Era uma vez uma garotinha que adorava aulas de história. Talvez não pela mesma razão que a maioria das pessoas gostava - existia uma espécie de schadenfreude na força com a qual ela absorvia informações sobre as pessoas que morriam de pragas, os detalhes sobre as guerras e sobre todos os erros que a humanidade cometeu até descobrir qual era a decisão certa a ser tomada. De uma forma levemente cruel, ela se sentia feliz que todas as coisas que aconteceram na história do mundo tivessem acontecido porque ela acreditava que no mundo em que ela vivia as decisões certas já tinham sido tomada, a humanidade era evoluída e as lutas não precisavam mais ser lutadas. Ela é agora velha o suficiente para saber o tipo de privilégio que a fazia pensar dessa forma. E ela decididamente não acredita mais que o mundo aprendeu com os erros antigos. Ela é mais propensa acreditar em um ciclo de autodestruição do que em uma linha contínua de evolução. E nada no mundo foi mais responsável por sua nova linha de pensamentos do que uma série de acontecimentos que podem ser resumidos em quatro números: 2016.
Enquanto o mundo obviamente não acabou (infelizmente), definitivamente a percepção do mundo como eu acreditava que ele era chegou ao fim em algum momento deste ano. (Ei! Giulia de 9/11/13/15/17 anos! A vida não vai fazer mais sentido depois dos 18 anos! Vai fazer menos!). 2016 foi um ano tão insano que você deve ter ouvido pelo menos alguma vez alguém fazendo uma referência a distopias (dizem que a única diferença entre 2016 e um livro distópico é que nas distopias não tem ninguém gritando "ISSO PARECE UMA DISTOPIA"), fazendo comparações com filmes apocalípticos e pós-apocalípticos ou simplesmente pedindo que um dos benditos meteoros que tinham sido previstos por várias seitas simplesmente caíssem aqui de uma vez. Vamos enfrentar, nós estamos em um mundo pós-apocalíptico. Todo mundo tem várias opiniões sobre como salvar nosso pequeno e decadente planeta, mas a verdade é que ninguém quer simplesmente aceitar o fato de que estamos condenados. Nós condenamos a nós mesmos.
Ok, essa decididamente não foi uma forma leve de começar a coluna de férias do QaMdE, mas eu quero ser sincera aqui. Eu não perdi completamente a fé na beleza do mundo ou a vontade de viver, mas eu decididamente perdi muito da esperança. Muito de 2016 foi tentar descobrir como eu deveria me sentir. Este ano inteiro foi assustador pra caramba. Eu consegui aprender a confiar mais em mim mesma e ter certeza do que eu quero da vida, mas me tornei menos confiante na capacidade do mundo de continuar existindo quando meus sonhos se realizarem. Parece bobo fazer planos de vida e ter expectativas na atual conjectura do planeta Terra. Mas, por outro lado, muita coisa incrível aconteceu e eu preciso ser justa sobre isso. Na minha vida pessoal foi um dos melhores anos - possivelmente o melhor ano da década -, mas foi um ano terrível em vários outros sentidos. Eu sigo sem saber como será o dia de amanhã e apenas posso desejar que o amanhã exista e seja tudo que eu quero hoje. E o Diário de Bordo 6 será sobre isso, porque é o que significa estar em um mundo pós-apocalíptico: Viver cada dia tentando se sentir feliz por estar viva ao mesmo tempo que você precisa encontrar forças para lutar por um amanhã que não tem certeza se existirá. Agora vamos a um gif que resume todo ano de 2016 para eu finalmente poder falar sobre como tem sido minha vida no último mês e meio.



Na última vez em que eu falei sobre faculdade foi em um superesperançoso post sobre o terceiro semestre. Passei o recesso trabalhando nas edições de Mais Uma Vez e quando as aulas voltaram, dia 10 de outubro, continuei fazendo isso. O quarto semestre, como esperado, era o semestre mais cheio e mais confuso de todos e mesmo só tendo duas semanas de aula, eu nem tive tempo de respirar, então não passei perto de ter tempo de escrever sobre tudo que estava acontecendo. Eu estava esperando me acostumar com a rotina para conseguir encaixar um post do Procrastinando em Classe na agenda conturbada, mas antes que eu pudesse fazer isso a universidade foi ocupada e eu me afundei na escrita, postergando falar sobre a faculdade até depois do NaNoWriMo. Como eu só tive duas semanas de aula pode parecer que não tinha muita coisa para falar sobre o quarto semestre, mas na verdade aquelas duas semanas pareceram durar um semestre inteiro. A segunda semana em particular foi a semana mais longa da minha vida (E sim, de novo, eu sei que disse isso de muitas semanas).
