Sim, o álbum saiu 5 meses atrás. Mas o CD que eu comprei foi cancelado depois de um atraso de algumas semanas, então eu estou EM DIA com essa resenha. Pra ser justa, antes do mês passado minha desculpa era que o fan video não tinha saído ainda (eles me convidaram em junho e o vídeo só saiu em outubro), então eu estava em dia com a minha resenha. Depois veio o live dream (o evento virtual que eles fizeram em forma de show), então eu estava em dia com a minha resenha. A verdade é que se eu quisesse resenhar esse álbum em 2022, ninguém tinha nada a ver com isso porque o tempo não significa mais nada. Eu tenho vários outros posts que eu tô há mais de um ano tentando postar e ainda pretendo postar, então: eu estou em dia com a minha resenha.

Cena do clipe de 3 small words

SUPERBLOOM é o terceiro e mais longo álbum de estúdio da banda MisterWives, agora sob uma nova gravadora, novas bases e com novos temas na música. SUPERBLOOM também é o álbum mais deliciosamente doloroso que eu já ouvi na minha vida. Antes do show que aconteceu no último dia 12, eu devo ter ouvido o álbum na ordem só umas duas ou três vezes porque a linha narrativa que ele segue pegava o meu coração e partia ele em pedacinhos antes que eu tivesse tempo de me recuperar completamente. O show me fez ver as coisas de outra forma porque por mais que seja difícil distanciar a história do álbum do álbum em si, um projeto musical criado a partir de um sentimento tão gutural e poderoso precisa ser apreciado da forma como a artista pretendeu que fosse. Dividido em três atos, SUPERBLOOM é a história da morte e renascimento, florescido, de um coração partido.


O ato I começa com o final. Quando Mandy Lee disse "all good things come to an end / but it's not the end"(todas as coisas boas chegam a um final / mas não é o final) ainda em 2019 com o lançamento do EP mini bloom, eu senti duas coisas: medo e confusão. Eu amei a música, é claro e esteve nas minhas mais ouvidas de 2019, mas entender a qual final a Mandy estava se referindo talvez fosse parte importante de amar a música da forma como eu amo hoje. Eu também fiquei com medo do que significava. A gente tá falando da mesma pessoa que escreveu Coffins, ok? Podia significar tanta coisa. Hoje, sabendo do que significa, eu fico pensando em quão incrivelmente perfeito foi colocar essa música como a primeira do álbum. It's not the end.

Enquanto isso, ghost, começa a te contar a história que levou ao final. A suave nostalgia de ver um relacionamento e sentimentos se dissolverem diante dos seus olhos até se tornarem um fantasma do que foram um dia. Um fantasma que vai te perseguir mesmo quando as coisas terminarem e um eco alto do que existiu um dia continuar. "I have tried, I have tried to erase you / But that's a crime, that's a crime I just can't do" (eu tentei, eu tentei apagar você. Mas isso é um crime, isso é um crime que eu não posso cometer). Alguns diriam que quanto mais longa a dor, pior ela é, por mais que seja só uma linha contínua sem o ponto de impacto.

whywhywhy foi o primeiro single do álbum e uma das primeiras músicas introduzidas aos fãs em tour, bem antes do álbum ficar pronto. O hino das pessoas que se sentem forçadas a parecer felizes mesmo quando não estão e só quando estão sozinhas revelam as facetas de sua tristeza, whywhywhy me acompanhou pela maior parte de 2019 e 2020, facilmente. Todo mundo diz OBRIGADA, WHYWHYWHY.

Discutivelmente uma das melhores músicas do ano (de acordo com o gosto perfeito da minha melhor amiga e outros amigos próximos), alone continua a história da casca vazia onde ficava aquele que um dia você amou. Eu poderia tentar explicar a música, mas eu sinto que o trecho "Can't believe how far we fell / I'm not feeling it but I'm keep saying that I'm doin' well / And I'm so done with lying / Done with solo crying / I'm so done with trying / Alone" (Não acredito quão fundo nós caímos / Eu não sinto isso, mas fico dizendo que eu estou bem / E eu não vou mais mentir / Não vou mais chorar sozinha / Eu não aguento mais tentar / Sozinha) deixa claro o tipo de inferno que você pode enfrentar ouvindo.

stories leva a história ao climax com as tentativas frustradas de continuar com alguém até a saída definitiva. Também é prova do liricismo perfeito que faz de Amanda Lee Duffy uma das únicas compositoras que estão marcadas na minha pele, através de tatuagens, para sempre. Essa mulher escreveu o trecho

Little lies
Turning into big cries
We could take the whole ocean
And fill it up a hundred times 
But the mind's a crazy thing
It believes what it wants to
Standing in the cold water
Like it isn't turning us blue

 

Pequenas mentiras
Transformam-se em grandes gritos
Nós poderíamos pegar o oceano inteiro
E enchê-lo cem vezes
Mas a mente é uma coisa louca
Acredita no que quiser
Estamos em pé na água fria

Como se ela não estivesse nos deixando azuis


E queria que a gente ficasse bem? Eu nunca mais me senti inteira depois disso. E nunca mais vou me sentir.

