres da minha família passaram muito tempo querendo que eu "me arrumasse mais" e "ficasse mais menininha", mas eu nunca faço nada no tempo dos outros. Eu vou para a faculdade parecendo um hamster que levou um choque, enquanto minha irmã sempre foi para a escola de rímel. Ela nunca tentou me mudar porque ela me conhece e sabe que não adiantaria nada. Todas essas outras pessoas que tentaram me mudar me viram fazendo coisas que lembravam a elas delas mesmas e ao invés de me acolher, elas agiram de forma a aumentar o abismo, fazendo disso o ponto principal da conversa. POR QUE?
Em conclusão, minha grande Resolução de Ano Novo Pós-Festas é: Eu sei o meu próprio valor. E eu também sei que estou descobrindo quem eu sou e que talvez eu passe a vida toda fazendo isso. Eu só preciso lembrar a mim mesma que tudo bem.
G.