Deixa eu explicar a situação completa: Este semestre eu tenho 7 disciplinas (porque eu deixei de pegar uma): Semiótica, Comunicação e Legislação, Comunicação e Sociedade, Comunicação e Realidade Regional, Produção em Comunicação, Oficina de Jornalismo Impresso II e Metodologia da Pesquisa Científica, sendo esta última uma disciplina de primeiro semestre que eu abandonei e vou pegar em outro curso, no turno da tarde. Todas as outras disciplinas são regulares e em horário normal (turno matutino) e serão ministradas sem muitos problemas, exceto por Semiótica. Não é problema com a professora, muito pelo contrário. A questão é que ela está grávida e entra de licença no mês que vem, o que significa que a gente precisava terminar a disciplina até dezembro, ou não teria outro professor para ministrá-la durante o resto do semestre (que originalmente duraria até o fim de março de 2017). Seria puxado, mas ia funcionar de acordo com um calendário cheio de aulas no sábado. A gente entrou no semestre sabendo que nos primeiros dois meses era melhor focar em Semiótica que seria bem puxada e não se estressar tanto com as outras disciplinas já que elas teriam mais tempo. O problema foi que assim que colocamos os dois pés no semestre, as assembleias do sindicato dos professores já indicavam greve. Não eram apenas rumores, era mais certo do que era no primeiro semestre.
Então nós precisamos remontar o calendário inteirinho para conseguir as quinze aulas necessárias antes do período provável da greve. Isso resultou em mais que aulas no sábado, mas também aulas à noite e em alguns outros dias da semana, no horário de outros professores. Assim, na segunda semana do semestre, a gente teve aula de semiótica quase todos os dias. Na quarta, eu tive que passar o dia inteiro na faculdade porque era o dia da minha aula à tarde, que acabou não acontecendo porque o professor não apareceu. Todo mundo na turma estava exausto e a professora era sábia em dizer que ainda bem que a gente se amava porque se a minha turma não fosse a mais de boas e cheia de amor do universo, a gente teria se matado no segundo dia daquilo. O ritmo da semana foi muito maluco, mas de uma forma boa. Aqui vai outra coisa sobre 2016: Eu aprendi a diferenciar cansaço bom de cansaço ruim. Cansaço bom é aquele que você sente sabendo que passou o dia colhendo frutos do seu esforço. Cansaço ruim é aquele que te deixa com vontade de desaparecer e de desistir de tudo. Eu senti muito dos dois durante o ano e mesmo que o cansaço do fim daquela segunda semana de semestre não tenha sido tão bom quanto o cansaço depois de passar treze horas seguidas editando Mais Uma Vez, eu sabia que era um cansaço bom. E aquilo era prova de que mesmo que o semestre inteiro fosse me exaurir tanto quanto aquelas duas semanas, ele não seria tão ruim quanto o segundo semestre. Porque eu gostava de tudo que estava aprendendo e estava realmente aprendendo.
Na sexta-feira da segunda semana de aulas - 21 de outubro -, houve uma convocatória de assembleia dos alunos para decidir várias coisas, entre elas votar a ocupação da universidade. Eu não sei se eu disse aqui, mas apesar de eu sempre ficar com um pé atrás sobre as greves da Uesb (é fácil ficar quando você fica percebendo que tem greve todo ano, ok? Desculpa), eu apoiaria uma ocupação completamente. Naquele dia a maioria das pessoas com quem eu conversei não acreditava que a ocupação fosse ser apoiada porque as coisas estavam bem divididas e confusas. Mas ela foi! E começou no mesmo dia, durando até agora. Nós não tivemos como ter aula depois disso e não tivemos como terminar a disciplina de semiótica, que tem seu destino indefinido até o presente momento, porque a gente não tem certeza de nada da vida. Mas eu mantive minha palavra, apoio completamente a ocupação. Eu fui lá duas vezes, levando minha irmã lá em ambas e ajudando na cozinha em uma delas (tudo sobre essa frase é estranho). E não se enganem, a única desculpa lógica que eu poderia dar para não ter ido mais vezes é o fato de eu morar sozinha com a minha irmã e não poder deixar ela em casa sozinha. Qualquer outra coisa que eu disser é uma desculpa pelo fato de eu ser uma vaca privilégiada e enrolada. Ok, eu realmente não tive tempo, mas eu não posso dizer que priorizei ir lá também. É um mundo pós-apocalíptico!! (Não que alguém esteja de perguntando, mas sim, os professores entraram em greve também.).

Este gif sempre vai ser relevante. Especialmente neste post.