Fechando o primeiro ato, chega valentine's day pronta para pegar os pedaços que sobraram do seu coração e enfiar no seu... peito de novo. A dor que essa música me causa é especialmente particular, por motivos bem pessoais que eu não quero ter que explicar. Mas nada parte meu coração do jeito que ela parte. E eu preciso que vocês entendam que eu sei sobre o que é Loving You Silently. Então, você pensaria que música nenhuma tem a capacidade de me destruir. Mas valentine's day tem. 


Cena do clipe de decide to be happy

A raiva não é um dos estágios do luto sem motivo. Diga oi para o segundo ato com over the rainbow a música perfeita para quem deixou de acreditar no amor depois de valentine's day (eu, eu, escolhe eu. EU AQUI). Só quem já teve o coração muito partido sabe a vontade instintiva de nunca mais querer sentir de novo, independente de qual seja o sentimento, descrita em "I'm over the rainbow / Drifting in the snow / Please keep me ice cold / Keep me hollow" (Eu estou além do arco-íris / À deriva na neve / Por favor me mantenha gelada / Me mantenha oca).

it's my turn toca como um passo mais perto da cura com a lembrança de que você merece surtar um pouquinho quando seu coração é jogado de um prédio de 19 andares. Seria uma música de superação, se não fosse tão explícita em falar sobre como a tentativa de superar algo não é necessariamente a cura. Sequer sentir nada é a cura. A cura é um álbum de 19 faixas que represente seu sentimento tão bem quanto esse refrão. 

Now it's my turn
To be the crazy one
To finally come undone
To go and let the house just burn
To mess the system up
So I'ma raise a cup
And celebrate until I learn
That you can chase the sun
That you can fake the fun
And all the poison makes it worse
But it's my turn


Agora é minha vez

De ser a louca

Para finalmente desabrochar

Para deixar a casa queimar

Para bagunçar o sistema

Então eu vou levantar um copo

E comemorar até eu aprender

Que você pode perseguir o sol

Que você pode fingir a diversão

Mas todo o veneno torna isso pior

Mas é a minha vez

find my way home é outro clássico do EP que chegou no álbum para coroar o ato II gloriosamente com o quarto estágio do luto: a depressão. Se perder no meio da perda e da tristeza é tão normal e tão confuso ao mesmo tempo. Se sentir perdido de si mesmo e do lugar interno onde você se sente seguro é um sentimento que eu conheci muito bem este ano e eu sei que não sou a única. Talvez seja essa uma das coisas que fazem desse álbum tão lindo. Todas os sentimentos foram sentidos este ano, de uma forma ou de outra.

7-2, a minha preferida no momento (mas não a minha preferida da vida toda porque eu não consigo decidir em uma música só. O álbum é perfeito. Eu não posso fazer nada sobre isso), te lembra das âncoras que te mantém existindo quando nada mais na vida faz sentido. Vocês sabem o quanto âncoras são importantes para mim, eu nem preciso dizer. "'Cause I've won hands over again with the least favored pair of cards / seven-two, I'll always love you 'cause you got me so damn far" (Porque eu ganhei de novo tendo como mão a dupla menos preferida de cartas / sete-dois, eu sempre vou te amar porque você me levou tão longe) replica perfeitamente o sentimento que eu tenho em relação às coisas que me carregam de volta até que eu me sinta eu mesma.

E terminando o ato II, chega rock bottom. Lançada como single no alto da quarentena este ano, a música foi trilha sonora de várias crises aqui em casa este ano e sei que também foi na casa de várias outras pessoas. Muita gente achou que tava saindo do fundo do poço em determinados momentos no ano, mas no fim era só um buraco no telhado que resultou em goteira e agora o poço está alagando. Ainda assim, é importante reconhecer sua própria habilidade de superar certos momentos do ano.

Cena do fan video de SUPERBLOOM. Olha eu e o Etienne (meu gato) lá em cima.

O coração renasce no ato III com a chegada de coming up for air, a música perfeita pra quem já passou por coisas demais sendo jovem demais e finalmente resolveu que está cansado de se sentir sufocado na rotina da vida e na forma como o tempo passa (eu de novo). 

Mas as primeiras respirações são sempre as mais difíceis e é difícil se desligar do que o que seu corpo conhece, mesmo quando o que ele conhece é só tristeza, por isso, oxygen vem relembrar que deixar todos os seus sentimentos dormentes não é superação e que nem tudo que te mantém viva é bom para você.