Tem esse negócio que meu corpo passou o ano inteiro fazendo: Sempre que ele processava o significado da frase "não vai ter aula amanhã" ele resolvia que era dia de ficar acordado até as 5h ou pelo menos até as 3h e só acordar depois de meio dia no dia seguinte. Durante o recesso entre os dois semestres e assim que a ocupação e começou, isso virou o novo normal. Meu corpo simplesmente resolveu que agora funciona das 13h às 3h da manhã, o que é um saco porque não é o mesmo horário que as outras pessoas funcionam. Eu já fiz de tudo para tentar arrumar esse horário, mas simplesmente não funciona. Se eu tento dormir cedo: insônia. (Eu nunca tinha tido insônia real antes de fazer 18 anos. Depois, eu tive os piores casos de insônia possíveis.). Se eu tento acordar cedo: Eu acordo às 13h, sem me lembrar de como eu desliguei os sete despertadores que tinha ativado. Meu corpo tem vontade própria. E sabe qual é o pior? Eu sou longa dormidora - preciso de entre nove e dez horas de sono por noite para me sentir descansada (eu sei disso porque minha psiquiatra também é médica do sono e eu ouço sobre quando é importante dormir bem há quase três anos) - e eu também tenho gastrite nervosa o que me fez descobrir rapidinho que eu preciso de pelo menos seis horas de sono se não quiser vomitar literalmente tudo que encostar no meu estômago. Quando eu estou tendo aulas eu passo a semana com entre seis horas e meia e sete horas de sono e tento recuperar com dez horas de sono no sábado (se eu tiver sorte) e no domingo. Quando eu não tenho aulas, meu corpo fica tipo: O CONTROLE É MEU, O PODER É MEU, AGORA VOCÊ É MINHA VADIA. E assim, eu acabei me tornando escrava do meu próprio sono e desde outubro meu horário de funcionamento é das 13h às 3h.
Eu até acordo antes disso quando tenho algum compromisso (se meu corpo decidir que esse compromisso vale a pena, porque em alguns dias eu simplesmente durmo por cima do horário do compromisso mesmo e depois tenho que me virar para lidar com as consequências), ou quando acordo cheia de dor em alguma parte do corpo (o que é frequente porque eu tenho problema em tudo), mas isso não é exatamente bom. Quinta-feira mesmo eu acordei às 10h30 e menos de uma hora depois estava passando mal na frente do ventilador. O resultado é que eu tenho começado a não gostar de dormir, porque meu próprio sono está dominando a minha vida. Por outro lado, isso tudo só confirmou minha teoria de que eu não sirvo para ter um trabalho fixo, que envolva rotina e etc. Eu funciono das 3h às 13h, mas eu funciono. Eu escrevi outro livro em novembro com essa rotina, pelo amor de Deus. Eu odeio o fato de que todo mundo vai dormir quando eu ainda tenho energia para construir um castelo e odeio o fato de acordar quando todo mundo já teve três refeições, mas ainda assim eu acordo bem e vou dormir bem. Eu continuo uma merda em gerenciamento de tempo e vou demorar para ter alta na psiquiatra, mas eu gosto de fazer as coisas no meu tempo. Ou talvez eu só esteja dizendo isso porque quero que meu corpo ouça e resolva começar a funcionar de outra forma.

Não questionem minhas escolhas de gif. Vão assistir The Loud House.
(Eu queria colocar um gif com o tema "pós-apocalíptico" neste post, mas uma busca por esse termo no Google Imagens me deixou com medo)
Depois de ter lido isso tudo sobre as aulas e sobre minha rotina depois que a greve começou (e de ter acompanhado os Diários Artísticos do NaNoWriMo), acho que dá para entender porque mesmo que eu não esteja tendo aulas há mais de um mês, eu só comecei a me sentir de férias depois que novembro acabou. Quando dia 1º de dezembro chegou, meu notebook estava no conserto (aka eu não podia escrever o post que deveria escrever), eu tinha descansado e não tinha nem dinheiro para sair de casa se quisesse. Em resumo: Eu não tinha nada para fazer. Era a primeira vez desde setembro que eu não tinha que me sentar na frente do computador e simplesmente me forçar a ser produtiva. Então, meu cérebro teve a única reação compreensível para uma situação como essas: Gritou AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA por horas consecutivas. Eu não conseguia parar quieta. Naquele dia eu terminei duas séries, ouvi mais da metade de um audiboook, organizei a minha vida pelo mês a dentro, completei um item da lista de 101 coisas em 1001 dias e adiantei bastante outro item. Eu precisava ser produtiva e o mais produtiva possível. Virou uma necessidade constante estar sempre fazendo algo, adiantando algo e no fim do dia o que eu sinto é um cansaço do tipo bom. Meu ascendente em Virgem está tomando controle, gente. E está tomando controle antes do retorno de Saturno. (Quer dizer, meu quarto ainda é uma bagunça e eu ainda preciso limpar ele com mais frequência do que realmente limpo, mas sabe este post? Foi escrito dois dias atrás. O que só acontece quando minha necessidade de ser produtiva está muito em alta.).
Tudo isso dito acho que vocês podem ter uma noção de quão maluco será este Diário de Bordo. Eu prometo a vocês viagens, festas, momentos blogueirinha com looks e decoração e também muito, muito, muito alarmismo, desabafos e momentos em que vocês irão se perguntar porque diabos ainda leem este blog. Vejo vocês no começo da semana que vem, com um post sobre um item da lista de 101 coisas em 1001 dias que teve uma reviravolta ontem à noite. SE PREPAREM.
G.