Porque todo álbum sobre sentimentos precisa de uma boa balada, running in place vem cobrir essa área com um piano emocional em uma música sobre sentir que todo mundo está seguindo em frente enquanto você permanece no mesmo lugar. 

E é então que decide to be happy chega para lembrar que muitas vezes a felicidade é uma escolha e condicionar seu corpo a sentir felicidade pode ser o caminho perfeito para que a felicidade venha naturalmente em outros momentos.

E ela chega com love me true. Alguém ia me avisar que é possível amar de novo depois de um relacionamento que teve muito sentimento bom, mas acabou como todas as coisas acabam? Alguém pensou em me informar sobre a qualidade do amor de se renovar dentro de você mesmo depois de você ser magoada? Ou vocês queriam que  eu descobrisse isso ouvindo o álbum da minha banda preferida eu mesma? Porque isso também é válido.

3 small words continua a imagem de pombinhos apaixonados sendo uma das minhas músicas românticas preferidas de 2020. Mandy Lee?? Uma das melhores liricistas da nossa geração? Sim, ela mesma. Quando ela diz "And I know I'm going slow / Can I dive back into waters that I barely survived?" (E eu sei que eu estou indo devagar / Posso mergulhar nas águas que quase me mataram?) fechando perfeitamente a história contada pelo álbum? Mas também "Right when I / was comfortable being lonely" (E justamente quando eu/ estava me sentindo confortável me sentindo sozinha) fazendo referência a No Need For Dreaming? Eu olhei pra ela e disse: ARTISTA.

E falando em artista, muse é pra pessoas cuja sexualidade é artistas ou pessoas criativas que você simplesmente não consegue lidar com o tamanho do talento (eu diria EUUU, mas já me expus demais nessa resenha). Aquelas pessoas que você sonha que escrevam uma música sobre você um dia, sabe? Beleza, talvez essa última parte seja só eu.

SUPERBLOOM encerra o álbum sendo a música perfeita sobre a florescer na adversidade. Mandy escreveu essa música depois de conhecer os campos de papoulas que florescem no meio do deserto na Califórnia, um evento que aconteceu alguns meses antes da minha visita ao estado ano passado. É uma das minhas músicas preferidas na história e eu previ que o álbum teria esse nome mais de um ano antes que fosse anunciado porque a Mandy só não é pior que a Kira com vazar essas coisas. Inclusive, SUPERBLOOM foi escrita em parceria com Cal Shapiro. Sim, o Cal Shapiro de Raincoat que também deu a Kira o primeiro crédito dela como compositora em uma música que ela não tem vocais (So Cal). O mesmo Cal Shapiro que se não introduzir minhas compositoras preferidas uma à outra dentro do próximo ano, será perseguido com uma faca por mim.


Como toda a história do álbum foi transferida para o show ao vivo? De uma forma inacreditável. Eu sou fã de MisterWives há quase 6 anos (eu arredondei pra 6 quando a gente se conheceu) e durante esse tempo, eu assisti muitos shows através de lives (só quem assistiu o Lollapalooza Chicago 2015 sabe). Foi quase toda a minha personalidade durante as três primeiras tours da banda como headliner, antes deles começarem a tocar em arenas e o acesso das câmeras ser mais limitado. Uma grande parte de shows ao vivo é a interação com os fãs e a diversão que a banda toda tem no palco. A forma que a banda encontrou de fazer com que a gente sentisse falta disso foi transformar a história do álbum em uma experiência cinematográfica.

Usando de mais de um palco, dançarinas, diversos figurinos e transições perfeitas a banda conseguiu mais do que performar o álbum em uma live, eles conseguiram entrar nas nossas casas e comer o nosso... espírito. Foi inacreditável. De chorar durante valentine's day até gritar berrar com muse e definitivamente irritar minha vizinha de cima infinitamente (um bônus), eu ainda não acredito que tive a chance de assistir a esse show e conhecer a banda.

Banda que me lembrou porque eu os amo tanto no meet & greet com direito a Will Hehir gritando comigo pra falar mais alto e Michael Murphy me agradecendo por todo tempo de apoio. Eu só chorei um pouquinho e fiquei em choque pelo resto do dia. Facilmente o melhor dia do ano.

E é isso, isso é tudo que você precisa saber sobre o álbum e o show ao vivo.
Espero que vocês ouçam, se não já tiverem ouvido, e que aproveitem muito. E se você sabe inglês, gosta das minhas resenhas e tem 1 dólar sobrando, se inscreva no Set List, meu blog musical no Patreon e meu único projeto para 2020 que deu certo. Vocês saberão mais no próximo post, quando quer que ele saia.
Até a próxima,
G.